Capítulo 3

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            Eu tive meu segundo filho e ainda estava morando no mesmo lugar, exausta, passando pelos mesmos problemas, as vezes de uma forma brusca outras vezes mais amena.

Já estava me sentindo uma mulher mais madura, mais atrevida com a vida.

Deixava meus filhos com a mãe de Pedro, ou então deixava na casa de meus pais e fui a luta, arrumei um serviço em uma casa de família, lavava, passava roupas, muitas roupas, as vezes achava que não iria aguentar, limpava o chão de madeira (tacos), até deixá-lo como um espelho, a dona da casa me fazia tirar todas as peças de prata do armário e polir tudo novamente toda semana para a prata não escurecer e aquilo era muito chato, ela era exigente com a comida também, eu chegava em casa exausta todos os dias.

Isso aconteceu depois que cansei de esperar que Pedro arranjasse outro emprego na parte da noite, depois de cansar de escutar que tudo iria mudar, iria melhorar.

Eu queria comprar tecidos, levá-los na costureira e fazer belos vestidos, queria comprar sapatos, arrumar meus cabelos, queria que aqueles tempos que eu era uma das mais belas do baile voltasse e um rapaz me tirasse para dançar, outro rapaz, jamais o Pedro, o Pedro não!

Ah! Se o tempo pudesse voltar!

Eu escolheria outro rapaz para dançar e talvez ao invés de amar o Pedro dessa maneira eu amaria esse outro rapaz e minha vida iria ser diferente.

Eu amei o Pedro e muito!

Acho que se não gostasse dele tanto assim, eu não conseguiria passar por tudo que passei.

Era bom quando ele chegava em casa, apesar de tudo e me abraçava forte, me dava carinho, muito amor até amanhecer.

Depois de um tempo ele era frio, me procurava só quando necessitava e aquilo era horrível, parecia que eu tinha somente os meus membros inferiores e só.

Isso aconteceu depois que ele começou a trabalhar de motorista de táxi.

Depois ele entrou para o clube dos taxistas de Belo Horizonte, a cidade onde a gente morava.

A culpa foi minha.

Eu caí na conversa dele, então dei ao Pedro as minhas sofridas economias, depois que ele me convenceu dizendo que iria aprender a dirigir, largar a obra e virar um motorista e nossa vida iria melhorar.

Quase que a promessa foi real, ele deixou de ser um mestre de obras e se tornou um motorista, mas nossa vida não mudou.

Na verdade só a vida dele foi que mudou, a minha não!

Ele se tornou um homem convencido, arrogante, não me dava atenção alguma, eu tive que trabalhar dobrado para sustentar as crianças e a casa.

Ele vestia seu terno preto, o uniforme, colocava os sapatos brilhantes que ele encerava e lustrava até acabar com toda cera da latinha, jogava um perfume barato no corpo, passava a brilhantina nos cabelos e adeus Geórgia!

O homem entrava no carro da firma e sumia, voltava daí uns dois dias.

                   Os taxistas tinham um ponto de parada na praça da rodoviária de Belo Horizonte, essa praça fica perto de um lugar mal frequentado da cidade, mais conhecido como uma vila boêmia, com uma famosa rua chamada Guaícurus, essa rua tem o nome de uma tribo indígena, assim como várias ruas em Belo Horizonte tem nome de tribos: Goitacazes, Guaranís, Tupís, Guajajaras, Tamóios e mais algumas outras.

Mas essa Rua Guaícurus é mais falada, é a alegria dos homens, uma rua comprida com bordéis, motéis, saunas, bares e etc do começo ao fim, naquela época.

Hoje em dia já não é tão "glamourosa" como antigamente, mas ainda sim é a referência de prostituição na cidade.

O meu pai me contou que viu Pedro nessa rua acompanhado de mulheres.

Eu pensei "se meu pai viu Pedro lá nessa fatídica rua é porque ele também estava lá! Sem vergonha, esse velho!"

Mas eu não falei nada em respeito a meu pai, imaginei como ele iria ficar totalmente sem graça, sem jeito na minha frente, mas ele despistou dizendo que passava de ônibus e viu o Pedro, eu não quis render assunto.

As 4 paredesOnde histórias criam vida. Descubra agora