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CAPÍTULO QUINZE

Mensagem de Sophia para Mimi:
S: Ñ acredito q vc ainda tá brava…
M: Ñ acredito q vc ñ acredita q eu tô brava.
S: Desculpa! De novo! Quantas vezes mais vou ter q pedir desculpas?
M: Mais uma tá bom.
S: Ok. Me. Desculpa. Eu. Acabei. Com. Sua. Festa. De. Natal.
M: Desculpada. Pode me contar o q foi aquilo?
S: Eu ñ sei.
M: Ah, mas eu sei, e eu sei q vc sabe. Só quero ouvir de Vc.
S: Vou retirar meu pedido de desculpas…
M: Ñ pode. E o professor, como está?
S: Ñ provoca.
M: Rsrsrsrsrs
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Mensagem de Yibo para Neil:
Y: Quer pedalar amanhã?
N: Ou dar as mãos e pular da ponte?
Y: Cara…
N: Não posso. Trabalho. Falando nisso, faz tempo q vc tá em casa, hein? Quando vai voltar a  trampar?
Y: Tirei umas férias.
N: Sério, quando vai voltar a trabalhar?
Y: Sério, estou dando um tempo.
N: Ah.
Y: Ah o quê?
N: Nada. Enfim, amanhã ñ dá. Q tal no fim de semana?
Y: Fechado. Vc chama o imbecil ou eu chamo?
N: Eu chamo. Flw, cuzão.
S: Flw

Mensagem de Mimi para Xiao Zhan:
M: Café sábado de manhã?
Z: Só se for cedinho. Preciso trabalhar depois.
M: 7h30?
Z: Perfeito.
M: Porra! Eu tava brincando, Xiao Zhan. Que horas então? 9?
Z: Tenho reunião à tarde. Te contei que peguei um projeto novo em Sausalito? Uma pessoa passou pelo Claremont, gostou do que viu, apareceu no escritório e TARÃ, cá estou eu trabalhando numa decoração.
M: Uau! Migo, assim vc vai ganhar o prêmio designer do ano!
Z: Vou mesmo! Ok. Café da manhã. Que tal 8h15?
M: Vixi. Tá. Vou ver se consigo tirar a Soph da cama tão cedo. Ela ainda tá me devendo por causa da festa.
Z: Tá mesmo. Desperdiçar comida nunca é legal.
M: Aqueles dois são ridículos! Ryan disse que o Neil tentou ligar pra ela de novo, mas ela ñ dá o braço a torcer.
Z: Talvez seja hr de esquecer isso. Qual a chance de três melhores amigos ômegas e três melhores amigos alfas se conhecerem, se comerem e viverem felizes pra sempre?
M: Né? História digna de novela. Dois de três ñ é nada mau. E eu ainda acho que eles vão voltar…
Z: Mimi coração mole.
M: Ei, vc e o Yibo topam assistir um filme no fds? Ou ele vai estar viajando?
Z: Ah, não, ele vai estar aqui. Ele vai estar aqui até demais.
M: ???
Z: Esquece. Vamos ver. Preciso voltar pro trabalho.
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Trecho de um e-mail de Jillian para Xiao Zhan:
… Então, parece que a gente vai para a Espanha antes do previsto. Uma amiga dos tempos da faculdade está reformando uma propriedade perto de Nerja. Não foi lá que você e o Yibo ficaram? E como ele está? Benjamin disse que ele não anda viajando muito, é verdade?
Falei com o contador. Ele vai me mandar os documentos para a declaração do imposto de renda. Parece que você tomou conta de tudo divinamente. Ah, tem uma coisa, Zhan. Você precisa detalhar as refeições quando estiver nos clientes. Precisamos da nota fiscal, não só do cupom. Posso pedir para o contador te mostrar, é só me falar.
Ouvi dizer que o seu Natal foi interessante. Viena é encantadora! Que cidade maravilhosa para passar as festas de fim de ano.
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Li o e- mail uma vez mais e então recordei a conversa que tivéramos pouco antes do Natal. Jillian me dissera que eles passariam as festas em Munique, estou certo disso. Ela inclusive tinha comentado sobre uns amigos de Benjamin. E agora ela estava dizendo que eles foram para Viena?
Alguma coisa em Viena não estava cheirando bem.
Guardei o celular e caminhei até o hotel. Eu teria uma reunião com a assistente de Camden para definir alguns detalhes da iluminação do bar inferior. Para aproveitar a luz natural – e ciente de que algumas manhãs podiam ser muito nebulosas naquela região –, eu tinha desenhado um espaço que poderia ser usado tanto à tarde como local para tomar um drinque ou realizar um encontro de negócios como para algo infinitamente mais atraente à noite.
Tentei me concentrar na reunião de logo mais, porém não conseguia me livrar da sensação de que alguma coisa estava acontecendo. No início da viagem, Jillian mantivera um contato quase constante – tão constante quanto aceitável para uma recém-casada. No entanto, conforme as semanas se passaram, transformando-se em meses, os e- mails e as ligações foram diminuindo significativamente. No começo, eu estava tão ocupado que não percebi os telefonemas começando a rarear. Com os preparativos para as festas de fim de ano a todo vapor e a viagem com Yibo para o reencontro, eu tinha assumido um tal controle das coisas que não precisava das ligações, é verdade, mas a questão não era essa.
Quando ela iria voltar? Parecia não haver previsão. Eu precisava encostá-la contra a parede, porém não sabia muito bem como agir. Eu tinha certeza de que ela tinha dito Munique…
– Xiao Zhan? Faz tempo que você está esperando? – uma voz me tirou do meu transe. Era a assistente de Camden, me olhando com cara de expectativa.
– Desculpa. Não, acabei de chegar. Vamos começar? – perguntei e fingi um sorriso.
Naquela noite, quando cheguei em casa, Yibo estava lá e tinha preparado espaguete e almôndega. Como de costume. Como de costume, ele estava em casa, eu quero dizer.
–  Você não tem ideia do quanto eu preciso de bolas de carne neste exato segundo – brinquei, sentado à mesa ainda de casaco e cachecol, o garfo e a faca em punhos.
– Foi coisa divina. Achei um mercado italiano sensacional quando saí pra pedalar de manhã. É um dos únicos lugares que já achei no país inteiro que moem a carne de porco, a vitela e a carne de boi juntas – ele contou, enchendo a minha taça de vinho tinto antes de colocar a massa na água fervente.
– As almôndegas ficam bem mais macias.
– Ah, então é esse o segredo das suas bolas? – disse, bebericando o vinho.
A noite estava fria, mas dentro de casa o clima era quente e acolhedor. Uma lareira aquecia a sala de estar, a luz ricocheteando na parede de vidro. Clive estava aninhado feito um novelo de lã, dentro da casinha que Yibo tinha comprado. Camurça laranja, vários níveis, com um arranhador e uma bolinha no topo, a coisa era bizarra. Eu dissera a Yibo que Clive nunca curtiria algo tão extravagante, algo tão manifestamente gato, mas o bicho tinha amado a geringonça.
Os meus meninos se entendiam. Bem, era inegável que eles passavam muito tempo juntos…
E lá estava mais uma vez. Aquela inquietaçãozinha que não sumia da minha cabeça, que eu não parava de ruminar. Ela desapareceu quando Yibo serviu a salada e me deu um beijão.
– Como foi a reunião sobre o bar? – ele perguntou.
Yibo estava escutando na noite anterior quando eu falei sobre os compromissos de hoje.
– Boa, mas eu estava meio distraído. Recebi um e-mail da Jillian.
– Como eles estão? Faz um tempo que não falo com o Benjamin, mas combinamos de conversar na semana que vem sobre uns investimentos.
– Ele continua cuidando de tudo pra você?
–  Tem uma pessoa cuidando das coisas do dia a dia enquanto ele está fora, mas ele sempre está de olho. A Jillian comentou quando eles voltam?
– Não. Esse é o problema. Toda vez que eu tento tocar no assunto, ela se esquiva – respondi, mastigando uma escarola roubada da saladeira. Molho de mostarda e limão. Delícia.
– O Benjamin também. Acho que eles estão ocupados demais com a lua de mel pra pensar em voltar.
