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CAPÍTULO VINTE E SETE


A transmissão a seguir foi originalmente ao ar na KNTV, afiliada local da NBC de San Francisco…
– Olá, telespectadores! Eu sou Neil e falo ao vivo do Levi’s Stadium, onde o 49ers enfrentará o Seattle Seahawks, seu maior rival na conferência oeste. Nós vamos acompanhar cada jogada do embate entre esses dois grandes times, mas, antes que eles pisem no gramado, há outra rivalidade em disputa, uma tão acirrada quanto a que veremos dentro do estádio. Estou falando, claro, do carroceirão, nosso tradicional churrasco na porta do estádio!
“Salsicha ou linguiça? Pão de cachorro-quente ou pão francês? Quem vai decidir isso são esses dois torcedores, que, comigo, vão provar o melhor da culinária de porta de estádio! Sem mais encheção de linguiça, eis os competidores: deste lado, temos Marcus O’Reilly, nascido na região da baía e um fervoroso defensor do cachorro-quente! De acordo com ele, não há nada como devorar um bom cachorro-quente enquanto se assiste a uma partida de futebol americano, não é mesmo, Marcus?”
– Pode apostar, Neil! Um dogão deixa qualquer linguiça no chinelo!
– Duras palavras, Marcus! Já, já, nós cairemos de boca nessa salsicha para saber! E deste lado temos Angus Wheelwright, um entusiasta da linguiça e, segundo me consta, campeão amador de kickboxing. É isso mesmo?
– Isso mesmo, Neil! E estou aqui para provar que minha linguiça dá uma surra em qualquer cachorro-quente! Vai encarar, Salsicha?
– Opa, opa, cavalheiros! Vamos com calma com as provocações!
Lembrem-se que estamos aqui para saborear uns salsichões deliciosos antes do jogão e… Perdão, pode repetir? Senhoras e senhores, peço desculpas, mas acabo de receber do estúdio uma notícia urgente sobre… um bebê e um parto… partida? Trabalho do quê? Não é melhor voltarmos ao estúdio para essa história de última hora? Calma aí, quem está em trabalho de parto? Sophia… A minha Sophia?! Estou a caminho, estou a caminho! John! Joga a chave do caminhão! Joga a chave, eu vou…
Neste momento, o áudio é cortado e a câmera se afasta para enquadrar dois confusos entusiastas da charcutaria, três confusos técnicos da equipe do noticiário e uma legião de torcedores loucos para aparecer na TV, todos observando o caminhão de transmissão da KNTV que desembesta rumo à rampa de acesso à rodovia, conduzido por um comentarista descontrolado. A última imagem antes da queda do sinal mostra o comentarista gritando pela janela para os outros motoristas: “Me deixem passar, é uma emergência!”, “Saiam da frente, pelo amor de Deus!” e “Meu bebê vai nascer! Iaahooooooo!”.
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– Você está assistindo de novo?
– Não consigo parar. Literalmente não consigo. É sensacional demais.
– É bem bom mesmo. Quantas visualizações já tem? – perguntou Yibo.
– Hummm, deixe-me ver… Jesus Cristo, já passou de trinta mil! – Atualizei a página e vi o número de visualizações aumentar novamente.
A descoberta de Neil, em plena transmissão, de que Sophia estava em trabalho de parto viralizara no YouTube em questão de horas. O vídeo fora postado minutos depois de ir ao ar na região da baía, e na cidade não se falava em outra coisa. Mimi e eu já estávamos a caminho do hospital quando o incidente fora transmitido ao vivo, pois Sophia tinha nos mandado uma mensagem de texto.
Sem conseguir falar com o marido, ela entrara em contato com o produtor dele, que inadvertidamente começara a falar no ouvido de Neil durante a transmissão. Incapaz de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo mesmo em situações menos graves, Neil quase nunca recebia comentários durante suas entradas ao vivo; ele tinha muita dificuldade de se concentrar quando o homenzinho no estúdio de repente se transformava no homenzinho dentro de sua cabeça. Entretanto, sabendo que Sophia estava em trabalho de parto, o produtor decidiu correr o risco.
E o resultado estava aí para o mundo inteiro ver. O sequestro do caminhão da emissora durante a contenda entre salsicha e linguiça tinha se tornado uma pérola do humor. Felizmente, Neil era tão amado pelos telespectadores que o canal não recebera outra coisa senão uma avalanche de e-mails e ligações com mensagens de felicidade para ele e Sophia.
Enquanto isso, eu, Yibo, Mimi e Ryan aguardávamos no hospital. E eu não conseguia parar de ver o vídeo.
– Tipo, ele é uma verdadeira estrela da internet agora! – falei com entusiasmo, atualizando a página mais uma vez. – E já chegamos a trinta e cinco mil visualizações! Que loucura!
– Só nós fomos responsáveis por quantas? – perguntou Ryan, que assistia em seu celular.
– Pelo menos umas cem – falou Mimi, assistindo em seu iPad.
Yibo, que estava sentado ao meu lado, de repente se levantou, caminhou até o posto de enfermagem e espiou o corredor onde ficava a sala de parto. Depois, voltou a se sentar.
– Relaxa, amor, quando houver alguma novidade, nós vamos saber – falei.
– Eu sei, eu sei – disse Yibo, olhando novamente na direção do posto de enfermagem. – Ela está adiantada de quantas semanas?
– Só uma. Está tudo certo. – Peguei sua mão e a pousei em meu colo.
– Oh, eu sei, eu sei. – Ele apertou minha mão. – Vou pegar um café. Quer alguma coisa?
– Não, obrigado, amor. Vai lá. Leva o Ryan.
Ele fez que sim com a cabeça, apertou minha mão novamente e então seguiu para a lanchonete junto com Ryan. Mimi se sentou no chão à minha frente e apoiou as costas em minhas pernas.
– Mexe no meu cabelo – ordenou, desfazendo o rabo de cavalo e balançando a cabeça para espalhar os fios. Eu passei meus dedos para dividi-los e fazer uma trança; ela adorava que fizessem tranças em seu cabelo. – O Yibo parece preocupado.
– Sempre que tem alguém no hospital, ele fica agitado. Acho que ele nem percebe – falei, sem tirar os olhos da porta pela qual ele e Ryan haviam saído. – Ele vai voltar ao normal assim que a gente tiver notícias da Mama.
– É muito louco. Tipo, de manhã a Sophia era só a Sophia. Agora, quando o dia acabar, ela vai ser mãe de alguém.
– Talvez já seja.
– Caralho, é mesmo! – Mimi cruzou as pernas e empertigou a coluna. – Eu sempre achei que seria a primeira a ter filhos.
– Todos nós achamos. – Dei uma risadinha, passando uma mecha de cabelo sob um dedo e depois por cima do seguinte, formando uma trança.
– Eu contei que a gente está tentando?
– Porra! Não! Desde quando?
– Parei de tomar pílula logo depois da lua de mel, basicamente. Primeiro nós pensamos em esperar, mas depois conversamos e percebemos que nós dois queremos começar uma família agora. Aí a gente decidiu meter a cara mesmo. – Ela virou o rosto para me olhar por sobre o ombro. – E a gente está metendo, viu?
– Essa é minha garota! – falei, esticando suas novas tranças.
– Eu não queria falar nada antes de ela ter o bebê, sabe? Não queria roubar os holofotes pra mim.
– Acho que não dá pra roubar os holofotes quando, tecnicamente falando, você não tem o que apresentar pro público.
– Fato. – Mimi se virou, pois os rapazes tinham voltado.
– Alguma novidade? – perguntou Ryan, que carregava uma bandeja de café para viagem. – Pegamos pra vocês também, caso mudem de ideia.
– Nada ainda – falou Mimi, levantando-se de um salto para pegar um copo. – Vem, vamos olhar os bebês naquele aquário de bebês. – Ela pegou o marido pela mão, e ele passou a bandeja a Yibo.
– Como você está? – perguntei enquanto ele me passava um café antes de se sentar na cadeira ao lado.
– Eu? Estou bem, por quê?
Fitei suas pernas, que sacudiam nervosamente.
– É, um pouco agitado, acho.
– Eu sei. – Soltei um suspiro e apoiei a cabeça em seu ombro.
Permanecemos por um instante em silêncio – ou no que se pode chamar de silêncio em uma sala de espera de hospital.
– Eu odeio hospitais – ele comentou, e eu concordei com a cabeça, ainda apoiada nele. – Simplesmente odeio. Mesmo quando as notícias são boas, como eu sei que serão, odeio estar dentro de um hospital.
– Posso imaginar – sussurrei e entrelacei meu braço no seu.
Yibo não falou mais nada. Nem precisava. Eu continuei ao seu lado, com a cabeça em seu ombro. Alguns minutos depois, Mimi e Ryan voltaram. E, alguns minutos depois disso, Neil, com um avental médico e um sorriso de orelha a orelha, contornou o posto de enfermagem.
– E aí, vocês querem conhecer minha filha?
• * *
Mary Jane: dois quilos e oitocentos, quarenta e nove centímetros. Pequenininha e rosinha, com dez perfeitos dedos nas mãos e nos pés. E uma garganta poderosa.
Nós não ficamos muito, já que o quarto estava abarrotado de avós. Mas ficamos o bastante para ver Sophia e a bebê. Cada um de nós teve a chance de segurá-la; cada um de nós deu um abraço em Neil, que não parava de chorar. A palavra “cara” foi dita muitas vezes, muitos tapinhas nas costas e semiabraços foram dados. Quando nós quatro finalmente deixamos os novos papais, estávamos exaustos. Não tão exaustos quanto Sophia, mas, ainda assim, cansados.
Eu e Yibo demos boa-noite (bom-dia, na verdade) para Ryan e Mimi e seguimos pela ponte até Sausalito. O céu estava começando a clarear: um cinza um pouco mais claro se insinuava. Yibo, que tinha estado superanimado no hospital, estava bem quieto agora. Ele segurara Mary Jane no colo por tanto tempo quanto lhe permitiram. E foi tão carinhoso e fofo com ela! Estava receoso, claro, mas disposto a tentar. Se meus olhos se encheram de lágrimas? Oh, pode apostar que sim. Yibo? Segurando uma bebezinha no colo? Foi como se uma bomba de fofura tivesse explodido dentro de mim. E cá estava ele agora, quieto. Pensativo.
Abri a porta de casa e me preparei para o ataque aos meus tornozelos. A primeira foi Norah, nossa linda malhadinha; sempre a primeira a nos cumprimentar, ela correu até mim e imediatamente se deitou sobre o peito do meu pé, rolando de um lado para o outro, feliz com o retorno dos seus humanos de estimação. Poucos segundos depois, Ella desfilou até nós, comprida, esguia, fabulosa; foi direto para Yibo, como sempre. Era uma gata adepta da monogamia, não havia dúvida; me tolerava, se tanto, mas amava Yibo. Percutindo a escada, um degrau por vez, surgiu Dinah, miando e ronronando a plenos pulmões como se dissesse: “Olá, onde os senhores estavam? Por que saíram? Aliás, por que alguém sairia daqui?”.
– Oi, minhas fofas, como vocês estão? Sentiram saudades da gente? – arrulhei, pegando no colo Norah e Dinah, enquanto Ella se encaixou nos braços de Yibo como se pertencesse àquele lugar. E no patamar achava-se Clive. Calmamente lambendo as patas e observando a cena com um terno desinteresse.
Quando Clive fugira, no ano anterior, eu e Yibo ficamos devastados. Clive ficou desaparecido por semanas, e, embora nós não tenhamos encerrado a busca em nenhum momento, fui obrigado a admitir com o passar do tempo que as chances de seu retorno eram cada vez menores. Até que, uma noite, para nossa surpresa, ele surgiu tranquilamente no quintal de casa, de volta para nossas vidas. E não estava sozinho. Não, não! Meu menino tinha estado ocupado se engraçando com metade da cidade. Clive trouxera com ele não uma, não duas, mas três namoradinhas. Se parecera ridícula na época, a ideia de adotar mais três gatos havia se provado maravilhosa. Agora Clive tinha seu harém, e eu e Yibo tínhamos três personalidades a mais para nos manter entretidos. E entretenimento não nos faltava.
– Está com fome? Posso cozinhar alguma coisa – ofereci conforme todos nós nos dirigíamos à cozinha. Inclusive Clive, serpeando pelos meus calcanhares em seu típico cumprimento.
– Acho que não – respondeu Yibo, o olhar perdido através da janela que dava para a baía, ainda com Ella no colo.
– Ok. Vou tomar um banho rapidinho antes de deitar.
– Ok, amor.
Antes de subir a escada, me aproximei dele e sussurrei:
– Te amo. – E pousei um beijo em seu pescoço.
– Te amo.
Deixei-o a sós com seus pensamentos, quaisquer que fossem eles. Eu tinha aprendido durante minha relação com Yibo que, às vezes, quando acontecia algo mais emotivo – como hoje –, ele precisava de um momento sozinho, introspectivo. Yibo conversaria comigo quando estivesse disposto a conversar comigo.
Me arrastei escada acima, alinhando um quadro no caminho. A gente que vive no norte da Califórnia não sente todos os tremores de terra, mas o fato é que sempre estou arrumando os quadros nas paredes. Ao entrar no quarto, suspirei, como sempre fazia ao botar os olhos nele. Macios tapetes se esparramavam sobre o maravilhoso piso de madeira escura, tufosas cortinas de linho pendiam do varão que encimava as janelas com vista para a baía e, mais ao longe, para San Francisco. Chutei meus sapatos para longe, tirei a roupa e caminhei até o banheiro, onde liguei o chuveiro e deixei o vapor embaçar o vidro. Bocejei enquanto escovava o cabelo antes de molhá-lo. Talvez eu devesse tirar o dia de folga, ficar na cama. Estava acabado.
Ouvi os passos de Yibo na escada e gritei:
– Estou entrando, amor, caso queira me acompanhar! Para economizar água, claro. Só por isso.
Ri baixinho ao escutar seus passos se acelerando e entrei no banho antes que Yibo entrasse no banheiro. Sob o jato de água, de olhos fechados, deixei que a água quente escorresse sobre meus músculos fatigados. Ouvi o burburinho de suas passadas no quarto, o leve baque de seus sapatos contra o chão, o tinido de seu cinto, o range-range de seu jeans. Ouvi, mais além de todo o vapor, o clique da porta do box e sorri sob a água, levando as mãos aos cabelos e arqueando as costas de uma maneira bastante específica. Eu estava cansado, sim. Mas não cansado demais, nunca, para suas mãos e sua boca e tudo mais que ele tinha para me dar. Por isso me arqueei. E esperei. E me arqueei mais um pouco. E continuei esperando. De debaixo da água, espiei: ele estava ali parado. O olhar se derramava sobre mim, a boca pronta… e tensa.
– Amor? – perguntei, me aproximando e entrelaçando as mãos ao redor de seu pescoço, ao mesmo tempo que suas mãos escorregavam por minha cintura e seus dedos apertavam minha pele. – Está tudo bem?
A água se derramava sobre nós, molhando sua pele, que deslizava contra a minha dentro da nuvem que o vapor criava especialmente para nós. O chuveiro desapareceu, o mundo inteiro desapareceu, Yibo e eu éramos agora o centro desse mundo. Seus lábios se abriram e, molhados por uma veia de água, se tornaram irresistíveis aos meus. No entanto, antes que minha boca alcançasse a sua, ele falou:
– Casa comigo.
Uma declaração, uma afirmação. Não uma pergunta, não um pedido. Que se repetiu:
– Casa. Comigo. – Seu olhar faiscava contra o meu.
Eu inspirei o ar, um zunido no ouvido. Meu pulso se acelerou, meu coração retumbou, eu tentei lembrar a mim mesmo como se respirava. Estava molhado, estava engasgado de emoção.
– Eu quero você. Eu quero aquilo, quero o que eles viveram hoje. Quero tudo, quero tudo com você. Quero você, quero que você seja meu esposo. Comprei uma aliança, eu te dou agora mesmo se você disser que sim. – A cada palavra, suas mãos se enterravam mais e mais em meus quadris, desesperadas, descontroladas, ávidas.
– Eu tinha planejado outra coisa, muito mais sutil, romântica e tudo mais que você merece. Mas minha cabeça está a mil desde ontem, desde que vi meu melhor amigo roubando um caminhão para estar com sua nova família. E tudo que eu quero, tudo que eu sempre quis, é exatamente isso. Exatamente você. E, subindo aquela escada e ouvindo o barulho da água e sabendo que você estava aqui, nu, molhado, esperando por mim, eu senti que não podia esperar nem um dia a mais, nem uma hora a mais, nem um minuto a mais pra te pedir em casamento. Então. Casa. Comigo.
Ele se ajoelhou. Deus do céu, ele se ajoelhou no chão do box, onde se ajoelhara incontáveis vezes antes (uhummm…), pegou minha mão e repetiu aquelas palavras – enfim, com uma interrogação ao final:
– Casa comigo?
E nesse momento eu me dei conta de que as preocupações, as mãos retorcidas, os bloqueios mentais, as indagações sobre o que era certo para cada casal, se era cedo demais, quando era o momento certo, em time que está ganhando blá-blá-blá, de que foda-se tudo isso. Não importava o que era certo para outros casais, importava o que era certo pra gente. Para Yibo e eu. Porque, quando o Trepador de Paredes se ajoelha à sua frente e te pede em casamento, você não precisa pensar muito para responder, simples assim.
Fato curioso sobre ser pedido em casamento durante o banho: não dá para saber o que é água e o que é lágrima.
Eu falei sim, ele me beijou. Eu falei sim, ele me envolveu. Eu falei sim, ele me penetrou. Eu falei sim, sim, sim, ele me amou.
Depois, me carregou até nossa cama, tirou do seu criado-mudo uma aliança e a colocou no quarto dedo da minha mão esquerda. A aliança era brilhante, perfeita e maravilhosa e combinou com a minha mão cravada nas costas de Yibo enquanto ele se impelia contra mim mais uma vez.
– Eu não acredito… que você… me pediu… em casamento… – ofeguei enquanto ele metia com força.
– Pode acreditar, amor – ele murmurou, virando-nos para que eu ficasse por cima.
– Eu não acredito… no quanto… sou sortudo… – ofeguei, encontrando meu ritmo.
– Errado. – Ele se sentou sob mim, mergulhando ainda mais fundo dentro do meu corpo. – Eu sou o sortudo aqui.
Eu arquejei, ele gemeu, e meus quadris ficaram descontrolados.
– Eu não estou acreditando… que eu  vou  ser… Wang-Xiao… … Sim, isso fez com que ele me virasse de novo.
• * *
No café da manhã, preparei ovos mexidos para o meu noivo. Você acredita? Não estou me referindo aos ovos mexidos, embora eles estivessem inacreditavelmente bons. Um velho truque da Condessa Descalça. Bata os ovos com algumas colheres de creme de leite, despeje a mistura em uma frigideira untada com manteiga e mexa devagar sobre fogo baixo. Ovos perfeitos, sempre. À la Ina. À la aliança brilhante. À la diamante , em aro de platina. Eu não conseguia parar de olhar para ele. Joguei uma pitada de sal kosher nos ovos. E fui arrebatado pela aliança: ela ficava linda com o rótulo da embalagem de sal ao fundo. Adicionei um pouco de pimenta-do-reino moída na hora. E admirei o fato de que a aliança refletia a iluminação de modo a formar pequeninos arco-íris no balcão.
Abri cada um dos armários e cada uma das gavetas na cozinha para ver como a aliança ficava em contraste com cada superfície. Como qualquer um faria, não?
– Não consigo parar de olhar para a aliança – confidenciei a Yibo enquanto servia seu prato e um copo de suco de laranja recém-espremido. Eu tinha feito questão de espremer porque queria ver como a aliança ficava quando minhas mãos estavam… apertando o botão de ligar do juicer.
– Também não consigo parar de olhar para ela – Yibo admitiu, me puxando para seu colo e me dando um abraço.
– Que fofo, amor.
– Normalmente eu estou olhando pro seu peito, e essa história da aliança está me privando disso.
– Que doente, amor.
– Você já contou pra alguém?
– Ainda não tive tempo. Não parei de trepar com meu noivo desde então.
– Isso é definitivamente a coisa mais sexy que você já me disse.
– Sério? Mais do que quando falei pra você chupar a minha deliciosa…
Ovos mexidos são bons por outro motivo também: são fáceis de fazer de novo caso a primeira porção esfrie.
Algum tempo depois, deitados sobre a mesa da cozinha, ouvimos o retinido de um prato se espatifando no chão.
– Vou cobrar por esse prato – falei.
– Vou cobrar por aquele orgasmo. Outro prato quebrado.
– Oops. Foi mal, hein – eu disse, nada arrependido.
– Eu quebrei aquele prato sem querer, em um momento de paixão. Você não vai conseguir nada derrubando pratos de propósito, Xiao Zhan.
– É o que vamos ver, Yibo. Veja como essa aliança fica linda na minha mão em volta do seu pau.
– Zhan do céu...
• * *
Algum tempo depois…
– Ouvi você falando com a Jillian no telefone mais cedo. Você não falou nada pra ela mesmo?
– Não. Falei que ia tirar o dia de folga, mas não expliquei o motivo.
– Por que você vai tirar o dia de folga?
– Pra foder você o dia todo embaixo desta mesa.
– Ah, sim.
– Algum problema?
– Não. Não consigo pensar em motivo melhor pra tirar um dia de folga.
– Concordo. Já pra baixo.
– Você vai ser mandão assim quando a gente estiver casado?
– Você não faz ideia, Yibo. Você não faz a menor ideia.
• * *
Horas depois…
– Estou morrendo de fome.
– Eu também. Você vai se controlar agora?
– Eu? Foi você quem começou a quebrar pratos de propósito.
– Não vem com essa de novo. A gente compra alguma coisa no caminho pro hospital.
– Hospital? Você está tendo um infarto? É, aquela última foi intensa demais, eu sabia. Aliás, obrigado por ser tão flexível.
– De nada, e não, não estou tendo um infarto. Falei pra Sophia que ia passar lá hoje pra ver como ela e a coisinha estão.
– Suponho que precisamos vestir alguma roupa, então.
– Só se você não quiser ser barrado pelos seguranças. Vamos, eu ainda quero ligar pra minha mãe e contar a novidade.
– E o seu pai?
– É você quem vai ligar pra ele e explicar por que não pediu minha mão pra ele antes de me pedir em casamento.
– Merda. Digo, ebaaa...
• * *
Yibo e eu ligamos para meus pais, que ficaram extasiados. Minha mãe entrou imediatamente no modo casamento e passou a me fazer todos os tipos de perguntas sobre quando, onde, se eu já tinha escolhido as cores, se eu iria querer minha prima ZhangYi como madrinha, e quis saber todos os detalhes do pedido. Deixei de lado a parte em que estávamos pelados; essa parte só interessava a mim. Eu conhecia ômegas que tinham sido pedidos em casamento em uma carruagem conduzida por cavalos, na praia, no topo da Torre Eiffel, até mesmo no metrô. Mas não conhecia nenhum que houvesse estado pelado no momento do pedido. Ah, claro, suponho que a maioria ficou pelado na sequência. Mas no ato mesmo? Isso era algo que eu queria guardar para mim.
Nós – finalmente – nos vestimos, entramos no carro e seguimos para a cidade após uma parada para cheeseburgers e milk-shakes. Se eu exibi minha aliança para cada atendente do drive-thru? Pode apostar seu popô que sim. Esse sou eu e minha aliança dando uma mordida no lanche; esse sou eu e minha aliança bebendo um gole do milk-shake. Até fiz Yibo reencenar o pedido com uma cebola frita no lugar do anel. Para alguém que antes questionava o próprio conceito de casamento e sua necessidade, eu tinha sido bastante persuadido por um certo objeto cintilante.
Ao chegar ao hospital, virei o diamante para baixo, para a palma da minha mão. Não queria que Sophia o visse logo de cara. Eu entendia o que Mimi queria dizer sobre roubar os holofotes. Sabia que Soph ficaria feliz, mas o momento ainda era sobre Mary Jane, e eu queria vê-la antes de qualquer coisa.
Batemos na porta, e Sophia falou para entrarmos. Sentada na cama, a maquiagem impecável e o cabelo brilhante, ela estava comendo um balde de frango frito, enquanto Neil se achava esparramado no sofá, com Mary Jane aninhada em seu peito.
– Ei! – falou Sophia, dando uma breve pausa em seu apetite selvagem para nos cumprimentar.
– Foi mal, mas estou faminta, e essa comida de hospital não estava dando conta. Acabei de expelir um bebê pela minha xereca, e tudo o que eles me dão é gelatina? Se foder, né! Preciso de sustância!
Se eu desconfiava que a maternidade amoleceria Sophia, parei de desconfiar naquele instante. Ainda bem.
Mary Jane arrulhou, e quatro pares de olhos se cravaram no pacotinho aconchegado nos braços de Neil. Sophia sorriu de orelha a orelha. Tá, ela tinha amolecido um pouco.
– Como você está se sentindo, Mama? – perguntei, me aproximando dela e alisando seu cabelo. – Você está linda.
– Estou mesmo. É porque você não me viu de manhã, eu estava horrível. Agora eu sei por que as Kardashians recebem o esquadrão do glamour depois de cada parto; é isso ou você sai parecendo um zumbi em todas as fotos com seu bebê.
– Você está maravilhosa – insistiu Neil. – Com ou sem esquadrão do glamour. Sophia sorriu de novo. Yibo, que havia se sentado ao lado de Neil no sofá, não parava de fitar o embrulhinho rosa.
– Cara, eu deixo você pegá-la no colo, é só pedir. – Neil estufou o peito, e o pacotinho se ofereceu para Yibo.
– É só um pouquinho. – Yibo me lançou uma olhadela.
Eu sorri, grato por ter mais uma chance de vê-lo com um bebê no colo. Olá, ovários, eu estava mesmo me perguntando quando vocês se manifestariam.
Sophia e eu observamos os dois homens transferindo Mary Jane de um para o outro com a mesma precisão que um esquadrão tático nuclear desarma uma ogiva. Foi difícil não rir alto, mas também foi extremamente fofo.
– Então, como você está se sentindo? Tipo, de verdade – perguntei a Sophia assim que a transferência se concretizou.
– Como se tivesse acabado de expelir um bebê da minha xereca – ela resmungou, voltando a comer seu frango frito. – Dói pra caralho. Mas vale muito a pena. Ela é fofa demais, não é?
– Fofa demais, demais – falei. – Está preparada para mais novidades boas?
– Sempre – ela disse, de boca cheia.
Virei o diamante para cima. Ela guinchou, me exibindo seu frango mastigado e acordando a filha.
– Caramba, Soph! – reclamou Neil; ele e Yibo se entreolharam e, então, encararam Mary Jane, que tinha começado a chorar.
– Me deixa ver isso! – gritou Sophia.
– Por que ela está chorando? – perguntou Yibo, em pânico.
– Porque a mãe dela quase a matou de susto! – gritou Neil, também descontrolado.
– Todo mundo quieto – falei, tentando ir até o sofá, mas incapaz de fazê-lo porque Sophia não soltava minha mão. Pensei que a qualquer momento ela iria sacar uma lupa de joalheiro da camisola.
– O que a gente faz pra ela parar?!
– Traz ela aqui, Yibo!
– Eu não sei levantar com ela no colo!
– É uma aliança de dois quilates e meio?
– Alguém chama a enfermeira, ela não vai parar de chorar!
– Bebês choram, Neil.
– Alguém nos ajude!
– Tira minha filha dos dois patetas ali, por favor?
– Oh, pelo amor! – falei, desvencilhando minha mão e caminhando até o sofá.
– Ei, pequena, está tudo bem – sussurrei, tirando Mary Jane suavemente dos braços de Yibo e aninhando-a em mim. – Shh, shh, está tudo bem. Ninguém mais vai gritar, prometo. É que seus pais só conhecem gente louca, só isso. Shh, shh… – Levei-a para Sophia, que começou a abaixar a parte da frente da camisola.
– Oh, eu, uhm… Acho que vou sair, eu, uhm… – falou Yibo, levantando-se do sofá.
– São só tetas, Yibo! – Sophia ralhou, pegando Mary Jane e aproximando-a de seu peito.
Fiquei surpresa com a naturalidade daquilo. Lá estávamos nós, quatro grandes amigos, um dos quais com as tetas de fora. A vida como ela era agora. A não ser pelo olhar de Yibo, que disparava para todos os cantos, menos para onde se desenrolava a ação.
Neil se postou ao lado da cama e finalmente viu o motivo da gritaria de Sophia.
– Ei, o que é isso no seu dedo? – perguntou, fitando a aliança.
– O que você acha que é? – provoquei, levantando a mão para mostrar a ele. Neil olhou para mim, depois para a aliança, depois para Yibo.
– Cara?
– Cara.
– Cara! – exclamou Neil, erguendo Yibo do sofá em um abraço de urso. Que continuava em curso quando Mimi e Ryan surgiram no quarto.
– A gente veio ver a Mary Jane e trazer presentes… O que está acontecendo aqui? – perguntou Mimi ao ver a inusitada cena.
– Pergunte ao noivo – disse Sophia, apontando com a cabeça para mim.
Acontece que gritos não são bem-aceitos em uma maternidade. Fomos muito educadamente convidados a nos retirar.
Mais uma vez, eu me encontrava em uma sala de espera de hospital junto com Mimi, Ryan e Yibo, mas por um motivo muito diferente do da noite anterior.
– Não acredito que você está noivo! Isso é perfeito. A abstinência dos meus planos de casamento já estava começando a bater! Estava sem nada novo pra planejar! Agora posso planejar o seu! O mais importante primeiro: você já tem uma data? Já sabe o lugar? Vai ser à noite? À tarde? Black-tie? White-tie? Eu…
– Vai com calma aí, coisinha – falei, erguendo as mãos no gesto internacional de “pode parar agora mesmo”. – A gente não tem nada planejado, a coisa toda aconteceu não faz nem um dia. A gente não planejou nada e provavelmente não vai planejar por enquanto. – Respirei fundo. – Sério. Relaxa aí.
