Repelente

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Vesti um short jeans e uma camiseta branca, saí do chalé e fui até o salão onde eram servidas as refeições, não a encontrei.

- Bom dia, tia Ana, a senhora viu a Helena?

- Ela saiu bem cedo, mas disse que voltava antes do almoço.

- Que estranho.... Não me avisou nada.

- Somos todos estranhos, não vê o seu tio Bento?

- O que tem o tio Bento?

- Também saiu cedo e ainda não trouxe o que eu pedi!

- Tia, alguma notícia do Fiuk? Ele disse se chegava logo?

- Devem estar chegando, passaram a noite no Rio de Janeiro, então já devem estar na estrada, daqui a pouco chegam.

- O que vai ter no almoço?

- Ah, como eles estavam em clima de praia achei melhor não fazer truta, vamos servir um cozido.

- Cozido, tia? - sei que minha voz saiu em tom de reclamação e melosa, mas poxa, precisava ser algo tão pesado?

- Seu irmão e a Helena adoram. Cozido sim.

- Ah tá, mas me dá a opção de frango grelhado..

- Vai emagrecer mais o quê daí? Daqui a pouco sobra apenas a bunda e sua caveirinha. - torci um bico contrariada e cruzei os braços. - Ah. Você sabe que sempre coloco opções. Que menina mais chata! Frango com salada, tá bom?

Sorri e lhe dei um beijo, tia Ana era uma matraca, adorava partilhar informações confidenciais ou restritas da vida alheia, queria obrigar-nos a comer só o que ela achava que tinha de ser, mas ela nunca resistiu a um bico que fazia, acho que se recordava da minha infância e acabava me fazendo as vontades.

Realmente não queria, ou melhor, não podia engordar, estava decidida a desfilar no carnaval, precisava sentir aquela emoção mais uma vez e se antes era pra espantar a tristeza, naquele momento era pra celebrar minha alegria.

Helena chegou de carro enquanto me balançava na rede da varanda do chalé principal. Sorriu assim que me avistou e meu coração pulou, estava me sentindo uma garotinha com seu primeiro amor, acho que no fundo era isso mesmo, era uma garota com seu primeiro e verdadeiro amor.

- Oi, bom dia. - se inclinou e nos beijamos, agora sim, parece que meu dia estava começando, às onze da manhã.

- Bom dia. Foi ver aquele seu amigo?

- Hmmm... Não.

- Então aonde você foi?

- Comprar flores pra voce.

- Está brincando?

- Não. Falo sério, mas agora comprei as flores certas, sei que detesta rosas.

- Não que deteste, mas... espera um minuto, deduziu que eu não gosto de rosas?

- Bom, mandei algumas para o seu apartamento e todas foram devidamente jogadas no lixo.

Bateu uma certa vergonha com ela falando daquele jeito.

- Não foi bem assim, só achei que estivesse tripudiando de mim. E não quero falar disso!

- Certo.

- Que flores você comprou?

- Flores do campo.

Sorri.

Ela acertou, eram minhas favoritas. A mistura das cores alegres me deixavam muito feliz.

- Tem razão, minhas favoritas.

- Bento me contou.

- Você encontrou o tio Bento?

- Sim, na verdade ele e eu fomos juntos e no caminho me disse muitas coisas interessantes a seu respeito. - arrumou a rede e se sentou de frente para mim.

- Tipo o que?

- Coisas que você gosta, que não gosta. Coisas.

- Coisas... Tio Bento está me saindo como a tia Ana.

- Por falar em tia Ana, tem algo que gostaria de combinar com você.

-O que é?

- Bem, seu aniversário está chegando e gostaria de oferecer uma festa pra comemorarmos.

- Comemorarmos minha velhice... Vou adorar. - dei-lhe um beijo apenas colando nossos lábios.

- Bem, gostaria que conhecesse minha família nesta ocasião.

- Ah. Isso será perfeito!

- Na verdade tem um detalhe que acredito, não tenha se apercebido.

Que detalhe?

- São muito.. como eu digo isso? Muito como a tia Ana, mas pior.

Será que havia entendido certo?.

- Como assim?

- Todos somos muito unidos e.. É difícil controlar a participação de cada um em nossa vida.

- Lena, fica tranquila, não sou nenhuma boba, sei que você vem de uma família de italianos e imagino bem como são, - a essa altura eu já sorria - vou explicar uma coisa, minha questão com a tia Ana é estritamente com ela. Coisas de família. Já passei situações ruins por ela ouvir coisas que não deveria, interpretar do jeito dela e passar adiante, entende? Me resguardo com ela, pois nunca é como contamos, sempre vira fofoca.

- Então, se não é sempre como ela conta. Não foi verdade que caiu no braço com a Pocah?.
-Fiquei estática.

Não queria que ela soubesse desse detalhe absurdo. Isso foi um descontrole da minha parte! Agora deveria estar me achando uma pessoa sem a menor classe.

- Calma. Não precisa ficar com essa cara, confesso que sendo verdade, me deixou orgulhosa. E envergonhada. Esse deveria ter sido o meu papel na história.

Relaxei visivelmente deixando meus ombros caírem e o ar sendo solto de uma vez dos meus pulmões.

- Poxa, eu nem sei o que dizer.

- Sinto-me realmente envergonhada por isso Clara. Agi mal, nem sei o que senti direito, pensei tantas bobagens...

- Já foi, Helena, deixa isso pra lá.

Recebi um beijo delicioso, segurou meu rosto nas mãos, puxando meus lábios nos dela seguidas vezes me fazendo sorrir. A buzina do carro de Fiuk nos tirou daquele momento de carinho e me jogou na euforia de rever meu irmão. Luiza estava linda! Sorrindo e sacudindo os braços pela janela do carro, estava levemente corada, com um sorriso que não saia do seu rosto por nada.

Descemos para recebê-los. Quando meus braços encontraram o abraço de meu irmão, me senti em paz. Me desculpa, ele disse sem que eu pudesse entender num primeiro momento,beijei forte suas bochechas e logo Luíza me arrancou daquele abraço para me dar outro ainda mais apertado.

- Ah! Que ótimo que vocês estão juntas.

- Eu digo o mesmo! Que ótimo que conseguir segurar o Fiuk.

- Não seja boba.

A Acompanhante - ClarenaOnde histórias criam vida. Descubra agora