– Deve ser legal não ter responsabilidades – murmurei, e a inquietação me tomou novamente.
– Eu não diria isso – Yibo retrucou, pinçando a massa com o pegador. – Rala aquele queijo?
– Eu diria. – Peguei o pedaço de queijo e comecei a ralar. – Sei lá, pode ser. Vou conversar com as meninas sobre isso amanhã, ver o que elas acham.
– As meninas?
– Sim. Café da manhã na lanchonete. Faz um tempo que não vejo as duas – falei, ainda ralando o queijo.
Yibo balbuciou algo sobre eu nunca estar em casa, porém eu ignorei.
– Tem mais uma coisa: quando conversei com a Jillian antes do Natal, ela disse que eles passariam as festas em Munique. Mas hoje recebi um e-mail dela dizendo que eles estavam em Viena.
– Acho que escutei Viena mesmo. Pelo menos foi o que o Benjamin falou.
– Eu sei que ela disse Munique. Ela falou que o Benjamin tinha amigos lá – acrescentei. Ainda ralando o queijo.
– O Benjamin tem amigos em todos os lugares. – Yibo provou e aprovou a massa.
– A questão não é se ele tem ou não amigos lá. A questão é que eu sei o que eu ouvi – retruquei, ralando o queijo furiosamente.
–  Não é possível, e eu só estou perguntando – disse Yibo, temperando a massa com um pouquinho do molho antes de colocá-la na tigela –, que você tenha entendido errado?
– Não. – Ralando o queijo.
– Não é possível? – Ele colocou a tigela em cima da mesa antes de voltar para as almôndegas. – Não é remotamente possível?
– Claro que é remotamente possível – eu respondi entre dentes. – Mas eu sei o que ouvi.
– Ué, então pergunta pra ela. Isso resolveria o problema, não? É melhor do que ralar as unhas em cima do macarrão – Yibo ponderou calmamente, cobrindo a minha mão com a dele antes que eu de fato fizesse isso.
Olhei para baixo. O pedaço de queijo estava completamente ralado.
– Não posso perguntar, ela está contando comigo. – Soltei o ralador e fui até a pia para lavar as mãos.
– Sim, mas ela também é sua amiga. Se tem algum problema, ela merece saber, você não acha? – Yibo puxou a minha cadeira para que eu me sentasse.
– Ela é minha amiga, mas é minha chefe em primeiro lugar. E, sim, é melhor falar com ela. – Eu me sentei e sorri rapidamente quando Yibo beijou o meu ombro antes de se sentar à minha frente.
– Droga. Odeio quando você tem razão.
– Então você vive com ódio,  amor . E eu nem desconfiava.
– Ele me passou a tigela abarrotada de parmesão ralado. Peguei a tigela e mostrei um dedo bem específico para ele. Só para deixar registrado: as almôndegas estavam divinas.

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– Panqueca integral, molho de blueberry e uma porção de linguiça de peru, por favor.
– Omelete de claras com presunto e cebolinha e uma porção de frutas vermelhas, por favor.
– Ovos mexidos, batata hash brown sem manteiga e pão de centeio. Ah, pode trazer meia toranja também, por favor?
Nós estávamos na mesa de sempre, Sophia e Mimi com xícaras extragrandes de café.
– Obrigado por terem vindo tão cedo. Sei que vocês gostam de acordar tarde no sábado – falei, bebericando o meu café, também extragrande. Eu tinha a montagem de uma instalação de arte pela frente, ou seja, o dia requereria cafeína extra.
– E o hotel, está caminhando bem? Acha que as coisas vão ficar menos frenéticas quando terminar? – perguntou Mimi.
– Provavelmente não. A gente diminuiu o ritmo com os designs residenciais pra cuidar do hotel, mas, quando isso acabar, temos vários clientes que adiaram seus projetos só pra não abrir mão de trabalhar com a gente – expliquei com orgulho. – Mas isso depende da Jillian.
– Ainda não faz ideia de quando ela volta?
– Não, mas não vamos falar sobre isso. Vamos falar do seu casamento. Como estão os preparativos? – indaguei, mudando de assunto. Eu ainda não sabia o que dizer a Jillian, não sabia como abordar o assunto, então só queria pensar em outra coisa.