– Relaxar. Está bem, vou relaxar – Mimi falou baixinho, balançando a cabeça.
– Tá, mas posso perguntar só uma coisa?
– Uma.
– Quais vão ser suas cores? – ela expeliu, incapaz de conter a empolgação.
– Ah! Cara, eu vou te mandar pra minha mãe, e vocês duas podem planejar até caírem duras – falei, gargalhando ao perceber a animação dela com a sugestão.
– Melhor ideia de todas! Oh, Xiao Zhan, vai ser tão legal! Vou ligar para ela hoje mesmo para saber o que ela está pensando! Oh, temos tanta coisa pra fazer, eu…
– Mimi. Querida. Eu estava brincando. Relaxa um pouco, ok? Me deixa apenas ser noivo por enquanto, sem essa neura de casamento, pode ser?
Sua expressão desmoronou, mas ela se calou. Por sua vez, Ryan pronunciou “cara” algumas vezes, Yibo falou “cara” algumas vezes, e eles se deram tapinhas nas costas. Malditos meninos…
• * *
Quando cheguei em casa, já havia treze e-mails da minha mãe com inúmeras sugestões de locais no norte da Califórnia e dezessete e-mails de Mimi com links para vestidos, sandálias, vestidos de madrinha, boleiros. Minha atenção foi desviada dos e-mails, que eu lia sentado à mesa da cozinha, por Yibo, que se aproximou por trás e massageou meus ombros.
– Gostei desse – falou, se referindo ao smoking Champanhe na tela.
– Não acredito nessas duas, Mimi e minha mãe. Elas já começaram. – Balancei a cabeça, perplexo.
– Começaram o quê? A assumir o comando? – Ele deu uma risadinha e me tateou com os dedões, o que me fez pender a cabeça para trás e soltar um gemido.
Olhei para ele.
– Sim. Vai ser uma putaria.
– Estou me perguntando como um casamento pode ser uma putaria.
– Eu deixaria você ler estes e-mails, mas no momento estou incapacitado de mexer minha cabeça. Você sabia que fica uma gracinha de cabeça pra baixo? – murmurei, gemendo novamente quando suas mãos deslizaram por meus braços e, pelos cotovelos, os ergueram e os pousaram em seus ombros.
– Eu gosto de você de cabeça pra baixo – ele sussurrou, se inclinando para encher minha testa de beijinhos.
– E como fica minha aliança de cabeça pra baixo? – provoquei, estendendo o braço à frente para admirá-la mais uma vez.
– Sexy. – Beijo. – Ridiculamente sexy. – Beijo. Beijo. – Portentosamente sexy.
– Beijo. Mão-boba. Mão-boba.
– Portentosamente sexy? – Meus olhos se cerraram quando a ponta de seus dedos se insinuou na parte de dentro da minha camisa.
– É uma palavra.
– E quãorapidovocêconseguearrancararoupa, também é uma palavra?
– Vejamos… São… uma, duas, três…
– Você está contando?
– … quatro, cinco…
– Yibo?
– Hummm?
– Para de contar e volta a me tocar.
– Oh, amor, eu vou voltar, acredite.
E ele voltou. Suas mãos se moveram pelo meu corpo com convicção, precisão, prática. Estávamos juntos havia tempo o bastante para saber o que o outro gostava e o que o outro amava. A noite anterior tinha sido cheia de amor e de paixão. Esta noite? Seria de uma foda desvairada, frenética, aloprada, franca.
Em um instante, suas mãos passaram de convictas e precisas para selvagens e lascivas, subitamente me levantando da cadeira e me virando, puxando minha camisa com tal voracidade que os botões rebentaram. Yibo me pressionou contra a parede, minha face comprimida no papel de parede espinha de peixe que me dera tanta dor de cabeça para escolher, mas que eu nunca examinara tão de perto.
– Oh – foi tudo o que consegui dizer quando sua boca se fechou sobre o tendão direito do meu pescoço ao mesmo tempo que suas mãos escancaravam minha calça e a arriavam bruscamente até minha coxa.
– Tira. Tira a calça. Tira tudo – ele falou, a voz grave no meu ouvido, as mãos posicionadas no meu corpo, uma na garganta, a outra no quadril. Era por isso que nunca haveria tédio com Yibo. Ele era capaz de passar de meigo a incontrolável num piscar de olhos, sempre me surpreendendo, sempre mantendo as coisas interessantes. – Tira – repetiu, me trazendo de volta para o presente. Presente no qual eu o sentia, rígido e insistente, contra minhas costas.
Abaixei o jeans, a cueca junto. Devo ter abaixado muito devagar, porque de repente Yibo os arrancou e depois me pressionou com mais força contra a parede. Eu adorava o Trepador de Paredes carinhoso e que tomava seu tempo, mas adorava ainda mais o Trepador de Paredes que tinha dado origem ao nome!
Com uma mão no meio das minhas costas e a outra emaranhada no meu cabelo, ele me direcionou para baixo e para trás, posicionando os meus quadris na altura certa. Escutei o desfivelar do cinto, o correr do zíper, e então o senti, pronto. Sempre pronto. A mão que estava em minhas costas escorregou até meu quadril para me escorar conforme ele afastava minhas pernas para os lados. Arquejei ao senti-lo, ao senti-lo no lugar exato.
