O telefone de Helena tocou mais uma vez, ficou me olhando, esperando que eu dissesse alguma coisa, mas coloquei os óculos escuros, e saí. Ela veio logo atrás, mantendo uma pequena distância que não me impedia em nada de ouvi-la falar em italiano, obviamente que não entendi nada.
Ela falava tão rápido, as palavras tropeçavam em meus ouvidos num tanto de erres e tes. Parecia um tanto irritada e isso dava pra sentir em seu tom de voz, entretanto falou pausadamente sua última frase antes de desligar.
- E cosa si aspettano da me? – " e o que eles esperam de mim?"
Foi o que disse.
Seriam seus novos parceiros? Será que depois daqui já havia a quem atender?
Merda!
Ela vai me deixar!
Por mais vontade... não iria perguntar nada, ela disse que quando voltássemos me contaria, tentei manter a ansiedade sob controle, era mais um dia de espera apenas. Mais que Diabo estava pensando? E o homem do restaurante? Precisava escapar até a entrada de Penedo!
Helena não se despediu, desligou, enfiou o telefone no bolso do short jeans e com três passadas largas me alcançou, eu estava de braços cruzados e ela me abraçou por trás, beijando minha bochecha.
- Desculpe, minha linda.
Tudo bem. – Helena nos parou, me virou para ela e encostou as costas da mão em minha testa.
- Tá doente? Não vai perguntar nada, logo minha curiosa incurável?
- Não e não. Não estou doente e não vou te perguntar nada.
- É mesmo?
- São detalhes... – minha Nossa quanta mentira.
Estava a ponto de ter um treco!
Entramos na cozinha pelos fundos, tia Ana e as ajudantes preparavam o almoço, mas ela nos serviu de café, bolo, pão doce e iogurte, ficamos à mesa da cozinha e por algum milagre, tia Ana não sentou-se conosco para trocar informações.
Na verdade estava reclamando um bocado, não estavam acertando parte de uma receita nova que ela queria servir no almoço.
- Tia Ana, sabe da Sol ?
- Saiu cedo com a Mônica. – sabia.
Mônica era prima da Luiza e ela era bissexual.
- E meus primos?
- Alan ainda não saiu do quarto com a namorada, Gil está na piscina com Arthur, e Rosane foi na rua com a Sol e Mônica.
- Tio Bento, tia Emília?
Tia Emília era irmã de tia Ana e Rosane e Gil, seus filhos, não eram meus primos de sangue, mas era como se fosse. Muito embora Rosane fosse uma dessas periguetes.
Bento não sei, Emília acho que na horta arrumando a tela que despencou.
- Hmm...
- Mais que droga! – tia Ana vociferou de um jeito que fez a mim e a Helena olharmos espantadas.
- Tia, que tanto a senhora tenta fazer?
- É o molho da caçarola de frutos do mar, não está ficando bom!
Helena esticou os olhos na direção dela e sorriu balançando a cabeça.
- Que foi, Helena ?
- A pimenta está errada.
- O que disse? – tia Ana tinha um ouvido muito bom.
Credo !
Helena falou tão baixinho. Se levantou ainda mastigando o bolo de laranja, parou ao lado de tia Ana, caramba, ela era muito pequenininha perto da lena, Helena empurrou o bolo para o canto da boca.