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CAPÍTULO CINCO



Na manhã seguinte, eu já estava à espera de Jillian quando ela chegou ao escritório. Como a minha chefe havia pedido, eu enviara uma lista de perguntas e tarefas que precisavam da sua aprovação ou opinião antes do casamento. Tínhamos muito a discutir, mas ter uma ideia melhor de quando ela voltaria parecia a pendência mais urgente.
– Uau! Você chegou cedo – Jillian exclamou, tirando o casaco e desenrolando o cachecol.
Arqueei uma sobrancelha.
– É. Minha chefe está muito ocupada… Ela vai casar neste fim de semana, sabe? Achei melhor agarrá-la enquanto posso.
Ela suspirou e desmoronou na cadeira.
– Tenho bancado a noiva paranoica?
– Está mais pra chefe fantasma.
– Cuidado, Xiao. Eu detestaria ter de castigar o meu padrinho por indisciplina – ela advertiu com um brilho no olhar, porém com dureza suficiente para me fazer entender que eu estava indo longe demais.
– Eu li sua lista. É longa.

– É. E eu dou conta de praticamente tudo que está lá. Só preciso saber quais são seus planos e quais são suas expectativas em relação a mim para que eu possa administrar as coisas.
–  Eu sei, Zhan, me desculpa por andar meio ausente nos últimos dias. Quem diria que um casamento dá tanto trabalho? – Ela sorri. – Não vejo a hora de ver você passando por tudo isso. É mais do que uma pessoa consegue lidar. – Ela pegou a lista e uma caneta.
– Não vê a hora de me ver passando por tudo isso? – perguntei, a respiração ligeiramente ofegante.
– Claro. Não acha que você e Yibo estão caminhando pra isso? – ela indagou, colocando os óculos e ajeitando-os no rosto para poder me observar. Descarada.
– Hum, não acho, bem, quer dizer, como é que eu vou saber, Jillian? – gaguejei, sentindo o sangue ferver nas bochechas ao pensar no assunto. Aquela história de brincar de casinha, de novo.
– Nossa, toquei num ponto fraco? – ela perguntou, o olhar cada vez mais brilhante. – Não acha que Yibo é do tipo pra casar?
– Eu não… quer dizer… ele nunca teve uma relação que durou mais do que a nossa; acho que não precisamos forçar a barra, e, além disso, as coisas estão bem do jeito que estão… e eu não sei se eu… quer dizer… e se eu não quiser…
– Relaxa, Zhan. – Ela sorriu, satisfeita por ter me desconcertado.

– Ok, não foi por isso que vim falar com você. Precisamos repassar a lista e apagar alguns incêndios, e eu preciso saber quando você volta da lua de mel, mulher!
Yibo e eu casando… Pfff!
– Não sei direito – Jillian respondeu com a maior calma do mundo.
– Espera. Como assim?
– Não sabemos ao certo quando vamos voltar. Quer cuidar da minha casa também?
– Cuidar da sua casa? – questionei, perplexo.
Ela suspirou e recostou na cadeira.
–  A verdade, Xiao Zhan, é que preciso de um tempo. Amo meu trabalho, você sabe o quanto esse negócio é importante pra mim, e tenho muito orgulho de ter conquistado o meu lugar no ramo. Mas preciso de um tempo, e Benjamin e eu só queremos viajar por aí. Faz algum sentido?
Fazia todo o sentido. Um homem lindo com a sua recém-esposa diva e com todo aquele dinheiro brotando de títulos, de fundos de investimento ou de sei lá onde as pessoas abastadas guardam a grana delas. Os dois queriam conhecer o mundo enquanto possuíam beleza e juventude suficientes para fazer a coisa do jeito certo.
Eu faria exatamente o mesmo se tivesse oportunidade. Férias com Yibo por tempo indeterminado? Passeio de gôndola em Veneza? Cantarolar em Saint Moritz? Trepar em Frankfurt?
Mas eu não podia me dar ao luxo de pensar assim. Eu tinha de pensar na pessoa que ficaria para trás, na pessoa que seguraria o rojão. Como a Jillian Designs poderia funcionar sem Jillian?
– Já conversei com o meu contador, e ele vai te ajudar em qualquer questão financeira que surgir. E eu não vou me esconder numa caverna. Vamos nos falar toda semana. Vou te ajudar com o que você precisar. Você vai ver, tudo vai correr bem – Jillian assegurou; na sua expressão, havia uma confiança em mim que eu simplesmente não compartilhava.
Será que eu ia conseguir? Jillian parecia acreditar que sim. Além disso, eu teria um estagiário. Eu não queria dizer não; eu sabia que Jillian contava comigo.
Tudo isso era demais para mim.
Mas também era uma oportunidade. Daquelas que provavelmente jamais voltariam a acontecer.

Amor entre as paredes ( livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora