Mas só que...

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Último cap :(


Leiam com atenção


- Menos do seu preferido, certo... enjoou deles?

- Enjoei sim.

- Tá legal, nos vemos lá pelas dezesseis horas.


Ligação off


Clara  comia tanto os bolinhos recheados de banana caramelada que nos últimos dias era um prejuízo quando ela colocava os pés na loja. Ainda que a mulher dela fosse minha sócia, não dava pra ignorar o fato de que comia o tempo todo sem pagar.

Ah minha Nossa.

Estava pegando o pão durismo de Bárbara. Passeamos na praia, Mônica e eu, almoçamos no quiosque e só então fomos para a loja no shopping, esse era definitivamente o lado ruim do comércio, não tinha jeito de fechar pra descanso, todo dia marcávamos ponto por lá, mas no fundo não reclamava, qualquer coisa era melhor que trabalhar onde Clara eu trabalhávamos com Rodolfo como chefe.

- Mônica, faz um favor pra mim? Dá uma conferida no livro estoque e compara com o que tem de fato.

- Claro, tudo bem. E você o que vai fazer?

- Livro caixa, vou conversar com o gerente... – naquele instante avistei uma cobra serpenteando na direção da loja.

-...Oh Deus!

Senhor daime paciência foi o que pedi em meu íntimo. Mônica se virou e soltou um suspiro demorado, depois se retirou.

- Boa tarde, Sol .

- Boa tarde, Roberta. Em que posso ser útil?

- Faz tanto tempo que a gente não se fala, estava aqui com minha namorada e te vi passar... a loja é sua?

- É.

- Hmm... Legal... e a Clara ? Tudo bem com ela?


- Tudo bem com ela, comigo, com a Mônica, a Helena , tio Bento, Fiuk, Luiza, tia Ana, Gil, tudo bem com todo mundo. – sei que fui agressiva naquele momento, mas depois da trepada furada da manhã, paciência era o que eu não tinha.

- Desculpa eu só pensei em te cumprimentar, saber como estão todos...

- Já que estamos falando da saúde de todos, e a Pocah notícias dela?

- Nos falamos um tempo depois do casamento, ela estava se sentindo muito sozinha, não queria mais nem olhar pra ela. Mas foram só alguns telefonemas...

- E sua namorada, quem é?

- Ah é Sabrina, ela é professora da academia onde estou fazendo dança.

Estiquei os olhos na direção em que Roberta olhava, e que coisa mais horrorosa era aquela mulher? Parecia um monstro de tanto músculo e pelo jeito com que ela olhava para as meninas ao redor. Roberta devia ser a mais corna das namoradas. A justiça tarda mais não falha.

******

Quando Clara abriu o portão para me receber, percebi na hora que tinha alguma coisa diferente acontecendo, ela estava com um sorriso tosco, fazia tempo que não a via com aquela cara, desde, desde a primeira vez que transou com a Helena .

- Trouxe meus bolinhos?

- É lógico e boa tarde pra você também, que mania de não falar direito comigo.

- E Mônica?

- Ficou na loja, resolvendo umas coisas pra mim. Você não vai acreditar quem perguntou por você.

- Quem? Se disser ninguém vou bater em você.

- Quase isso... Roberta.

Clara  parou nos degraus antes de abrir a porta da sala e me olhou desconfiada.

- É sério?

- A vaca deve estar com a cabeça pesada de tanto chifre. Arrumou uma bombadona, parece uma corneta, esquisita com pernas finas e um nariz, ela me lembrou...- não aguentei,com a lembrava do rosto da mulher e cai na gargalhada.- ela tinha a cara do Popeye!

- Cruzes, que horror. Ah, foda-se. E meus bolinhos?

- Aqui.

Adorava a casa delas, tudo era tão clarinho e havia tantas plantas e claridade.

- Cadê o Bolota?

- Conseguimos mandá-lo pro banho e tosa. Sente-se, vamos conversar um pouco.

- Sim, sabia que tinha alguma coisa pra me contar.

- Tenho um convite pra fazer, na verdade, Helena e eu temos.

- Por falar nela, cadê a bonita?

- Está no quarto, conversando com a nonna... Ah! Olha ela vindo.

Helena se aproximou e nos abraçamos, ela sorria tão feliz, então ficou ao lado de minha melhor amiga e seguravam as mãos.

- Falou com a nonna amor? – Clara perguntou baixinho, parecia tensa.

- Tudo certo.- respondeu com um sorriso ainda mais aberto.

- Hoje é o dia das ligações internacionais, Bárbara ligou hoje e.... – eu até contaria, mas Helena  estava olhando curiosa e achei melhor preservar a Babs, acho mesmo que a bonita não deixaria de sacaneá-la na primeira oportunidade. – deixa pra lá... Mas fala, o que vocês querem?

- Lembra do meu aniversário de 30 anos?

- Inesquecível! Ficamos um tempo no banheiro...

- Lembra do que conversamos um pouco de ir embora?

- Ah não vou lembrar.... Refresque a minha memória, mas antes refresque a minha garganta, por favor, cerveja?

- Temos. – Clara  serviu a bebida em uma taça e a deslizou suavemente para mim.

- Não vão me acompanhar?

- Não estou com vontade.

Olhei para Clara  esperando sua resposta, ela sorriu e uma de suas sobrancelhas arqueou levemente.

- Gestantes não devem ingerir bebida alcoólica.

O Mundo parou.

Então um grito enorme explodiu de mim e logo dela.

- E você será a madrinha.

Seria a madrinha com muito orgulho, meus olhos marejaram e os dela também. Já conseguia me ver ensinando tudo o que realmente valia a pena ser ensinado para aquela criança.

Suspirei.

Sorri de lado. Às vezes acho que a Clara  não pensa muito bem em suas decisões.

********

Oito meses depois


Narração Helena  Weinberg .

- Diga-me, sempre tive curiosidade em saber. Porque fez a Clara , na verdade eu, pagar os dezoito mil? Era pra dar veracidade na brincadeira?

- Não. Quero dizer, num primeiro momento sim... Sei lá! Queria ver até que ponto ela iria por mim ou por ela, já que estava tão empenhada em aparecer com alguém no casamento do Fiuk.

- Você não é uma mulher normal.

- Não seja tão radical, Sol , eu sou tão normal.

- Ou seja, você é pirada.

Sol e eu nos encarávamos por intermináveis segundos, tentávamos sustentar um olhar sério, mas de repente ela rasgou no rosto os lábios finos e largos num sorriso amplo, me obrigando a rir também e logo estávamos gargalhando diante das lembranças de minha louca história de amor com sua melhor amiga.

- Achei o máximo sua prima Sophia vir ajudar com a Luna, essa menina já vai nascer cheia de mimo.

Por falar na bebê... acha que a Clara tá bem com a Bárbara e a Mônica?

- Com certeza...

Desviamos os olhos ao mesmo tempo para o pátio de aviões.

Silêncio.

Fitamos o cenário de céu azul emoldurado pelas vidraças de esquadria metálica, mas logo voltamos a nos encarar, seriamente preocupadas.

Narração Clara  Albuquerque

Barra da Tijuca

- Você quer água, Clara?

- Não, estou ótima, obrigada. – já não aguentava mais o tanto de coisas que me ofereciam a cada cinco minutos.

- Quer... mais uma almofada? – olhei propositalmente para o sofá em que estava aninhada, nele, inúmeras almofadas. – Não. – respondi secamente. Bárbara intencionou abrir a boca e me precipitei em falar antes dela. – Estou tentando entender essa mania de ficarem em cima de mim.

- Helena foi bem clara, se ela espirrar esteja com um lenço à mão. Revirei os olhos diante daquela imbecilidade e me esforcei para levantar, arrastando a bunda para a beirada do sofá e me apoiando no assento almofadado para me pôr de pé, de repente dois pares de mãos surgem a me amparar.

Suspirei irritada.

- O que você quer fazer? Quer ir para o quarto? – Bárbara perguntou preocupada quase atropelando as palavras.

- Quer deitar um pouco? Quer iogurte?

Hein? Iogurte? Mônica é maluca.

- Não! Eu só quero ir ao banheiro. – a vontade de Helena em ser mãe estava alcançando níveis absurdos de cuidados! Havia sim limitações aos oito meses, ou como costumamos contar trinta e seis semanas e dois dias, mas nada que me impedisse de... a menos que... – Bárbara, por que disse que a Helena a recomendou mil cuidados comigo? – comecei a perguntar assim que saí do lavabo.

- Coisas de mãe? – aquela sobrancelha levantada apenas no topo do nariz me fez espreitar os olhos e cruzar os braços.– É que... você-você...está muito...- ela escolhia as palavras enquanto olhava de um lado a outro na sala. – sem muita paciência. – por fim decidiu dizer que eu estava neurótica.

- Está dizendo que ando nervosa? Irritadiça? Chiliquenta?- não pude conter minhas mãos gesticulando sem um rumo certo.

- Nãaaao.... Bem, sim, um pouco.

- Bárbara, - com um dedo indicador em punho mostrei a ela que tinha eu todos os motivos do mundo para estar chateada. – Estou pesando quase noventa quilos, desses noventa, trinta e dois não me pertencem! Estou andando pela casa com esse peso numa bola de pilates preso à minha cintura! Eu faço xixi a cada vinte minutos. – percebi que a última frase foi dita entredentes, então respirei fundo antes de prosseguir. – Eu durmo sentada, tenho falta de ar constante, parece que tem uma batalha acontecendo dentro de mim quando ela resolve me chutar. Eu não posso beber uma cerveja nesse calor desgraçado que faz aqui no Rio de Janeiro. Meus pés incham se ficar muito tempo levantada, incham estando muito tempo sentada e incham quando calço um sapato fechado por mais de meia hora. Estou com uma fome do cacete e tenho que permanecer em dieta.

Mônica se aproximou instintivamente com a mão em seu abdômen achatado e olhando para os pés, como se pudesse sentir o que eu sentia ou talvez se imaginando na minha situação.E vocês vem me falar que não tenho motivo pra estar irritada? Eu...– naquele instante senti uma fisgada forte, abaixo da costela. Fechei os olhos, tentava inutilmente absorver a dor que veio em seguida.

- Clara , tudo bem? – a voz de Mônica falhou um pouco, mas pude ouvi-la e balancei a cabeça em negativa. Mais uma vez os dois pares de mãos me apoiaram e me levaram para o sofá.

Narração Helena  Weinberg

Aeroporto do Galeão – Antônio Carlos Jobim / RJ

Sophia se aproximou a passos largos e um amplo sorriso no rosto, já abrindo os braços.

- Que nostalgia de te, cousin!

- Sophia! Grazie per averci aiutato voi!

- Ah eu adoro ficar de fora da conversa...- esqueci-me de Sol , que não nos entendia muito bem.

- Desculpe-me, Sol , apenas agradeci que ela tenha vindo nos ajudar.

- É mesmo, uma pessoa de confiança, da família, é sempre melhor que uma contratada. – Sol  entendia perfeitamente os motivos de ter chamado Sophia, Clara se sentiria bem mais tranquila com ela ao invés de uma enfermeira ou babá desconhecida.

Sophia fez boa viagem e nos contava todas as novidades da Toscana. Disse-nos que Natália havia sido presa por três dias.

Havia se envolvido com a mulher de um delegado de polícia, era uma idiota. Pietro estava lá havia uma semana e foi obrigada pela nonna a ajudar Natália. A nonna estava sendo a nonna, pra variar, como uma boa bisavó tricotou inúmeros casacos, mantas e sapatinhos cor de rosa para nossa Luna. Sophia mostrou o trabalho de nossa avó em inúmeras sacolas, havia até um par de luvas de crochê ou tricô, não sei bem a técnica que ela usou, mas era bonito e certamente e inútil, com o calor que fazia no início daquele novembro.

