- Tá e você pretende investigar a Helena ...Ela falou de brincadeira, mas a sobrancelha esquerda que levantei a fez revirar os olhos. Estava tão preocupada com meus sentimentos (a fatídica constatação de estar apaixonada pela Helena), que me esqueci completamente na análise que solicitei na Junta Comercial. Abri meu e- mail e descobri o nome da dona da Galáctica S/A, Vitória Felício Moraes. Peguei o endereço e não quis saber de porra nenhuma.
- Aonde você vai ô maluca? Tem reunião de coordenação às duas.
- Ainda são dez da manhã, relaxa, volto em tempo, qualquer coisa, tranca o banheiro dos deficientes e diz que estou lá com diarreia.
- Ah. Capaz, Clara !
Fui.
Saí discretamente e alcancei o primeiro táxi que passava, muita sorte, seguimos para o endereço da Galáctica S/A.
- É aqui, moça. –
- Obrigada. – Paguei ao motorista e desci do táxi um tanto quanto chocada.
Estava em um bairro decadente da zona norte do Rio, perto da linha do metrô, tudo tão estranho, conferi novamente e era lá mesmo, apertei o interfone do 302 ela atendeu. Disse que era do senso e ela abriu a porta quase que de imediato. Cara, ninguém é visitado pelo senso! E se alguém diz "sou do senso", as pessoas correm pra participar da pesquisa!
Agora eu peguei aquela filha da mãe arrogante!
Subi os lances da escada quase colocando os bofes pra fora! Dei uma respirada e toquei a campainha, a porta nem olho mágico tinha, ela abriu de uma só vez e nos encaramos. Estava vestida com uma roupa simples, jeans e camisa de uma deputada estadual, baixinha.
- Por favor senhora, bom dia, antes de mais nada, gostaria de falar com Vitória Felício Moraes.
- Sou eu.
- Você? Não é não!
- Sou sim.
- Não é não! Claro que não é!
Ô moça, a senhora tá doida? Ah! Já sei... – ela colocou a cabeça pra fora do apartamento olhando o corredor – é pegadinha.
- Não. – fiquei confusa – Desculpe, mas a Vitória que conheço tem quase 1,65 de altura, cabelos castanhos, olhos castanhos e tem uma boca linda, as coxas são grossas...
A mulher me olhava espantada, Deus eu estava toda derretida pra descrever a Helena , ou Vitória, ou seja lá quem ela for.
- Senhorita, não tem ninguém aqui com essa descrição não, eu que moro aqui. – é, tá na cara que essa mulher não era nem de longe a Helena . Então inesperadamente ela puxou a identidade da carteira em cima da mesa, é... era, Vitória Felício Moraes a baixinha. Me desculpei e fui embora.
Que absurdo! Ela usava um endereço fantasma e um laranja! Ou... essa mulher estava escondendo a Helena de mim! Agora isso virou questão de honra!
Na terça-feira pedi pra uma colega do trabalho ligar pro celular dela e perguntar se ela estava disponível. Expliquei que se tratava de uma brincadeira com uma amiga antiga de faculdade, um trote bobo. Sol ficou indignada, ela achava que eu deveria estar fazendo outra coisa, ao invés de procurar, como foi que disse... ah sim, chifre em cabeça de cavalo.
Quando a Fatinha ligou ela disse que não estaria disponível por um longo período. Pelo menos me deu exclusividade. Isso foi uma coisa que gostei de saber. Quarta-feira, dia muito chato, cheio de problemas no trabalho, me aborreci como nunca antes com um colega, isso é tão desgastante, odeio essas discussões sem fundamento nem finalidade.