Esse Vestido

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Continuem com o engajamento... Eu Amei...

Estamos na reta final... Beijoos ! See you Tomorrow ♥


****


E os risos de Bárbara foram morrendo aos poucos e os meus desapareceram na hora.

Estava ela parada feito um dois de paus, com aquela cara de quem mastigou comida salgada.

Me olhou dos pés à cabeça, a cumprimentamos e seguimos adiante. Entramos na sala de Bárbara, também uma sala pequena ao lado da minha.

Durante o trajeto podia sentir que Helena nos observava. Bárbara abriu o e-mail e dei a volta para lê-lo. Helena  foi formal com as palavras, mas deixou registrado sua satisfação em quatro linhas.

A porta se abriu sem que se fizesse anunciar. Endireitei minha postura e ela fez uma cara feia.

- Bárbara, marquei uma reunião para o fim do dia, já viu o e-mail?

- Não senhora, estava mostrando à Clara  o....

- Clara, também enviei um e-mail pra senhora, preciso que resolva algumas coisas, rápido.

- Claro, eu...

Caraca, que mal educada!

Fechou, digo, bateu a porta e me deixou falando sozinha.

- Acho que algo deu errado nas negociações. Ela só deveria voltar na segunda-feira.

- Acho que ela não vai com a minha cara, isso sim.

- Não se precipite, Helena  é estranha mesmo.

- Estranha como?

- Estranha, Clara . Sempre de cara amarrada, tensa, acho que é pela namorada. Mas eu não disse isso!

- Sem dúvida que não! É, Bárbara, ela tem namorada?

- É difícil dizer se a tem nesse momento, dizem no rádio corredor que elas terminam e voltam com frequência.

- E como é que ela é? Assim, curiosidade.

- Bonita, cabelos pretos, olhos castanhos claros, parece uma modelo, esteve na festa da empresa no fim de ano.

"parece uma modelo", que inferno.

Será que Lara sabia que ela fica se realizando como garota de programas? Que está com ela e provavelmente com todo o Mundo?

- Enfim, vamos ver o que ela quer.

Desgraçada! " mulher da vida dela".

- O quê? – Sentei-me diante do computador e não havia uma só mensagem além do aviso de reunião!

Que palhaçada.

Redigi uma mensagem malcriada, enviaria, mas então me lembrei do que a Sol disse, "com calma".

Que se foda.

"Senhora Di Piazzi, por alguma razão o e-mail pela senhora referido, na tarde de hoje, não consta em meus arquivos. Solicito gentilmente informar a natureza do mesmo e como posso ser útil. Blá, blá, blá e atenciosamente e não sei lá mais o que e enviei."

Foi rápida a sua resposta;

"Apenas fique quietinha na sua sala."

Meia dúzia de palavras pra me confundir, ou ela estava me provocando, ou morrendo de ciúmes, Bárbara enviou uma mensagem pelo sistema da empresa.

"Edna acabou de me perguntar se estávamos namorando. Estou surpresa"

Como assim? Enviei-lhe uma resposta;

"Não entendi. Não podemos almoçar? É isso?"

Bárbara retornou com um;

"Não entendi".

Saí para escovar os dentes e retocar a maquiagem, na volta fui até Edna e ela disse que a Senhora Di Piazzi perguntou se Bárbara e eu estávamos namorando.

Política da empresa e não sei mais o que. Que bobona. Voltei contrariada para a sala, pensando em como ou o que fazer, já que se simplesmente batesse na porta da sala dela, poderia me dispensar sem nem ao menos olhar pra minha cara.

Foi quando tive uma idéia, mas fui atropelada por uma avalanche de coisas para fazer e logo veio a reunião e nos foi imposto algumas outras considerações sobre os anexos dos contratos e apenas isso, nada de mais,não entendi o motivo de tanto salseiro.

Finalmente dispensados, sai antes de todos.

Um correio novo enviado por Anghela H. W. Di Piazza estava com a sinalização de confidencial.

Abri. Comecei a ler, depois reli e ainda assim não estava acreditando.

"Não venha mais para o escritório com esse vestido."

Qual o problema com meu vestido? Um vestido formal, na altura do joelho, um tubinho vermelho claro, sem decote, não entendi.

"De repente o problema não é o vestido, mas quem está dentro dele."

"Esse vestido marca demais sua bunda."

Ela me fez rir. Ainda sentia alguma coisa por mim afinal, e eu sabia exatamente como
Respondê-la.

"Está falando com quem? Sua contratada ou sua namorada?"

Demorou um pouco mais e a mensagem chegou.

"Contratada."

"Exatamente, e como tal, não pode interferir nas minhas roupas! Experimente isso com sua namorada de olhos castanhos claros. Além disso não creio que tenha tempo para ficar prestando atenção no meu guarda-roupas com sua rotina apertada."

Um tanto mais de tempo para responder e nada. Segui com minhas tarefas por quase quatro horas até que Ágata me ligou, deveria ir imediatamente até a sala da Senhora Di Piazzi.

Começou.

Atravessei o jardim, segui o corredor e Ágata com uma cara simpaticamente torta indicou a porta dela com a caneta.

- Ela tá brava.

- Novidade...

- Não, é sério, ela tá mesmo brava.

Revirei os olhos, duas batidas breves e entrei.

Helena estava de costas, olhando para a janela, braços cruzados. Pela primeira vez reparei bem na sala dela, era espaçosa, havia um lavabo de porta entre aberta, no chão perto da janela um jarro decorativo africano grande, o blazer estava pendurado num cabide perto de um sofá de couro preto de dois lugares.

- Trouxe os anexos.

- Deixa aí em cima da mesa. – para quem estava brava, falou normalmente e nada de me olhar.

Silêncio.

Me aproximei um pouco mais, o suficiente para sentir seu perfume amadeirado.

- Fiz as correções.

Ainda silêncio.

Suspirou pesado, se virando para me encarar, os braços ainda cruzados, a camisa com as mangas dobradas um tanto.

- Não tinha tanta coisa assim, eu...

- Você tá saindo com a Bárbara? – puta merda, a voz dela era baixa e controlada.

- Você tem namorada. – afirmei e ela desviou o olhar para minha mão, depois negou com a cabeça.

Silêncio mais uma vez.

Meu peito já estava doendo com aquela situação, ficarmos nos encarando com o coração martelando no peito, um querer falar sem nada dizer, nem um suspiro pra denunciar, uma gota sequer de um suor como amostra grátis de um nervosismo qualquer.

Nada.

Estática.

Silêncio esmagador.

Droga. Virei-me e sai apressada da sala dela. Juntei minhas coisas rapidamente e ao desligar o computador mais uma mensagem.

"É sério, não quero que venha mais com esse vestido, é sexy demais"

Prendi os lábios nos dentes, meus olhos desfocando as letras por culpa das lágrimas. Parei dois minutos pra pensar. Talvez devesse deixá-la saber de uma vez por todas o que a palhaçada dela em Penedo resultou na minha vida.

Enviei-lhe em resposta, o link de uma música da Laura Pausini, acho que ouvi-la em italiano o faria entender exatamente como estava me sentindo.

Não esperei por respostas, fui embora. Seria o fim de semana mais longo da minha vida. Duas semanas sem o calor dos braços dela, sem o afeto de Helena  e havia ainda aquele silêncio que se perpetuava entre nós. O que fazer? Encher a cara parecia a solução mais óbvia.

Recebi duas mensagens; Fiuk adorando Fernando de Noronha e Sol aflita em busca de notícias minhas e marcamos de sair.

Paramos em um barzinho em Copacabana e depois de desfiar o rosário ela balançou a cabeça despreocupada.

- Ai amiga, ela está me enlouquecendo.

- Ora, enlouqueça ela também, já que ela adora sua bunda, vá com aquele seu vestido azul, solta esses cabelos. – Sol esfregava as mãos como quem planeja algo terrível.

Ela vai me demitir. Estou em período de experiência. Além disso, ficou toda irritada por causa de um vestido social. Imagine ir pra lá naquele estilo?

- E a tal Bárbara?

- Você iria gostar de conhece-la, de repente marco alguma coisa.

-Pena que está tão longe do Centro, né?

- Acho um desperdício logístico trabalhar na Barra da Tijuca se precisamos estar próximos ao terminal.

- Sugere lá uma mudança.

- Parece que o outro sócio, Pietro, Piter, sei lá, ainda não decorei o nome de todos, bem, ele não quer, Bárbara me disse.

- E a Bárbara sabe que você e a Helena ..

- Ninguém sabe, e também não entro muito nesse foco com ela.

- Helena  já viu que você não tirou a aliança?

- Se viu, fingiu que não reparou, não disse nada.


**********

Onde estava com a cabeça de levar Sol  à sério?

Agora estavam todos me olhando, certo, a parte de cima do vestido era, estilo anos sessenta, bem fechadinho com a gola reta ombro a ombro e meia manga, mas logo abaixo da cintura ele parava ao joelho. Optei por um sapato scarpin nude e uma bolsa tipo carteira preta.
Fiz uns cachos nas pontas do cabelo e nenhum acessório além do brinco de pérola e a aliança de ouro.

Ágata me chamou quando passei pelo corredor para elogiar minha roupa e sapato, as outras moças do escritório também eram muito educadas e divertidas, um ambiente bem diferente do que estava acostumada, onde as pessoas mal se falavam e a intriga rolava solta.

De repente elas ficaram sérias e Ágata arregalou um par de olhos, Renata foi de fininho para seu lugar, apesar de imaginar que Helena estava parada nos observando, virei para me certificar.

Estava com uma cara horrorosa! As mãos na cintura, e me olhava séria.

Ao lado dela um homem muito bonito, loiro de olhos claros, idade próxima a dela, parecia se divertir com a cena, chegou a se virar um tanto e tapar a boca, disfarçando um sorriso num falso bocejo. Então o homem deu lhe dois tapinhas no ombro, disse um bom dia alto e seguiu na direção contrária.

Helena ergueu um dedo indicador na minha direção me chamando, realmente como uma pessoa zangada o faria.

Me aproximei e ela saiu andando, fiquei parada, não sabia o que fazer.

- Me acompanhe, dona Clara Albuquerque . -disse sem ao menos se virar.

Essa não era a Helena .

Passou pela secretária dela, olhei para Ágata ela fez que não com cara de "prepare-se".

- Feche a porta.

Fechei a porta, ela ficou me olhando de braços cruzados pensativa.

- O que foi que falei sobre sua roupa?- abri a boca pra responder e ela continuou. – Sabe qual é o comentário dos seus colegas lá na copa? – fiz que não. – Que a supervisora é a maior gostosa.
Estavam comparando a sua bunda com a dessas mulheres fruta!

Segurei os lábios com força para não rir.

Ela estava sendo ridícula.

- Não estou achando graça, - falou séria. – eu digo pra você não vir de um jeito e você faz pior.

- Pior? Mas esse vestido é lindo! – debochei um pouco que não sou de ferro.

- Esse...vestido, - disse pausadamente – marca sua cintura fina e quando você anda, ele, quando... Você fez de sacanagem não é?

- Não senhora.

- Você viu seus e-mails hoje?

- Não senhora.

Ela passou a mão no rosto, visivelmente irritada. Sinceramente, eu quem deveria estar irritada!

Ela poderia solicitar a análise que quisesse, mas mandar na minha roupa?

Ela? Quanta hipocrisia.

Ela era um tarada.

- Se a sua casa não fosse tão longe, faria você voltar pra trocar de roupa.

- Me diz uma coisa, estou realmente muito curiosa. Qual é a sua? Quero dizer, você é pervertida!
Não deveria estar feliz de me ver com esse vestido? – ficou confusa, suas sobrancelhas se juntaram e eu prossegui, para provocar mesmo – Não se preocupe que ninguém saberá o que não estou usando por baixo.

Arregalou os olhos e sua respiração falhou.

- Co-como é?

- Já que a senhora se interessa tanto pelas minhas roupas, acho que se interessaria pela falta delas também. – além dos olhos abriu a boca também e sua postura mudou um pouco. – Não me chame na sua sala pra falar babaquices, Senhora Anghela Helena Weinberg  Di Piazzi. Com licença.

AI MEU DEUS!

Não acredito que disse isso, saí apressada e retornei para minha sala marchando, as pessoas me acompanhavam com os olhos, mas nada disseram.

Joguei-me na cadeira, respirando fundo.

E-mail.

Ela respondeu minha mensagem de sexta-feira com um outro link, Celine Dion, torci para que não fosse o tema de Titanic, ou estava certa de que tudo foi por água abaixo.

Ouvi atenta.

Segurando firme, mas aquela merda de nó se embolava e crescia na minha garganta, segurei os lábios pois as lágrimas, não fui capaz.

Meu coração deu um salto louco, me senti gelada. De onde veio aquele sentimento, não sei e sinceramente, já não estava preocupada em cair sobre ela ou que caísse sobre mim.

Foi no instante que decidi isso que me vi realmente tirando a calcinha de cetim, enfiando-a em um envelope pardo e retornando para a sala da Diretora Comercial.

Ágata abriu a boca, mas a ignorei e entrei na sala sem bater, Helena apoiava a cabeça nas mãos, parecia ler alguma coisa, levantou o olhar com o som da porta batendo, fechando ruidosamente. Joguei o envelope sobre a mesa, Helena desviou os olhos de mim para o envelope, e do envelope para trás de mim.

Naquele instante ouvi um pigarrear e um bom dia.

Não sabia onde enfiar a cara, acho que fiquei tão envergonhada por aquela falta de educação que ao invés de ficar vermelha, a cor fugiu da minha face.

Virei-me.

-Bom dia. – respondi ao homem loiro que sorria, provavelmente divertido com a cena.- Pietro Di Piazzi. – esticou a mão, o cumprimentei tentando manter a calma que me fugia segundo a segundo.

- Clara  Albuquerque .

- Pietro. – Helena  o chamou-o com a voz falhando, então limpou a garganta antes de prosseguir.

- Pode nos dar licença um instante?

- Claro, continuamos depois. – tentou segurar o sorriso e saiu.

Helena  estava com o envelope aberto, olhando-o com uma expressão diferente das que eu conhecia.

- Você... você... tá usando o que por baixo desse vestido? – foi difícil, mas ela conseguiu perguntar.

Eu queria ter-lhe dito: nada.

Mas mantive a coragem inicial.

Dei a volta na mesa inclinando-me o suficiente para empurrar-lhe a cadeira um tanto, recostei-me na mesa apoiando o salto fino entre suas pernas abertas. Ela me assistia surpresa e ansiosa. Subi o tecido do vestido até o meio da coxa, ela inclinou o rosto para o lado direito, segurando o lábio inferior nos dentes. Inspirou com força e fechou os olhos, prendendo o ar em seus pulmões, levou um tempo até que o libera aos poucos pela boca. Inclinou o corpo para frente e pude sentir sua rigidez em meu tornozelo.

Apertou um botão no telefone.

- Ágata, não estou pra ninguém.

- Sim senhora Weinberg . – respondeu a voz pelo viva voz.



A Acompanhante - ClarenaOnde histórias criam vida. Descubra agora