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CAPÍTULO TREZE


Retornamos à Costa Oeste, e os preparativos para o fim do ano estavam a todo vapor

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CAPÍTULO TREZE


Retornamos à Costa Oeste, e os preparativos para o fim do ano estavam a todo vapor. Eu estava mais ocupado do que nunca, tentando adiantar as coisas ao máximo antes que os funcionários do escritório e os colaboradores começassem a sair de férias. Decoramos algumas casas de clientes importantes no Natal e alguns hotéis na cidade, e o projeto de Sausalito caminhava bem – inclusive, continuava adiantado. O sr. Camden parecia muito satisfeito não apenas com a reforma, como também com o interesse que ela gerava na cidade.
Mimi e Ryan planejaram uma confraternização uma semana antes do Natal, no que prometia ser uma noite fabulosa. A festa aconteceria no apartamento novo deles, e tanto Mimi quanto Ryan convidaram os amigos e os colegas de trabalho. Sophia e Neil compareceriam. Com os respectivos acompanhantes, óbvio. A minha única esperança de que os dois se controlariam residia no fato de que não rolaria uma rodada de Pictionary. Que ingenuidade a minha – Parte I.
E Yibo ? Bem, eu não sei descrever ao certo. Ele estava… por perto. Não há forma melhor de explicar. Ele parecia estar sempre por perto. Tinha cancelado uma viagem para Vancouver. E outra para Honduras. Ele deveria ter passado o mês de dezembro praticamente todo fora, porém agora a sua única viagem marcada era para o Rio, comigo. Ele não tirava uma folga como essa desde… eu nem sei. Desde que nos conhecemos, pelo menos.
Yibo  pedalava quase todas as manhãs, depois passava as tardes debruçado sobre os seus CDs antigos de fotografias, catalogando-os e datando-os.
Ele estava… por perto.
Mas eu não. Talvez eu devesse estar me sentindo mal por trabalhar tanto, mas não estava. Afinal, era alta temporada no meu trabalho, e não faria diferença para Yibo  se ele estivesse viajando, como normalmente estaria. Eu deveria me sentir mal por isso?
Ele dizia que entendia. E quase todos os dias me levava almoço e todas as manhãs tentava me convencer a voltar para a cama com promessas de sacanagens…
E… meu Deus, eu amo Yibo , mas quase me sentia aliviado quando…
Ok, vou dizer aquilo que não devo dizer.
Eu ficava aliviado quando tinha a cama toda para mim! Detesto admitir, mas às vezes eu dormia melhor quando Yibo  não estava, quando ele estava viajando. Não é coisa que se diga, não é mesmo? O certo é dormir todas as noites enroscado em alguém, de conchinha… Mas, na real? Vez ou outra, eu precisava da minha própria cama. Eu curtia passar um tempo sozinho. Isso é ruim?
Yibo  sabia que eu tinha muita coisa para fazer. Não haveria Natal juntos se eu não deixasse tudo pronto no trabalho. E eu não perderia essa viagem por nada: este moço aqui iria para Ipanema, ponto-final.
Para a manhã do dia da festa de Natal de Mimi, eu planejei passar um tempo a sós com a minha KitchenAid. Mimi tinha me pedido para preparar uns biscoitos, e eu não pensei duas vezes, mesmo atolado de trabalho.
Afinal, todo ômega precisa se dar um pouco de prazer. É ou não é? E a minha máquina de prazer era de aço inoxidável, potente e vinha com um acessório para linguiça. Sim.
Eu tinha quase terminado o trabalho do dia quando Jillian me ligou. Quase não consegui ouvi-la com tantos espirros e assoadelas de nariz.
– Cacete, Jillian, a peste bubônica retornou?
– Afe, nunca fique doente na Europa; você vai perder horas apenas tentando explicar os sintomas. Mas deixa isso pra lá. O que tem pra mim?
– Como assim? – perguntei, folheando a minha agenda. Eu precisava que JiLi entregasse uma guirlanda na casa de um cliente em Pacific Heights e havia mais duas entregas depois dessa e…
– Zhan, ei! Zhan, você escutou o que eu disse?
– Desculpa. O dia hoje está agitado. O que foi?
– Perguntei o que você tem pra mim… sua lista? Nenhuma pergunta? Nenhum incêndio para apagar? Sou toda ouvidos, pode mandar.
– Ah, foi mal. Hum, vamos ver… Na verdade, está tudo sob controle. Estou indo embora logo mais. Mimi e Ryan vão dar uma festa hoje – eu respondi, olhando para o meu relógio. Eu realmente precisava falar com o Li sobre as entregas, para que ele conseguisse sair a tempo de cumprir tudo.
– As coisas estão caminhando muito bem.
– Ah. Er, que bom. Só liguei pra ver se você precisava de alguma coisa, mas parece que…
– Rapidinho, Jillian – disse no momento em que JiLi atravessava a porta.
– Li, pode deixar isto na casa dos Nelson quando sair pra levar os talheres? Obrigado! – pedi, dando um tchauzinho. – Agora, sim. Onde estávamos?
– Você mandou o estagiário entregar a decoração de Natal de um dos nossos clientes mais importantes?
–  Não, pedi pra ele entregar uma guirlanda. Ele me ajudou a desenhar toda a sala de estar e de jantar deles este ano, e eles o amam. A senhora Nelson praticamente adotou JiLi na última vez que estivemos lá. Por quê? Algum problema? – indaguei, confuso. Afinal, Jillian tinha me colocado no comando, certo?
– Não, sem problema. Só estou surpresa por você pedir isso pra um estagiário. Bem, acho que cada um tem o seu jeito de fazer as coisas…
Cerrei os punhos debaixo da mesa. Jillian e eu ficamos em silêncio. Inspirei, detestando a tensão.
– Enfim. Como está a viagem ao redor do mundo? Onde vocês vão passar o Natal?
– O Benjamin tem uns amigos em Munique que convidaram a gente pra passar as festas com eles. Vamos pra lá amanhã.
– Que legal.
– Sim, vai ser bacana. Sinto muito pela viagem pro Rio… talvez você e o Yibo  consigam ir no ano que vem.
– Sim, eu também… Espera. O quê?
– Rio de Janeiro. O Benjamin disse que miou, que vocês vão passar o Natal em San Francisco…? Grande passo, não? Mandou ver, Yibo ! Eu não esperava isso dele.
– Hein?!
JiLi apareceu na porta de novo, e eu gesticulei para que ele aguardasse um minuto. Jillian percebeu.
– Bem, acho que você está muito ocupado, então vou te deixar em paz. Divirta-se na festa hoje!
Ela desligou. Eu desliguei. Foi como se o mar de Ipanema tivesse me engolido.
Voltei para casa assim que terminei tudo no escritório, porém a conversa não saía da minha cabeça. Eu realmente precisava de um tempo sozinho. Mandei uma mensagem para Yibo  pedindo para me encontrar no meu apartamento antes da festa. Não comentei nada sobre o Rio; queria ver a sua cara quando eu tocasse no assunto. Eu realmente não entendia o que estava acontecendo.
Entrei no apartamento com um suspiro de alívio, que escapou de mim antes que eu percebesse. O ar estava um pouco abafado; fazia um tempo que eu não voltava lá. Abri algumas janelas, correndo a mão pelo peitoril avantajado. Clive adorava um peitoril avantajado. Apreciei os enfeites, cada um deles escolhido a dedo para a decoração do meu primeiro apartamento. Através da porta da cozinha, avistei o objeto de metal reluzente, com todas as suas curvas. A minha batedeira KitchenAid.

Amor entre as paredes ( livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora