A Última Pintura.

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De tanto sangrar em vão, jorrei-me sobre uma tela numa dança ininterrupta da qual somente minha essência reivindicaria; transferi minha alma suja para a tal arte ensanguentada. E com meus dígitos derramados sobre a tela, deslizando até ganhar formação, guiei meus próprios demônios, fazendo deles marionetes estampadas numa pintura manchada pela dor. Fiz o que pude para ser salvo, sacrificando minha vida para libertar-me de tanto sofrimento. Ofereci minha alma como sacrifício, tatuando-a sobre o branco plano. Aos poucos, a vida fora tragada na medida em que eu me esvaí e meu corpo tornou-se uma matéria inútil que ocupava um espaço, o último espaço de minha arte. Sou o pintor que não suportou o peso da vida, mas para estar entregue à morte, registrei meu lamento em meus últimos suspiros. Doei minha vida a esta dor e, agora, preso em meu próprio sangue, grito por ajuda. E novamente, não há quem me ouça.

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