– Me fala que você quer, que você me quer – Yibo sussurrou profundamente em meu ouvido.
– Meu Deus, Yibo, claro que eu quero – ofeguei, e sua mão esquerda passou do meu quadril para o meu mamilo, apertando, retorcendo, beliscando avidamente, me fazendo ofegar de novo.
– Me fala que você quer – ele repetiu, enfatizando as palavras com um puxão eloquente, me fazendo empinar ainda mais, e meus quadris buscaram desesperadamente os seus.
– Sim, Yibo! Eu quero, eu quero você! – gritei, estonteado pela sensação de tê-lo dentro de mim.
– Eu sempre quero você!
Enquanto uma de suas mãos continuava entrelaçada em meu cabelo, me mantendo contra a parede, a outra mergulhou entre minhas pernas para me descobrir  duro e quente e pronto para ele, resultado de suas palavras e nada mais. Ele gemeu ao me tocar com os dedos e então gemeu de novo, um gemido inigualável, ao introduzir tudo, centímetro após cen-tí-me-tro. Estiquei o braço para trás para tentar trazê-lo mais para perto, porém Yibo devolveu minhas mãos à parede e puxou meus quadris ainda mais para si.
– Ver você assim… Você não sabe o que é te ver assim – murmurou, tirando quase tudo e, em um ato contínuo, metendo de volta com força, arqueando minhas costas e me fazendo arquejar.
– Você fica tão gostoso, tão sexy…
– Quando você está me comendo? – perguntei, olhando para ele por sobre o ombro.
Que ele mordeu… com força. E então Yibo tirou tudo. E eu mal tive tempo de processar esse fato porque, quando me dei conta, ele estava no chão, entre as minhas pernas, com as costas apoiadas na parede, me trazendo para sua boca. Avidamente.
Um fato sobre meu noivo: ele adora saborear com a própria boca.
Possuída de fúria, sua língua me chupou e me sugou. Uma mão, firme em minha lombar, me puxava para seu rosto maravilhoso, contra o qual meus quadris se esfregavam desgovernadamente. A outra mão me mantinha aberto tal qual ele me queria, escancarado. A cozinha então se tornou um borrão, as cores se tornaram riscos difusos…
– Não para, não se atreva a parar – entoei conforme sua língua me circulava, seus lábios e boca me envolvendo como conchas, a me chupar e me morder, a me sugar e me beijar, a me amar e…
Eu explodi. Ele continuou até que eu explodisse de novo. E mais uma vez, só para garantir. E quando eu já estava completamente mole, incapaz de me manter em pé, ele me puxou para o chão, ergueu minhas pernas até seus ombros e me arruinou para qualquer outro alfa.
É bem possível que eu tenha desmaiado. Porque quando acordei, instantes ou horas depois, estava no chão da cozinha, coberta por uma manta laranja e verde, enquanto Yibo, apoiado no balcão, comia uma tigela de Sucrilhos. Pelado.
• * *
A semana que se seguiu passou voando. Eu trabalhei, ele trabalhou, nós contamos a grande novidade a todos nossos conhecidos, e nossos celulares foram inundados de emojis e mensagens de felicidades. Jillian chegou a trocar a costumeira mensagem do atendimento telefônico noturno do escritório pelo anúncio do meu noivado. Claro que, ao fim da mensagem, o endereço e o horário de funcionamento eram informados.
Eu sempre mantive um contato frequente com minha mãe; normalmente, falava com ela duas ou três vezes por semana. Agora ela me ligava todos os dias, inúmeras vezes. Logo cedo pela manhã, às sete horas, e tarde da noite, às onze e meia, quando me fazia ligar no Jimmy Fallon para ver o vestido que Drew Barrymore estava usando, que ficaria ótimo nas madrinhas, não ficaria?

Mimi também estava implacável. Com sua típica sensibilidade de buldogue, ela levara ao meu escritório, na segunda-feira à tarde, absolutamente todas as publicações atuais sobre casamento, além de todos os números da revista Martha Stewart Weddings desde 2002. Ela precisou usar dois carrinhos de carga e fazer três viagens de elevador para subir todas, mas conseguiu, ô se conseguiu.
Eu estava começando a trabalhar na reforma de um antigo cliente que morava em Dolores Heights, mas, em vez de projetar sua cozinha, que era o que eu deveria estar fazendo, me vi intermediando uma chamada via Skype entre minha mãe e Mimi, que debatiam o polêmico tópico lapela escura versus lapela clara.Eu não fazia a menor ideia do que elas estavam falando, mas era ao mesmo tempo empolgante e divertido e arrebatador e maravilhoso.
Na sexta à noite, exausto, falei para Yibo, enquanto comíamos comida tailandesa no sofá da sala, que eu me recusava terminantemente a permitir que os planos do casamento se tornassem mais importantes do que o momento de celebração que estávamos vivendo. Nosso casamento. Yibo deu um beijo com aroma de curry em minha testa, balançou a cabeça e riu da minha ingenuidade.
O famoso curry final.

(....)

Amor entre as paredes ( livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora