Se vocês forem legal engajando. Talvez eu volto. Se não até amanhã beijos.
Entendi o recado.
Me levantei e andei até a porta.
Eu disse que podia sair? – parei com a mão na maçaneta, só então percebi que mais uma vez havia esquecido de tirar aquela merda de aliança falsa!- Você trabalha pra mim, ainda, sente-se.
É sério isso?
Ela estava me repetindo em nossa discussão no chalé?
Respirei fundo, voltei e me sentei, queria ver até aonde ela iria com isso.
Demorou-se lendo os rabiscos em silêncio.
- Não tem apenas a sua letra aqui. – então sorriu maliciosamente.
- Não senhora Di Piazzi. – respondi naturalmente.
- A senhora não é confiável? – quem era ela pra falar em confiança? – Passou o trabalho que lhe incumbi a outra ou outras pessoas?
- Sim senhora. – respondi como se isso fosse lógico e ela estivesse me fazendo uma pergunta idiota.
- Por quê? – parecia um tanto irritada, e eu não estava gostando do rumo daquela conversa.
- Porque uma das diretrizes da companhia é que se valorize o trabalho em equipe, você pediu urgência, "quarenta minutos", a gerente comercial e a analista Ágata estiveram presentes para o cumprimento da tarefa. – respondi segura.
Helena ficou com a boca entreaberta e negava com a cabeça, por fim passou a mão nervosamente pelo cabelo, despenteando-o e o deixando incrivelmente sexy, novamente respirou fundo soltando o ar de uma só vez.
- Eeeu... Vou precisar de mais tempo pra ler suas considerações a respeito dos contratos. – dessa vez falou respeitosamente.
Me levantei, ela observava.
- Se é tudo com licença, Doutora Anghela. – não me respondeu, me encaminhei até a porta, mas então me lembrei de algo – Apenas um adendo, - mais uma vez me viro e o vejo ainda com os olhos em mim. Ao final de cada contrato encontrará páginas a mais, são gráficos indicadores, a cotação dos valores de reajuste anual com a previsão do dólar nos meses críticos e uma cópia do contrato com as alterações já consolidadas a fim de preservar a companhia.
Helena se recostou na cadeira e folheou as páginas finais da encadernação que segurava. Parecia impressionada.
- Boa noite, senhora.
- Por que fez isso? – ela não me deixava ir?
- A senhora disse, "surpreenda-me positivamente". Agora com licença.
- Clara Caroline!
- Sim. Senhora... – agora deixei um tom de voz descontente no ar.
- Ficamos um tempo nos olhando e aquilo me machucou bastante, ela parecia querer dizer algo, mas não falava nada só ficava me encarando. Não sei se é possível manter qualquer relacionamento que fosse com aquela mulher, não sabendo que ela era... ou, foi, a única que me ouviu de verdade, sem querer só falar de si, pelo contrário, não falou nada de si; a foda mais incrível da minha vida e o melhor macarrão com tomate de todos os tempos.
Helena parecia zangada e ao mesmo tempo confusa.
- Nada. Boa noite. – a voz era firme e autoritária num simples boa noite.
- Boa noite para o senhora também.
Narração
Helena Weinberg