Rasgo a imundícia que me cobre, a pele suja da qual descarto em chamas, e, mesmo de tal forma, não me sinto satisfeito. No ímpeto de minha sanidade, arranco fora a língua, queimando-a até torná-la pó para não envenenar os pobres corvos; e ainda desta forma, beirando ao precipício da morte, não há saciedade em meu repugnante ser. Arranquei todos os componentes de minha face, e em gritos de agonia, concluí que de nada bastaria. Ainda que a estrutura asquerosa torne-se putrefata, nada se compara ao quão podre o meu eu se encontra, perdido nas vielas de uma cidade vazia. As larvas comem o que resta da matéria podre enquanto meu cadáver se desfaz. E mesmo com os ossos intactos, eu ainda sinto a repulsa arder como se houvesse vida além desta minha morte.

VOCÊ ESTÁ LENDO
O Jardim de Líri(c)os.
CasualeO Jardim De Líri(c)os mostra o reflexo dos fragmentos de uma alma abatida, um mundo retratado por palavras ensinadas a ser duras e astutas, mas também dóceis e acolhedoras. Um mundo de prosas, contos e poesias, onde líricos podem acolher-se a cada p...