Mentira!
O que eu sentia era amor.
Mas ninguém podia saber.
Escrevi uma carta para Mariano dizendo que estava cheia de problemas em Belo Horizonte e não tinha nem ideia de quando voltaria ao Rio de Janeiro.
Ele respondeu á minha carta e parece que estava bem nervoso quando escreveu esse trecho:
(...) "Sua mentirosa, hipócrita!
Eu sei que você está aí cuidando desse cafajeste.
Eu sei o que você sente por ele.
Se você não estivesse por aí, alguém cuidaria dele, os amigos, a vizinhança, sei lá...
Eu sei que você não me ama!
Não precisa voltar!"(...)
Mariano nessa carta foi grosso, estúpido, mas eu sabia que ele estava sofrendo demais, infelizmente tudo que ele disse era verdade, eu estava cuidando de Pedro porque ainda tinha amor por ele.
Fui até ao orelhão do mercadinho e a telefonista me colocou para falar na casa de Branca, gastei um tanto de fichas, eu sonhava que um dia, seria mais fácil comunicar com as pessoas em outra cidade, aquele negócio de ir até ao orelhão ou ir até a agência de telefones para passar interurbano, ter que falar com a telefonista e esperar ela transferir a ligação para a cidade, isso quando não caia a ligação e a gente tinha que começar tudo de novo e gastar um monte de fichas, era um tormento, a coisa mais chata do mundo.
E as vezes um telegrama era bem mais caro, a gente pagava pelo tanto de palavras que ele tivesse e ainda tinha que ir até nas agências para enviá-lo.
Enfim havia conseguido falar com Branca e ela me disse que Mariano não estava nada bem, andava nervoso, brigou no quartel á toa com seu superior e foi punido.
Disse também que Mariano estava já de malas prontas para vir para Belo Horizonte, mas que Raimundo intrometeu e não deixou.
Ela ia contar mais coisas, mas as fichas acabaram e a ligação caiu.
Eu escrevi para Mariano e ele nem sequer respondeu de volta.
Mas também já havia passado dois meses e eu ainda estava na casa de minha mãe e as coisas não estavam indo bem.
Na última consulta de Pedro, o médico mandou que ele repetisse mais uns exames, parece que ele estava com uma infecção muito séria.
Pedro voltou a ficar internado e enquanto isso fui até o Rio de Janeiro resolver as coisas, precisava renovar minhas malas, buscar minhas economias, resolver um tanto de coisas, mas o principal mesmo era conversar sério com Mariano.
Quando cheguei em casa não encontrei Mariano, encontrei o armário e a sapateira vazia, procurei pelas malas que eram dele e não tinha mais nenhuma guardada debaixo da cama.
A geladeira estava desligada, vazia e seca.
As coisas estavam cobertas com lençóis, as cortinas puxadas, estava escuro, um lugar triste, abandonado, sem vida.
Nem os livros dele estavam na estante.
Fui até a vizinha, aquela que assistia televisão junto comigo toda tarde e ela me disse que Mariano foi para os Estados Unidos, o filho dele depois que se casou foi morar lá.
Voltei para minha casa, sentada na cama chorei bastante, eu precisava ver Mariano, falar com ele, olhar dentro daqueles olhos azuis e dizer...
Mas dizer o quê?
A verdade?
Ia mentir para ele dizendo que o amava muito?
Amava ele muito, mas fui cuidar do meu antigo marido e deixei tudo para trás?
Fui até á casa de Branca, esperei Raimundo chegar e o interroguei sobre o paradeiro de Mariano, mas ele não sabia nada, só sabia que ele foi embora, mas a cidade, o endereço, telefone não sabia, disse que Mariano falou que nunca mais voltaria para o Rio, deu baixa no quartel definitivamente.
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As 4 paredes
RomanceUma história de amor entre 4 pessoas que acontece quando não havia os recursos tecnológicos que tem hoje: internet,celular,redes sociais... A história fala sobre o amor e suas alegrias,amarguras,escolhas.Como os sentimentos podem nos prender, mas ta...