Sexta-feira, dia seis de Setembro, vinte e uma hora e oito minutos, Helena abre a porta do meu apartamento, com uma cara de tanto faz, desejando boa noite, joga as chaves em cima da mesa e se joga no sofá ao meu lado, ignorando minha cara de raiva e meus braços cruzados. Se vira e me dá um beijo.
Que não foi correspondido.
- Podemos ir? – perguntei me levantando.
- Será que eu posso beber uma água antes? – apontei para a cozinha com um bico torto.
- Vou esperar lá em baixo, por favor traga minha outra mala.
- Mala? Serão quatro dias!
- E você quer que eu leve minhas roupas, sapatos, calcinhas, vestido de festa, shampoo, condicionador, chinelo, biquíni, chapéu de sol, cremes hidratantes, aonde? Na bunda?- Nossa, você tá pilhada... Vai descendo que eu levo.
Soltei o ar de uma vez pela boca, tipo "que saco!" e desci.
- Qual o problema, meu amor? Eu não tô aqui?
- São nove da noite Helena , que horas vamos chegar lá.
- No pior dos casos meia noite. Por quê? Saudades de ver a Pocahontas? Olhei a Helena , incrédula, ela falou mesmo isso?
- Como é?
- Não tô entendendo esse desespero de chegar cedo!
- Pocah não tem nada a ver com isso! Estava preocupada com você. Passei o dia todo sem notícias suas.
- Desculpe. Mas não podia ligar, só isso!
- Helena o que tanto você faz hein?
- Trabalho, pra ganhar dinheiro. E não estou gostando do seu tom de voz, você está falando com quem? Com seu contratado ou com sua namorada?
Isso me pegou de surpresa, namorada? Ela acha que a gente ta namorando?
- Namorada. – escolhi uma das opções e deixei pra ver o que ela iria dizer.
- Então para de falar comigo como se fosse minha patroa, eu não gosto. Além disso a gente vai chegar na melhor hora do dia.
- Melhor hora?
- Claro. – ela me olhou com cara de safada e isso me quebrou completamente, sorrir foi inevitável.
- E aí? Como foi seu dia?
- Foi médio, passei uns currículos.
- Alguma coisa?
- Tenho uma entrevista na semana que vem, esqueci o nome da empresa. Um nome diferente, mas é pra cuidar de contratos, então tá tudo certo.
- E a Sol ?
- Eu sei lá, ela cismou que quer abrir uma loja de bolinho de chuva.
-Tá falando sério? – me perguntou com ar divertido.
- Sério! Disse que não existe loja de bolinho de chuvas e ela vai abrir uma.
- Ela é doidinha...
- Somos todos né Helena ?
Ela parou um pouco pra pensar, me olhou de cenho franzido.
- Tá falando isso por quê?
- Nada. – ficou um silêncio estranho e eu resolvi abrir a boca – Então, somos namoradas? Bom, tenho pensado muito em você desse jeito, como minha namorada. Você quer ser? Caí na gargalhada e ela ficou ofendida.