Expliquei a minha prima que Clara  estava com uma barriga muito grande, mal conseguia se mover sem que soltasse uns suspiros sôfregos. Não menti, contei que estava absurdamente irritada com tudo e que isso piorava a cada dia.

Não havia muito o que fazer, jamais poderia imaginar que ficaria tão grávida, e ainda assim estava linda, mesmo reclamando, brigando e gritando, estava perfeita. Compreendia que boa parte de sua irritação nada tinha a ver com comida, ou com a lentidão de seus passos, mas era a preocupação com o diagnóstico de arritmia cardíaca de nossa bebê e até que se pudesse realizar os exames em Luna, não ficaríamos tranquilas.

Foram quarenta e seis minutos que nos separaram de risadas sem fim no interior do carro para o desespero de Mônica no portão de minha casa. Mal estacionei, parei o carro atravessado de qualquer maneira no meio fio e entramos correndo enquanto Mônica nos relatava o estado de Clara .

Humpf... Como se fosse preciso. Ainda da porta pude ouvir um dos seus gritos. A cena que me deparei foi... foi... angustiante.

Clara  estava um tanto deitada um tanto sentada no sofá, Bárbara ao seu lado segurando em sua mão, na mesa de canto água pela metade em um copo e uma cartela de analgésico.

- LENA!! – ela gritou ao me ver. Tomei o lugar de Bárbara, tentando processar o que se acometia, já que faltava muito para o parto.

Houve uma sucessão de vozes ao mesmo tempo, todos falavam, Mônica, no celular, se alternava entre tentar falar comigo e localizar o médico de Clara .

Bárbara explicava o que acontecera nas breves duas horas em que estivemos fora. Sophia se esforçava num português forçado gritando de longe o que seriam instruções, até que veio do lavabo com as mãos ainda molhadas e abaixou uma das pernas de Clara , mas ao fazê-lo mais um grito de minha esposa.

A testa de Clara  já dava os primeiros sinais de suor, Sophia, que havia tido um parto em casa, apalpou a barriga de Clara e arregalou os olhos.

"Muito baixa", ela nos disse, então num instinto, passei um dos braços por baixo das pernas de minha mulher para ajudar levantá-la, precisávamos levá-la ao Hospital!

E mais um grito agudo saiu de seus lábios.

********

- Tente ficar calma, meu amor!

- Helena . – chamou meu nome entredentes – Olha o que você fez comigo!

- Eu? – àquela altura não me importava com nada, mas dizer que era minha culpa?- Você que passou a gravidez toda comendo bolinho- de-chuva escondido. A culpa é da Sol .

- Opa, para ai, ela comeu porque quis! E não se nega comida a uma grávida.

- Cala a boca, Sol . – Mônica estava ao telefone. – Estou tentando deixar um recado no celular do médico.

- Melhor colocar ela na cama. – Sol  interveio mais uma vez.

- Melhor levar ela logo pro Hospital! – Bárbara disse assim que largou suas unhas roídas.

- Então por que não a levou? Gênia? Nos ligava de lá!

- Sol , cala a boca! Você não sabe que ela não iria a lugar algum sem a Helena dela?

- Gente, ela está pesada... – eu juro que não queria ter dito isso, apenas saiu, só queria resolver logo o que fazer e me sentia uma idiota por não saber que rumo seguir.

Clara  me fuzilou com os olhos!

- Me leva pra porra do Hospital! Sua filha da puta!

- Por favor mantenha a calma, meu amor. – seguimos para  o carro.

Sol  pegou as chaves em meu bolso e entregou a Bárbara, enquanto eu acomodava Clara no banco de trás, Bárbara dava a partida no carro, Sol sentou rapidamente no carona. Mônica e Sophia nos seguiriam em outro carro e antes do final da rua...

- ESPERA! – Sol  gritou fazendo Bárbara parar bruscamente o carro.

