Narração Sol
Ligação on
- Oi.
- Oi.
- Que horas são em Pequim?
- Quase vinte horas.
- E está tudo bem? – Bárbara me preocupou.
- Sinceramente, estou com saudades de casa, da comida, de tudo, da língua portuguesa e da comida...
- Quando ela falou duas vezes da comida, precisei me segurar para não rir, a comida era realmente um ponto complicado em Pequim.
- Desculpe, estou tentando entender uma coisa, quando você disse comida e depois comida, estava se referindo aos alimentos digeríveis e a sexo, ou apenas alimentos que se mastiga e engole?
- Seu senso de humor melhora a cada dia. Refiro-me a comidas comestíveis, mas já que tocou nesse contexto...
- Preciso perguntar, você tem ligado para Mônica?
- Eu... na verdade não. Isso é muito ruim?
- Depende do ponto de vista, se quer mesmo manter um relacionamento a três...
- Ah é que tem horas, como agora, que não dá pra contar com as alucinações da Mô.
- Aí você me liga, sabendo que tem uma grande chance de sermos interrompidas...
- Desculpa! Não era pra ligar? Olha, um telefonema interurbano hoje em dia é praticamente uma prova de amor, imagine um telefonema internacional?
- Você está certa Babs... me perdoe. – fiquei totalmente sem graça com as palavras da Bárbara. – Como foram as negociações?
-Esmagadoras.
A voz da minha querida atravessou as paredes, avisando que sairia por um instante.
- Desculpe, agora estamos sozinhas.
- Onde Mônica foi?
- Não sei. Não me levantei pra olhar. Escuta, não esquece do que te pedi pra trazer pra Clara ein.
- O que?.
- Você esqueceu. Puta merda, você não presta atenção em nada que eu falo!
-Estava prestando atenção em outra coisa na hora.
- Como o que, por exemplo?
- No seu corpo, no seu abdômen, no jeito como você fala, quando não está pirando, é claro. – Isso, foi estranho e lindo ao mesmo tempo.
- Fico pensando que as vezes parece que estamos fazendo alguma coisa de errado, pelo simples fato de não poder assumir que te amo porque você já fez isso, com... ela.
- Não seja ridícula, Bárbara! Pensei que estava tudo bem, ainda antes de você ligar estava pensando no quanto tudo está perfeito na minha vida e..
- Perfeito na sua vida, muito bem colocado.
- Estamos em crise?
- Não Sol ! Eu só... eu... estou com saudades, queria fazer... sinto falta. Já estamos longe há uma semana.
Quer fazer sexo por telefone?
- Tá de brincadeira, não é?
- Falo sério. Você está deitada?
-Es...tou, agora estou.
- Então tire a roupa e me imagine por cima, acariciando suas costas... Você gosta do jeito como eu te toco não é Babs.
- Sim... eu adoro... pronto tirei a parte de baixo.
- Ah sim... isso é bom... gosto de sentir sua buceta na minha mão, está sentindo como eu esfrego firme?
- Hmm... sim... você é incrível... deixe-me massagear sua bucetinha..
Naquele mesmo instante desci uma das mãos para me tocar e justo naquele momento fomos interrompidas.
- O que você está fazendo? – a pergunta me atingiu com uma voz mais aguda e preocupada, ao menos foi assim que a percebi e quando me preparava para respondê-la, prosseguiu. – Eu só fui colocar o lixo pra fora! Não acredito que estão fazendo isso comigo, quero dizer... sem mim.
Mônica sorriu e se aproximou, enquanto Bárbara permanecia muda desde o instante que ouviu a voz de nossa namorada.
- Coloca no viva voz. – resistir pra que?
Apertei um botão e logo Mô estava de quatro em cima de mim inclinando-se para o aparelho.
- Babs, meu amor, serei suas mãos e dedos e língua.
- Mônica... minha boneca, também sinto sua falta. – Bárbara era muito carinhosa conosco e me surpreendeu que Mô deixasse de lado sua passividade e assumisse uma postura ativa.
- Diga-me... Que gosto tem Sol , hoje de manhã?
- Peraí vocês... enlouqueceram? Meninas, estamos em contenção de despesas, o Mercado não está favorável.
- Por falar em mercado, precisamos fazer as compras de mês. -muito bem lembrado por Mônica, a geladeira estava ficando só água, ovo e luz.
- Meninas... meninas. – continuamos a recitar as listas de obrigações e por ignorarmos seus chamados, Bárbara gritou – MENINAS!!
- O que? – respondemos juntas.
- Eu quero fuder! Pode ser? Tô pagando DDI pra falar de cartão de crédito e compra de mês! Cacete, tô brochando aqui.
Olhamos uma para a outra, para o telefone e mais uma vez uma para a outra, torcemos a boca numa careta e negamos ao mesmo tempo com a cabeça, a vontade simplesmente passou.
Nos desculpamos.
Então, enquanto Bárbara voltava com sua narrativa erótica, Mônica nos trouxe duas folhas de papel e duas canetas, sacudimos as mãos e lançamos dedos ao ar, quatro dedos, letra D. A voz de Bárbara atravessava o aparelho.
"estou enfiando um dedo na bocetinha de cada uma..."
Mônica gemia um "ahhh" bem alto enquanto eu simplesmente puxava o ar entre os dentes com um sonoro "shhh" as vezes um "
Shhh...aaah...hmmm".
Viramos nossas folhas dobradas para comparar nossas respostas.
Homem: Fiuk, ela escreveu Danilo dez.
Mulher: ambas escrevemos Clara e reviramos os olhos ao constatar isso. Cinco.
Animal: Dromedário e Dinossauro. Dez.
Cor: Dourado... cinco.
Às vezes somos tão passivas, dourado é tão passivo. Bárbara continuou narrando nosso sexo por telefone, agitamos as mãos e era a letra H, essa letra não, então jogamos mais uma vez, F,letra F.
Mônica resolveu pedir para que Bárbara não parasse naquele sequencial de "não pare, não pare" sempre seguido por um gemido longo ao final.
Escrevia Ferrari e complementava o ela dizia com "ai, assim... assim... continua, isso, assim".
Mais oito minutos e duas rodadas de adedonha e Mônica começou a gozar pelo telefone, logo eu também e Bárbara em seguida, mas no caso dela sem dúvida havia melado de porra o lençol do hotel chinês. Um tanto mais de palavras doces e melosas e desligamos o telefone com promessas de amor e afirmações de intensas saudades, Barbara pode dormir sem dores, e nós nos levantamos para uma caminhada.
- Sol a Bárbara ficaria muito chateada com a gente.
- Só se você contar, você vai contar? Eu não vou.
- Não, pra que? Puxa, eu a amo tanto... mas o clima simplesmente furou e a culpa foi sua. – Foi nada, bárbara que continuou o assunto aproveitando pra jogar na nossa cara os gastos.
O celular tocou, Mônica o atendeu sorrindo e logo o passou para mim.
Clara .
- Fala minha irmã. Bom dia.
- Bom dia, meu amor, tá pensando em fazer o que neste lindo feriado?
- Caminhar na praia, depois dar uma passada na loja...
- Por falar em loja, vem lanchar comigo e traga uma cesta de bolinhos de chuva recheados.
- Recheados variados?
- Menos de banana!
Muitas surpresas no próx cap...