Dono da culpa.

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Ela me cobriu com o véu sangrento dos teus olhos melancólicos. Os respingos de seu carmesim tilintavam em minha pele, seguindo seu próprio percurso ao me sujar com sua tristeza. E os pés falharam quando seu corpo uniu-se ao chão, rasgando uma pele que antes não possuía feridas. Covarde, não ofereci ajuda quando ocupei-me com meus passos desordenados, fugindo de sua dor para que, não mais, trouxesse seu sofrimento.

Se eu a erguesse daquele chão, mesmo sendo o culpado de sua dor, ela deixaria de chorar?

Quanto mais velozes estavam meus pés, maiores eram os ecos de seus gritos de dor. Um covarde a deixou sozinha em seu sofrer, e por medo de fazer sua dor ser maior, não quis correr o risco de acabar sendo o causador de sua morte.

E quando, por ela, eu decidi voltar, o esforço foi tardio. Mesmo com o chão coberto de sangue, seu corpo havia partido e encontrado seu próprio rumo, sozinho. Então, me derramei em seu sangue ao afogar-me na culpa, numa angústia que uniu nossas essências; o meu carmesim que uniu-se ao seu. Você seguiu uma nova trilha, e eu, sigo me afundando até a morte.

Morrendo para mim, morrendo por você.

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