- O que foi?? Caralho!!! – perguntei exaltada enquanto minha mão estava sendo esmagada pelos dedos de Clara .

- A malinha delas. – com isso Bárbara voltou um bom pedaço de ré, jogando o carro para a esquerda numa curva fechada e seguindo de volta para a casa.

Sol  desceu antes do carro parar completamente e correu em direção ao carro de Mônica, pegando as chaves e correndo para o interior da casa. Não demorou nada, sei disso, mas pareceu uma eternidade para mim que encarava o olhar irado de Clara em minha direção.

- Tente se acalmar.

- Helena  se me pedir calma mais uma vez.....- ela respirava entre lábios.

- Juro que vou te matar! Tem uma bola de basquete prestes a sair de um buraco onde só passa uma bola de golfe!

- Eu sei, eu sei.

- Sabe nada!! Deixa eu enfiar uma berinjela no seu cú que você vai saber.

Dio Santo!

- Rápido, Mônica!

Foram os vinte minutos mais terríveis de toda a minha vida.

A maternidade na Barra da Tijuca era relativamente próxima, e a cada sinal laranja que se erguia do alto do semáforo, Bárbara nos impulsionava mais veloz pelo trânsito da Avenida das Américas, de repente o estofado de couro já era, uma inundação saiu dentre as pernas de Clara .

Entramos na maternidade e logo a enfermeira constatou que ela estava em trabalho de parto, que gênia.

Quanto mais Clara segurava a respiração, mais me moía os dedos e mais eu pressionava os lábios nos dentes e mais eu mesmo me machucava.

Sol subiu com Clara e a enfermeira enquanto Bárbara tentava localizar o obstetra e eu tratava de uma papelada de internação, confusa com a mistura de sentimentos, estava aliviada pelos meus dedos, mas apreensiva por minhas garotas e nervosa de verdade apenas por Luna.

Foi tenso, quase meia hora havia se passado quando o médico finalmente deu sinal de vida avisando que estava a caminho, mas não sabia se chegaria a tempo. Clara simplesmente trancava os olhos e os lábios numa careta que surgia em espaçamento cada vez mais curtos.

Nos preparamos para entrar na sala de cirurgia, eu precisava estar com elas, ainda que estivesse tensa a ponto de quase esmagar a câmera nas mãos.

- Helena não quero que me filme!

- Foto. Preciso registrar a chegada da nossa princesa.

Ela respirava tão rápido.

Assim que o médico, que não era o obstetra de Clara entrou na sala de azulejos brancos, sorriu como se não houvesse nada demais acontecendo. Fez umas perguntas, enquanto a equipe médica realizava alguns procedimentos, avaliou rapidamente minha esposa e se colocou entre seus joelhos e foi então que tudo ficou meio escuro e as vozes ao longe.

- Helena . Não desmaie! – a voz desesperada de Clara me fez despertar.

- Não pode fazer uma cesariana, doutor? – estava aflita com a expressão de dor em seu rosto.- O bebê já está coroando. Fique calma mamãe, a anestesia logo fará efeito, é questão de segundos.

Ainda que ele parecesse saber do que estava falando, não fiquei nada satisfeita em ver a força que Clara fazia.

Foram muitos minutos de angustia até que o médico me chamou para fotografar o nascimento de Luna. Sem dúvida a foto sairia tremida, pois seguiria o curso de minhas mãos.

Vi seu rostinho tão redondo e tão pequeno, era linda. Quase não tinha nariz, mas tinha um pulmão incrível. Não fez som algum ao ser tirada, mas logo que uma médica pediatra mexeu em seu nariz e boca, chorou muito alto, muito forte, era perfeita. Então falei da arritmia e a doutora com estetoscópio examinava com cuidado enquanto fazia uma cara de que não entendia de que arritmia eu falava .

- Ela é perfeita, mãe, num primeiro momento te garanto que está muito bem. Deixe-me mostra-la para a mamãe Clara .

Fiquei confusa.

A médica embrulhava minha Luna como se fosse uma boneca. Virei-me para olhar Clara , mas a expressão de dor era crescente em seu rosto mais uma vez, ela não parecia nada bem. Caminhei rapidamente em sua direção segurando uma de suas mãos, o médico ainda estava entre suas pernas, Clara voltava a sentir-se mal.

- Doutor!– chamei pelo médico. – Clara , meu amor, o que há?

- Não se preocupe, mãe. Sua esposa só precisa continuar o trabalho, está indo muito bem senhora! Vamos pôr mais um pouco de força.

- Mas o que? – não consegui entender mais nada, até que o choro de um bebê se confundiu a outro e meu coração parou, congelado naquele instante.

- É um menino! – o médico estava entusiasmado e eu pasma.

- Impossível! – Clara praticamente gritou, estava furiosa. – Eu fiz cinco ultrassons e nunca apareceu nenhum menino.

- Mas aqui está, o filho de vocês.

- Doutor, não teria como esconder a piroca de um menino aí dentro.

- Provavelmente ele ficou escondido, bem escondido eu diria...

- Vou processar o meu médico. Tenho um quarto rosa em casa!! Fala alguma coisa Anghela.

- Eu... eu... amm... er... Tem mais algum filho pra sair daí, doutor?

*****

Sophia, Mônica, Bárbara e Sol entraram no quarto logo que foi liberada a visita. Sol se aproximou de uma Clara bem mais serena, deixando um beijo em sua testa.

- Como você está, amiga?

- Tirando o susto, bem.

- Vimos seus bebês, eles são lindos. - Mônica falou meio de longe.

- Pensou no nome do garotão?

- Gael? - virou-se para mim e concordei, era um lindo nome. - Ainda bem que você teve aquela ideia maluca de colocar somente roupinhas brancas na malinha...

- Ainda assim, vamos precisar sair pra buscar mais roupinhas, mas não se preocupe, vamos trazer todas as rosinhas para a Luna e o Gael fica com os conjuntos pagãozinho branco, tudo bem desse jeito?

Clara fez que sim e seus olhos se encheram de lágrima, as mesmas que ela simplesmente foi impedida de deixar cair, graças ao Doutor Simão, médico desgraçado, como não percebeu que eram gêmeos, ainda que não aparecesse na ultrassonografia? Os advogados da Battlestar o fariam uma visita em breve.

Um fato inegável, nossos bebês eram mesmo lindos, com cara de joelho, rosados e cabeludos. Assim que Clara os alimentou nos seios, olhou para mim sem um traço sequer de toda a raiva que sentiu horas antes, sorriu e me agradeceu.

- Obrigada. É o melhor presente que poderia ganhar no mês do meu aniversário.

- Eu que agradeço, amore mio, estou veramente feliz.

- Tu sei...La Donna della mia vita. - sorri ainda mais, ela andou aprendendo algumas frases em italiano afinal.

- Sim correto. E você a mulher da minha vida.

- La Donna della sua vita?

- La Donna della mia vita.

Narração Final

Então ali, elas selaram os lábios num beijo calmo e lento, mas felizmente a enfermeira chegou com os mais novos membros da família.

Luna e Gael.

Clara e Helena trocaram olhares apaixonados e babaram nas crianças. Clara percebeu naquele momento que Helena tinha sido a melhor escolha de vida dela.

"Não sei em qual momento eu me apaixonei, em qual momento o seu sorriso passou a ser o meu preferido, e quando o meu passou a se tornar apenas teu. Não sei quando comecei a querer teu abraço a todo instante. Não sei quantas vezes já disse que te amava, e que a saudade me sufocava. Não sei quando comecei a pedir todo minuto que você estivesse aqui. Não sei em qual momento você se tornou parte das minhas orações. Não sei até quando isso irá durar, nem como será daqui para frente. Mais uma coisa eu sei, te amar foi a melhor escolha que eu já fiz."


FIM.

A Acompanhante - ClarenaOnde histórias criam vida. Descubra agora