Eu até poderia dizer que Mimi começou a planejar o casamento no dia em que Ryan colocou um diamante solitário de dois quilates no dedo dela, mas estaria mentindo. Mimi vinha planejando o seu casamento desde o dia em que descobriu o que era um casamento. Ela tinha cadernos e pastas repletos de recortes acumulados ao longo dos anos. Decoração de mesa, flores, vestidos, enxovais – o que você imaginar, estava num fichário. Ryan não fazia perguntas nem sugestões; ele simplesmente ficava na dele e deixava Mimi cuidar de tudo.
– Foi ótimo ver o casamento da Jillian, ver como ela planejou tudo. Tive várias ideias, me ajudou a definir o que eu quero e o que eu não quero. Se vocês olharem na página dezessete… – ela colocou o fichário na mesa –, … vão ver como eu vou usar a luz da capela pra destacar não só o rosa-pastel e a cor pêssego das flores como também o dourado natural da minha pele.
–  Sim, mas isso depende da hora do dia – Sophia pontuou,
Lançando um olhar malicioso para mim. Mimi folheou o fichário.
– Com base na posição em que o sol vai estar na semana do casamento, marquei a cerimônia pro horário em que a luz solar vai incidir com mais intensidade na igreja. – Ela apontou para um gráfico solar.
– Cara, eu estava brincando – disse Sophia, virando o fichário para ver melhor. – Mulher, isto é impressionante!
– Obrigada. Você também vai gostar de saber que eu levei em conta a cor da sua pele e da Xiao Zhan na escolha do traje  de vocês.
– Nossos trajes? Você escolheu nossos trajes? – Sophia indagou.
– Você ainda nem convidou a gente oficialmente! Não acha que seria melhor escolher a gente antes de escolher os trajes? – eu retruquei, passando a manteiga enquanto os pratos eram servidos.
– Por favor, né, como se eu precisasse convidar. Óbvio que vocês vão estar no altar comigo – Mimi escarneceu, cortando a linguiça em fatias de meio centímetro e então posicionando-as no centro do prato.
– Óbvio! – eu a imitei, gargalhando da cara de surpresa que ela fez. – É claro que vamos ser seus padrinhps.
– Faz sentido, já que o Yibo e o Neil vão ser padrinhos. E eu vi a cara que você fez, Sophia – Mimi retrucou, antevendo a reação de Sophia. – Ele vai estar no casamento, e ponto-final. E não vai ter guerra de comida.
Eu escondi uma risada com o guardanapo.
– Já avisa o Yibo da data. Não quero que ele perca a semana do casamento porque vai estar fotografando zebras na Austrália – continuou Mimi, apontando a faca para mim.
– Zebras são da África. Na Austrália, tem cangurus – Sophia interferiu.
–  Austrália, África, Akron, não me importa, desde que ele esteja em casa. – Mimi ticou um item na agenda matrimonial.
– Ah, ele vai estar em casa, não se preocupe com isso – murmurei. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, eu apontei a minha faca. – E não pense que eu não percebi você usando expressões como semana do casamento. É dia do casamento, sua coisa.
– Tenho tantos planos pro casamento que vou precisar de uma semana inteira, e o Ryan disse que tudo bem. E não pense que não percebi seu tom quando falou sobre o Yibo estar em casa. O que está pegando?
– Não tem nada pegando. Ele tirou umas férias, só isso.
As duas olharam para mim.
– O quê? Vocês sempre falam que ele nunca está em casa. Bem, ele está em casa agora.
As duas continuaram olhando para mim. Olhei para elas também.
– Está ótimo. Ótimo.
Mais um momento de silêncio, então os três voltamos para nossos pratos.
– Então. O Ryan ficou sabendo que tem um grupo interessado em patrocinar parte do evento de caridade em San Diego – contou Mimi, dando início à rodada de novidades do nosso café da manhã.
– Vai abrir uma academia de krav maga na rua, e eu estou pensando em me matricular. Desde que consiga proteger minhas mãos – Sophia comentou.
– O Clive finalmente descobriu que o gato correndo de um lado pro outro do lado de fora da parede de vidro é ele mesmo – contei.
Nós mastigamos.
– Acho que finalmente consegui convencer o Ryan a fazer dança de salão pro casamento. Vamos aprender tango!
– Fiquei sabendo do professor Bernard Fitzsimmons. Ele e a Polly estão morando juntos.
–  Acho que a Jillian está escondendo alguma coisa de mim. Garfos tilintaram.
– Mas oi? – Mimi perguntou, e Sophia me olhou com cara de confusa.
– Não sei explicar. Só acho que está acontecendo alguma coisa e ela não quer me contar. – Ao dizer isso em voz alta, fiquei ainda mais convencida. – Não sei o que está acontecendo, mas tem alguma coisa.
Eu contei tudo às duas: as ligações, a ausência de ligações, os e-mails, tudo. Recostei na cadeira e fiquei esperando que elas concordassem comigo.
– Você está baseando tudo isso no simples fato de que ela talvez tenha dito Munique em vez Viena? – Sophia questionou, sacudindo um sachê de açúcar.
– Não! Quer dizer, também, mas… Sei lá, tem alguma coisa errada – eu insisti, sem entender por que ninguém mais enxergava aquilo.
– Ela está na lua de mel. Se eu tivesse um Benjamin pra mim toda noite, com certeza ficaria meio distraída. Hum, vocês acham que ele gosta de sexo selvagem? Tipo, vocês acham que ele gosta de…
– Deus do céu, Mimi!
– Jesus Cristo, mulher!
Eu e Sophia encaramos Mimi. Justiça seja feita a Mimi, todos nós já tínhamos fantasiado aquilo. Mas nunca tínhamos falado sobre aquilo.
Mimi pelo menos teve a decência de corar com a cara enterrada nos pedaços de linguiça.
– Enfim, não é só o fato de ela ter trocado o nome das cidades. Eu sabia que ela ia passar um tempo fora, mas já está beirando o ridículo. Ela já nem se preocupa em…
Mimi deu risada.
– Claro que não se preocupa! Ela está preocupada demais com o Benjamin numa daquelas sungas minúsculas estilo europeu. Aposto que eles transam no…
–  Já chega! – eu falei, batendo a mão na mesa, fazendo os talheres pularem. – Eu não tenho tempo pra isso. Estou tentando dizer pra vocês que… Deixa pra lá. Quer saber? Preciso trabalhar. – Joguei uma nota de vinte sobre a mesa e me levantei.
– Sério que você vai embora? – Sophia perguntou enquanto eu vestia o casaco.
– Sim, sério que eu vou embora. Preciso receber uma instalação de arte pro hotel.
Disparei para fora do restaurante, o coração acelerado. Eu tinha ficado tão enfurecido e tão repentinamente. Merda.
Voltei ao restaurante, onde as duas continuavam sentadas, os olhos arregalados.
– Muito obrigado por me convidar pra ser padrinho. Foi muito gentil.
Em seguida, saí de novo.
Entrei na Mercedes de Jillian e cruzei a ponte para esperar pela instalação de arte. Que nunca chegou.
Ei, instalação de arte? Chupa meu pau!
Naquela noite, eu estava enfurecido por ter perdido a manhã inteira e a melhor parte da tarde, ou seja, o meu raríssimo tempo livre, esperando por uma obra de arte. Ligar inúmeras vezes para o serviço de entrega (que só sabia dizer que estava “a caminho”) serviu para me deixar ainda mais irritado do que de início. Exausto, decidi me desligar de tudo e curtir um pouco. Não pensaria mais em trabalho.
Encontrei Yibo na cozinha, vasculhando os cardápios de comida chinesa. Ele me perguntou se eu queria ficar de bobeira, apenas me empanturrando de guioza. Era exatamente do que eu precisava.
Eu precisava relaxar. Todo mundo tinha um tempo livre, então eu também teria. Depois de comer, batemos em retirada para a hidro. Yibo colocou Count Basie para tocar, e atravessamos correndo o gelado jardim. Debaixo de um cobertor de estrelas e com uma taça de vinho na mão, me aconcheguei na água borbulhante e tentei relaxar. Procurei esquecer o desconforto em relação a Jillian, o estresse do trabalho e a briguinha que eu tivera com Mimi e Sophia.
Eu tinha enviado uma mensagem para as duas pedindo desculpas e recebi as seguintes respostas:
“Ih, relaxa, está tudo bem” e “Você é um babaca, mas eu te amo mesmo assim”.
– Você está quieto hoje – Yibo observou, os braços fortes apoiados na borda da hidro. Um Trepador de Paredes molhado é algo impossível de descrever. Mas eu vou tentar.
É… Ah, é simplesmente demais!
– Só estou relaxando – afirmei, me alongando afetadamente e soltando um suspiro profundo.
– Que bom. Se quer saber, eu acho que você precisa relaxar mais. – Ele inclinou a cabeça para trás e olhou para o céu, lançando a mandíbula forte ao relento da noite fria.
Enquanto o admirava, percebi que a sua mandíbula não parecia apenas forte, mas também tensa.
– Está tudo bem?
– Nunca me senti melhor – respondeu, com um suspiro profundo.
Será que eu andava ignorando Yibo? Com certeza, não. Como uma pessoa poderia ignorar alguém tão lindo? Mas, para ter certeza…
Sentindo uma faísca lá embaixo, me arrastei na água e sentei no seu colo. Ele envolveu a minha cintura, os dedos enroscando na minhas costas .
– Lembra da primeira vez que estivemos numa hidro, Trepador de Paredes?
– Lembro. Você estava bem animadinho – ele lembrou, sorrindo de um jeito malicioso.

– Estava mesmo. Mas você não ficou pra trás, se eu me lembro bem. – Revirei os olhos. E os quadris. O que não passou despercebido. – Até que cortou o meu barato.
–  Você não tem ideia do quão duro foi fazer aquilo.
– Ah, eu sei quão duro foi. – Eu ri, e ele pressionou os quadris contra mim. Me virei de costas para ele, me apoiando no seu peito, e contemplei a vista da baía, as luzes da cidade reluzindo na água. Deste ponto privilegiado, vi a cidade lá embaixo, cujas luzes refletiam nas ondas. Eu com certeza sentiria falta dessa paz quando voltássemos de vez para a cidade.
Uma inquietação se formou brevemente, mas eu a afastei. Respirei fundo, inalando o aroma dos pinheiros e dos loureiros, a salinidade da maresia sempre presente. Yibo afastou o meu cabelo dos ombros, deixando um rastro de beijos molhados. Paixão é uma coisa, mas o aconchego manso desse tocar desapressado?
Isso é muito bom.
– Que gostoso. – Suspirei, encostando em Yibo.
– Concordo – ele murmurou com a boca contra a minha pele, as mãos começando a percorrer a minha barriga.
– Me refiro a estar aqui, em Sausalito – disse com uma risada, me arrepiando quando a sua boca mergulhou entre o meu ombro e a minha orelha.
– Eu entendi. E concordo. – Yibo me mordiscou como se eu fosse uma espiga de milho. – Tenho que admitir, eu gosto desta casa. É gostoso .
Soltei um gemido. O toque dele me eriçou de cima a baixo.
– Quem você está chamando de gostoso? – perguntei com uma risadinha.
– Psiu, estou te seduzindo – Yibo ordenou, erguendo o meu braço e o beijando como um vilão de desenho animado antigo. – Logo, logo, você vai estar nas minhas mãos, e eu vou fazer o que quiser com você.
– Bem, sendo assim… pode continuar. – Voltei a recostar no corpo dele, bancando o dominado.
– Nossa, que facilzinho.
–  Só agora você descobriu? – Eu gargalhei, rebolando com força no seu colo, esparramando água para todo lado.
Yibo deu o troco me afogando. Eu emergi, cuspindo e tomando ar. Enquanto resmungava e enxugava o rosto.
Fingi uma expressão de surpresa.
– Olha só o que você fez!
– Estou olhando.
E em seguida ele estava tocando. E depois estava fazendo outras coisas comigo. Deliciosamente pelado lambendo chupando batendo metendo coisas.
Foi muito bom.
(...)

Amor entre as paredes ( livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora