Penedo

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See you Tomorrow...


-Sim, claro, amor, pega meu celular por favor? - entreguei o aparelho a ela, discou um número.

"Ágata, estarei fora o restante do dia numa reunião com a Sra. Albuquerque, avise a Bárbara (...) Não, pode transferir sim, menos o Cortez, deixe-o esperar um pouco mais. (...) Certo, obrigado,Ágata."

Me puxou para o seu lado e cai de volta na cama.

- Prontinho, toda sua.

Beijou-me seguidas vezes estalando os lábios nos meus, para se tornar um beijo mais profundo não demorou nada e daquele beijo vieram outros tantos, abraços, pernas entrelaçadas numa cama desarrumada.

- Segundo tempo, querida?

- Sem dúvida.

- Mas depois, temos um assunto pra resolver.

- Aham...

****************

"Ora, porque não estou no escritório. - bati na mão dela para que me deixasse quieta."

- Essa aqui. - apontei para o estojo.

"Não, to falando com a Helena. Isso... No shopping... (...) é...."

Na vitrine, tantas opções, não sabia qual delas escolher, Sol matraqueava sem parar do outro lado da linha.

Helena jogou os lábios para o lado, puxando meu celular.

Sol, depois ela fala, estamos escolhendo nossa aliança de verdade. (...) Obrigado. (...) Pra você também, tchau.

E desligou.

-Poxa, nem dei tchau pra ela Lena.

- Não dramatiza. Dá uma olhada nessa aqui.

- não gostei, muito larga, meus dedos são finos, parece até que estou usando um aro de caminhão.

- ⁠já vi que não gostou.

Nessa brincadeira ficamos quase quarenta minutos, até que no cantinho de um estojo esquecido, lá estavam elas, um par diferente, uma mais larga e lisa, a outra parecia dupla com um brilhante. Nos olhamos e sorrimos.

- É essa aqui. - Helena indicou para a vendedora.

Eu adorei.

O resto do dia foram de coisas normais, dividir um milk shake, andar só pra olhar as roupas, ver as novidades literárias. Cinema, se bem que Helena saiu umas quatro vezes para anteder o telefone, tomar café, falar sobre tudo, rir de tudo, coisas normais e neste dia, fomos apenas um par de namoradas.

Beijos e mais beijos, pernas atrapalhadas, quase caímos, mas não paramos de rir, meu vestido foi suspenso e suas mãos me apertaram contra ela, os dedos seguindo para dentro da calcinha, apertando minha bunda, a camisa dela ficou presa nos braços, ela não me soltava e riamos contra os lábios da outra.

Uma vez mais nos amamos, brincando, entre morangos e leite condensado. Nos amamos no sofá, caímos e continuamos a nos amar no tapete.

Houve um momento em que tentei chegar ao quarto, fugindo, engatinhando, mas ela me puxou pelo calcanhar, me virou e nos amamos no chão frio do corredor. Já era madrugada quando fomos até a cozinha beber apenas um copo d'água, deveria ser apenas um copo de água.

- Você não cansa Helena?

- Fome. Fome de você.

E quando dei por mim, estava inclinada com o rosto grudado no balcão azulejado da cozinha, sendo devorada por uma mulher linda.

Ainda bem que ela ainda tinha aquela bendita pomada ginecológica. Foi muito útil no dia seguinte.

****************

- Meu, bem, por favor, fecha pra mim? - amei o vestido preto que ela me deu, para minha surpresa era um tanto desenhado no corpo, de gola alta e mangas 3/4.Ela deixou a blusa de botão aberta pela metade e me ajudou, mas percebendo meu jeito, deixou um beijo em meu ombro e me virou para encará-la.

- Que foi?

- Eu não sei como te chamar.

- Bem, se você me chamar de Anghela, só eu te respondo. Se me chamar de Helena, corre o risco do Pietro olhar.

- Anghela. Ainda soa estranho, mas vou chama-la assim agora. Anghela.

***********

Assim que estacionou em sua vaga na Battlestar, ficou parada, pensativa, ainda segurava o volante quando me olhou de lado.

- Vamos entrar juntas, como um casal.

- Não, Anghela, não acho prudente.

- Por quê?

- Porque eu não tenho nem um mês aqui, isso vai dar o que falar.

- Pietro é meu sócio, ele sabe de nós.

- Quem mais sabe?

- Que diferença faz? Você é minha noiva, lembra?

- A Sol nos noivou, isso não valeu, você sabe disso.

- Você quer um pedido formal? - agora sorria, divertida com a situação.

- Um pedido formal seria bom.

- Tá bom. Então vamos entrar, como minha namorada, juntas.

Aquele momento em que a recepcionista fica congelada na mesma posição, nem pisca ao nos ver entrar de mãos dadas. Helena tirou os óculos escuros e a cumprimentamos. Pietro foi a segunda pessoa que nos viu. Ofereceu-nos um sorriso largo e bonito.

- Sabia que fariam as pazes. - Pietro beijou a mão de Helena e a minha em seguida.- cousins. - deixou-nos com essa estranha palavra e saiu.

- O que é cousins?

- Primas. - voltou a segurar minha mão e seguimos para a copa.

É, foi um tremendo falatório, me achei meio que na obrigação de contar para Bárbara que nós havíamos namorado há um tempo e nos reencontramos, não entrei em detalhes, não naquele momento. E estranhamente não foi algo pejorativo como cheguei a imaginar, afinal eu era nova naquele ambiente, mas não, fui bem acolhida e pareceu-me que todos acharam muito bom que estivesse "namorando", a Diretora Comercial.

Então naquele fim de expediente aconteceu uma coisa estranha. Bárbara nos acompanhou num jantar simples na casa da Sol.

Mônica estava lá, uma outra novidade, porque Sol não havia me contado, mas as duas estavam em um relacionamento "seriamente aberto".

Elas se deram super bem!

Tá, eu já sabia que elas se dariam bem, afinal, Bárbara tinha excelentes piadas e Sol adorava rir, era como misturar queijo e goiabada.

Bárbara e Mônica também se deram muitíssimo bem, havia muito mais em comum do que poderíamos imaginar.

E naquela noite, apesar de acreditar que seria pedida em casamento, não fui. Mas tudo bem, rimos muito, nos beijamos muito, comemos e bebemos. E no final da noite, me levou para meu apartamento e nos despedimos no portão, com um beijo, testa sobre testa um boa noite e um te amo.

***********

- Ah por favor, Anghela, ser ridícula tem limites!

- Quero fazer isso direito, Pietro.

- Vai esperar mais uma semana? Leve de uma vez sua bambina pra jantar e a peça em casamento!

- Não. Já está decidido. Fiuk volta esta semana e haverá um almoço para recebê-los, e preciso me desculpar com todos pela forma com que fui embora.- Pietro caiu na gargalhada mais uma vez, tornei-me o motivo de suas piadas.

- Melhor mandar buscar a nonna e....

- Trazer toda a família? Não mesmo.

- Mas que estúpida! Dio Santo, Anghela, é desta maneira que quer fazer as coisas certas?

- Não é isso, vamos chamar a todos depois, sei lá, num jantar para apresentar nossas famílias.

- Está com medo? - e mais uma vez, se pôs a gargalhar - Medo da nonna! Anghela, não seja tão idiota, claro que todos vão gostar da sua ragazza, Clara é muito bonita e muito educada. Mas tome cuidado com a prima Natália, ela hmmm, non rispetta...

- Teria que estar louca para tentar alguma coisa com a minha bambina, lhe atravesso a cara no murro!

- Se eu fosse mulher eu te ajudava, mas depois que você bater podemos jogar o corpo em alguma vala e pronto.

- Tentador.

- Acho que tem de se preocupar mais com a nonna não no sentido de gostar da Clara, mas a primeira coisa que vai perguntar será sobre filhos. Já estou até vendo. " Quando i bambini arrivano?" - era tão palhaço que imitou a voz rouca de nossa avó.

- Quando virão as crianças? Se depender da Clara, nunca.

- Oh! Isso é mal. Por quê? Ela não pode?

- Não quer.

- Hmm, muito mal.... E você?

- Deixando as coisas acontecerem, um passo de cada vez. Temos tempo, ainda quero aproveitar muito só com ela. Depois a gente conversa sobre.

- Entendo, mas de toda forma, avise-a sobre o que terá de enfrentar ou perderá a noiva, namorada, sei lá o que vocês são, não se esqueça de que a Natália é solteira e não pode ter filhos, seria a parceira ideal para ela.

Soquei lhe o peito, não sei porque ainda conto as coisas pra ele. Pietro era um idiota, irônico e debochado. Fomos criados por uma legião, dizer que foi apenas pela nonna seria mentira, mas desde o falecimento de meus pais e da mãe de Pietro, a família inteira nos abrigou, crescemos juntos, escolhemos faculdades correlatas e quando jovens, dividimos as namoradas, bem, isso antes dos vinte anos.

De um batalhão de primos e primas, havia Natália, uma sujeita desprezível.

***************

Narração Helena Weinberg


Clara estava a cada dia mais linda, sempre que vinha em minha direção sorria tão feliz. Já era costume almoçarmos juntas, estranhamente achei que nos veríamos mais durante o dia, mas ela mal saia da sala e eu da minha, de alguma forma, acredito que estivesse compensando o fato de estarmos juntas sendo uma profissional incrível, a cada dia me convencia mais disso.

O único momento que era realmente nosso, era no almoço e nem sempre almoçávamos, mas era um momento nosso e das três vezes que voltamos do almoço com um pacote de fast food, tivemos a "sorte" de encontrar Pietro, no estacionamento ou no corredor, sempre nos oferecendo um sorriso irônico.

Poderia facilmente me distrair das minhas obrigações, pois Clara era uma fonte inesgotável de distração, mas ela não permitia que me desviasse, passou a checar minhas reuniões das 14h e nunca nos atrasávamos.

Era uma companheira em todos os sentidos. No fim da tarde de sexta, viajamos para Penedo e dessa vez faria diferente.

Seguimos viagem nos divertindo muito com as histórias da Sol, falei um pouco mais sobre minha família e fizemos várias paradas no caminho, queria prolongar ao máximo o tempo que ficaríamos à sós.

Comecei a reparar em coisas que ela fazia que não havia me atentado antes, claro, estava mais ocupada com seus lábios, seios, pernas e bunda.

Clara demora enquanto pisca toda vez em que acha absurdo algo que tenha dito. Tem manias canibais como tentar arrancar uma cutícula imaginária do canto do polegar esquerdo, e sempre faz isso quando está distraída com algum pensamento, faz um biquinho quando está nervosa, ou dançando, eu acho a coisa mais linda.

Estala as costas a cada vinte minutos e todas as vezes me pergunta num misto de espanto e divertimento "escutou isso?".

Claro que eu escutava, não sei como não quebrava a coluna fazendo aquilo.

E quando olhava para ela, o jeito como enrolava o cabelo pra nada, pois se soltava do coque quase que imediatamente, o modo como sorria cada vez que nosso olhares se encontravam. Quando olhava pra ela, nada mais no mundo importava e eu só queria apenas olhar pra ela e receber aquele sorriso de volta.

Quase dez da noite chegamos em Penedo, como de costume precisava cumprimentar um velho amigo de meus pais.

O dono do restaurante que servia a melhor truta ao molho de maracujá de toda a região.Foi estranho, Clara parecia envergonhada quando a apresentei ao Hans.

Assim que entramos no carro ela me contou o que havia feito. Primeiro, acho que pisquei os olhos umas cem vezes seguidamente.

Depois, fiquei só admirando o jeito dela, cenho franzido e segurando um lado do lábio inferior nos dentes, antes que ela começasse a arrancar os pedaços de seu polegar, balancei a cabeça em negativa e lhe dei um beijo.

Ela sorriu.

- Não tá com raiva?

- Não, Clara. Tudo bem, nós duas nos divertimos muito mais do que nos estressamos.

- Fale por você. Eu passei o tempo todo uma pilha!

- Você é uma boba e eu te amo.

- Eu também te amo.

Ela estava certa, no fundo sabia disso, brinquei bastante com fogo e deu no que deu, mas o fogo que realmente valeu a pena me queimar, foi o dela.

Nem de longe alguma vez encontrei uma mulher que me complementasse tanto, profissionalmente, como amiga e como amante.

Tia Ana estava acordada e bem falante, buscou todas as informações possíveis sobre o que nos aconteceu, fico impressionada em como a Clara não tem muita paciência com isso e talvez,se torne um problema para nós.

Minha família é italiana e não há nada que não partilhemos uns com os outros, querendo ou não. Percebo, ainda quando sorri, que fica muito incomodada com as perguntas da tia Ana. Bem diferente de como age com o tio Bento.

- Fico feliz que tenham se acertado. - o velho senhor a abraçou e me dirigiu um sorriso amável.

- Obrigada, tio, é muito bom saber que posso contar com o senhor.

- Sempre. E você, moça, acabaram-se as dúvidas pelo visto.

- O senhor tem uma boa visão, senhor Bento.

- Tem coisas que não se pode esconder. Apenas para que descansem sossegadas, tive uma conversa muito séria com Pocah.

- Ah... tio.

- Disse a ela que era bem-vinda apenas quando chamada pelo Fiuk, mas depois de contar o que aconteceu ao seu irmão..

- O senhor contou? - ela parecia surpresa.

- Óbvio que contei! E ele ficou um tanto bravo.

- Um tanto bravo não é muito bom.

- Como assim? - não entendia do que falavam.

Clara me explicou que o irmão certa vez quebrou um bar inteiro num acesso de ira, tempos passados ele classificou o incidente dizendo que. estava "um tanto bravo, naquele dia".

Passamos pelo ritual da tia Ana, jantamos, conversamos até a madrugada nos alcançar com tio Bento e por fim, voltamos ao chalé, que ela disse não ser mais seu preferido.

Achei que devia a ela, bons momentos naquele Chalé, para que voltasse a ser seu preferido.- Pensei numa coisa..- disse a ela enquanto lhe esfregava as costas.

- No que pensou?

- Na verdade pensei em duas coisas. Amanhã, quer dizer, hoje, depois de almoçarmos com seu irmão, que acha de um passeio?

- Passeio? Tá bem. E a outra coisa?

- A outra coisa... - beijei seu pescoço enquanto a água do chuveiro caia sobre nós - pode começar aqui, debaixo d'água ou se preferir... na cama.

- ela se virou e nos beijamos.

- Sexo?

- Ahamm...

Senti o sorriso dela se formando em meus lábios. Sorri junto. Ela fazia meu corpo reagir tão rápido. Escorreguei minhas mãos por suas curvas bem desenhadas, sentindo o toque de seus dedos em meus braços, os lábios macios e quentes.

Poderíamos ter feito ali mesmo, estávamos muito excitadas, mas não.

Queria que ela estivesse confortável, então nos enrolamos nas toalhas e a levei para a cama.

Era bom olhar em seus olhos enquanto a penetrava.

Senti-la por dentro, da maneira incrível como se apertava em meus dedos. Precisava estar atenta ao que ela ansiava, que não fosse apenas uma foda gostosa, mas que ela percebesse que me importava em vê-la- feliz, em satisfazê-la.

O sexo com ela era complicado, exigia muito de minha atenção e controle, era fácil se perder em seu corpo e seria imperdoável que gozasse antes dela.

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Narração Clara Albuquerque 

Assim que me levantei, percebi que estava sozinha no chalé. Helena foi tão mais carinhosa que o de costume e isso era muito importante pra mim.

Pensei que a encontraria ao meu lado, mas não, já havia se levantado e acabei por fazer o mesmo, segui pra o chuveiro e resolvi tomar um banho rápido e ver o que havia acontecido para que me deixasse sozinha.

A Acompanhante - ClarenaOnde histórias criam vida. Descubra agora