Capítulo 52

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AMANDA

Me diz que tinha acabado?

Mesmo na inconsciência Miguel ainda gemia de dor. O que eu havia visto Enzo fazer por meu filho é algo que eu não teria conseguido fazer sozinha. Não, isso estava errado, arrumando minha colocação eu poderia dizer que o que eu havia visto Enzo fazer por meu filho, eu não teria conseguido fazer nem mesmo como auxiliar.

Enzo tinha esterilizado o canivete novamente depois de já ter limpado toda a área machucada das panturilhas e mais em cima, na junta atrás dos joelhos. Ele limpou bem e desinfectou o machucado - antes de ir raspando delicadamente o pus e a pele morta - para prosseguir com a esterilização do local.

Cada vez que Miguel murmurava de dor eu queria me lançar em Enzo e a cada vez  que ele murmurava coisas como: "Vai dar tudo certo". Eu o agradecia por estar amarrada e incentivava seu trabalho. No final ele esquentava a faca na pequena fogueira e queimava a ferida pedacinho por pedacinho. Vi Enzo passar um tipo de emplasto feito com folhas por cima da ferida. Guascas - ele disse - para ajudar na cicatrização. Ele havia encontrado algumas na floresta antes de nos trazer para cá.

Já fazia algumas horas que Miguel parecia dormir pacificamente. Um pano estava molhado com água em sua testa e seu ferimento na perna estava devidamente enfaixado com ataduras e segundo Enzo se não saissemos dessa mata em alguns dias teriamos que ferver agua e esterelizar as que tinhamos, deixar secar e refazer os curativos.

Não havia remédio para dor, mas Enzo tinha  umas garrafas metálicas com álcool. Esse mesmo álcool era o que ele limpava nossos ferimentos e me dava um gole para ajudar na dor. O porque um homem andava com cachaça e explosivos  mas não se lembrava de trazer uma cartela de Dipirona para mim é um mistério, no entanto, eu sou profundamente grata por ele estar aqui. E claro que a parte mais distante do meu cérebro diz que ele está aqui porque Maluma assim determinou. O que me faz lembrar de...

_Isabela?

_Aquela monstrinha - ele cospe - tem Maluma entre a cruz e a espada e praticamente manda na Elite, as quartas feiras agora somos obrigados a vestir...

_...rosa - sorrio e sinto a fisgada da dor - É  um dos filmes preferidos dela. Isabela nunca foi uma criança que se prende a príncipes e princesas ela é  sagaz como uma bala em movimento em busca do seu alvo.

_E com essa característica - Enzo me encara brincalhão - meu medo é  que ela tenha puxado você.

Eu que gostaria as vezes de ter puxado a personalidade dela, as vezes me sentia como se Isabela fosse mais responsável do que eu, certamente seria bom adquirir a habilidade de ser doce e má ao mesmo tempo. Suspiro. Isso não explicava muito as coisas.

_Onde ela estava? Não me olhe assim, não pudemos conversar naquela casa e eu preciso me manter sóbria e consciente para não migrar pro lado errado da minha mente - eu tinha um grande medo de não conseguir voltar mais.

Enzo me ofereceu o cantil de álcool e dou um pequeno gole. Desce quente e queimando, meu estômago revira, mas seguro as pontas. Nunca fui boa em beber, esse é  o meu grande mal, se não fosse por uma noite de bebedeira, Maluma nunca teria entrado em minha vida.

_As coisas estão bem bagunçadas  Amanda e eu não me sinto no direito de  te contar as coisas - ele da de ombros - mas eu também não acho que os babacas vão te contar... não tudo... pelo menos.

_Você poderia me contar - encosto minhas costas na parede de pedra da pequena caverna. A fogueira agora apagada entre nós. É  dia lá fora e devíamos estar a quase 16h00 aqui dentro - A questão é  que você não quer contar.

Ele estrala a língua e pisca pra mim. _Acontece mamãe cardigã, que estou fardado e sob farda obedeço  besta missão as ordens de Maluma.  E sob estas ordens não estou autorizado a colocar mais pilha na sua mente.

Livro 2 - Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora