Capítulo 1

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- Geórgia! Geórgia! Minha filha, não vá nesse baile!

Ainda me lembro como se fosse hoje, minha mãe dizendo para eu não ir ao baile do Clube dos Sargentos.

Ela não queria que eu fosse porque eu era muito menina, muito ingênua e ela morria de medo que eu começasse a namorar cedo.

Era 1975, eu havia ganhado um vestido tubinho de aniversário que meu pai havia me dado, estava doida para usar ele junto com o sapato estilo boneca que minha avó havia me dado no meu aniversário também, não poderia perder a oportunidade de exibir meus presentes naquele baile.

Eu já havia ido lá várias vezes escondido, minha mãe pensava que eu estava na igreja com as vizinhas, mas nós com a desculpa de irmos à igreja íamos ao baile todo segundo domingo do mês. No segundo domingo do mês as mulheres não pagavam a entrada.

Meu sonho era que lá nesse baile eu encontrasse um sargento bonitão, forte e alto, o clube do quartel era alugado para festas, bailes e eventos do padre Alberto.

Eu me lembro como se fosse hoje, eu devia ter escutado a minha mãe e não ter ido naquele baile. Coloquei meu vestido e o sapato na sacola e sai escondido para acabar de me arrumar na casa das vizinhas e minha mãe pensando que eu estava indo para a igreja.

Cheguei á casa das vizinhas, Branca e Letícia, minhas amigas desde a infância, elas alisaram meus cabelos com a chapinha e vaselina, naquela época a chapinha ainda não era chamada de prancha, eram duas chapas de metal igual o aparelho antigo de se fazer misto-quente.

Depois do cabelo liso, coloquei os bobs (rolinhos), depois fui pintar as unhas. Eu era uma mocinha muito vaidosa, na verdade eu queria era arrumar um namorado logo e fazer inveja nas meninas, eu me achava muito bonita, uma bela negra, magra e alta enquanto Letícia era gorducha, baixinha, cheia de espinhas no rosto e Branca era magrela meio sem graça.

Eu gostava de ir ao baile com elas porque as atenções ficavam voltadas somente para mim, eu as ofuscava e elas nem percebiam.

Mas como eu ia dizendo, eu não devia ter ido naquele baile, não naquele dia, pelo menos naquele dia não!

Eu conheci o Pedro, infelizmente conheci o Pedro.

Eu estava me sentindo como a diva da música de Ray Charles, a própria, já que meu pai me colocou o nome de Geórgia por causa da música do Ray de 1960 o ano que nasci.

Nesse dia eu estava me sentindo muito linda, radiante, muitos rapazes me convidaram para dançar e eu sentia um enorme prazer em dizer não, só para continuar me sentindo diva, me sentindo como a bela mulher da capa da Revista Manchete, ou uma daquelas das fotonovelas.

O Pedro veio caminhando vagarosamente em minha direção e meu coração começou a bater de um modo diferente, eu pensava que homem lindo!

Que sapatos brilhantes! Ainda bem que não é daqueles sapatões bicolores horrorosos. Eu gosto de terno de linho bem passado, terno de linho todo amassado, não dá!

Que homem bonito, olha o sorriso dele, dentes branquinhos!

               Pedro! Negro, alto, nariz fino, porte atlético, cabelos com brilhantina veio caminhando em minha direção e eu já pensava em recusar o possível convite para dançar, para me valorizar no baile e fazer "gracinha" para as meninas, mas quando ele chegou perto senti seu perfume e não resisti, deixei ele me arrastar pro meio do salão, ele me pegou pela cintura, minhas pernas dançavam sem eu perceber a música, parecia que havia somente nós dois e mais ninguém naquele salão.

Fiquei a semana inteira, falando, pensando no Pedro. As meninas já não aguentavam mais me ouvir falar dele. As folhas do meu caderno estavam cheias de corações entre os textos e eu ao invés de prestar atenção nas aulas, ficava suspirando pensando no Pedro.

                      Eu, Letícia e Branca voltamos ao baile outras vezes e outras vezes estava eu lá no meio do salão, deixando o Pedro me embalar no meio da multidão.

Até que um dia, acabou a aula e lá no portão da escola estava o Pedro me esperando com uma rosa na mão, eu nem acreditei, quando ele se aproximou minhas pernas começaram a tremer, a Branca foi me puxando e rindo, me deixou no portão com ele e foi embora com a Letícia.

Pedro me levou até em casa, naquele dia mesmo minha mãe e meu pai o convidaram para jantar e depois ele pediu permissão para me namorar, achei que iria desmaiar ali na mesa mesmo, meu pai deixou sem hesitar, minha mãe ficou colocando obstáculos dizendo que eu era muito nova, que devia dar prioridade aos estudos, começar logo um curso de datilografia...

Mas a palavra de meu pai consentindo o namoro foi a que valeu, na verdade meu pai queria que eu casasse cedo, bem cedo, para ele ficar despreocupado.

Pedro era tão carinhoso, tão atencioso, me tratava como a mais bela das mulheres por isso, quando ele me confessou que era um mestre de obras eu nem liguei por ele ter mentido para mim. Meu sonho era namorar e casar com um sargento bonitão, mas naquelas alturas do namoro não tinha como eu terminar tudo com o Pedro.

continua...

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