Acordei na madrugada pensando em Pedro.
Que saudade!
Eu não deveria sentir saudades, não deveria sentir falta dele, não deveria pensar nele.
Não! Não posso! Não devo!
Porcaria!
Como ter controle sobre isso?
Será como ele está?
Será que ainda vai lá para a casa daquela pessoa estranha, a loira do cabelo ruim?
Que raiva daquela mulher!
Tentei dormir a noite inteira e não consegui, passei a noite em claro.
Amanheceu e estava na cozinha fazendo um bolo para Branca, quando entrou na cozinha o Raimundo com um pacote de café e um saquinho de leite, colocou em cima da pia e disse:
-Olha menina, o meu colega Mariano não me dá paz lá no quartel!
Todos os dias ele pergunta sobre você, quer saber de sua vida...
Acho que ele gostou de você!
Eu fiquei sem graça e disse para Raimundo que ainda era uma mulher casada com Pedro e que não queria saber de encrencas, meu objetivo no Rio de Janeiro era trabalhar, comprar uma casinha e trazer meus filhos de Belo Horizonte para morarem comigo.
Naquele dia não fui trabalhar porque os donos da casa que eu ia trabalhar nas quintas-feiras foram para os Estados Unidos e deixaram a casa fechada eles iriam voltar sé depois de uma semana.
Passei o dia com Branca que insistia para que eu pegasse minhas economias e fosse com ela em um salão de beleza.
Na vizinhança, ali mesmo em Niterói havia uma dona baixinha, negra também que ela fazia unhas com grande perfeição, a filha dela fazia uma chapinha nos cabelos que a gente ficava como se tivesse nascido com os cabelos lisos.
Elas trabalhavam muito bem e Branca ia lá toda semana.
Mas para eu ir também naquele momento era inviável, eu ficar gastando com luxos desnecessários, mas Branca insistiu tanto, tanto que acabei não resistindo e fui com ela, peguei um pouquinho de minhas reservas e fui.
Lá no salão não resisti e acabei fazendo de tudo, as unhas, o cabelo, a sobrancelha, na verdade eu estava precisando, havia muitos anos que eu não sabia o que era estar dentro de um salão e me cuidar.
Saímos de lá e Branca me fez acompanhá-la até o centro para ela comprar roupas de grávida, em uma loja de vestidos ela me mandou escolher um para mim e eu fiquei constrangida.
Ela disse: - Deixe de ser boba e compre um para você também, é um presente meu! O bom de ter um marido que ganha bem é poder gastar de vez em quando!
Olhei um tubinho florido e não resisti, experimentei e ele ficou ótimo em mim, porque eu sou uma mulher alta e magra o vestido teve um bom caimento e realçou minha cintura fina. Depois de dois filhos ainda ter uma cintura daquelas era um orgulho para mim, pensei.
Branca me fez andar com ela pelo centro do Rio quase todo, foi bom que eu conheci muita coisa que ainda não tinha visto.
Chegamos em casa cansadas e eu ainda fui preparar o jantar para Branca e Raimundo, achei gentil de minha parte fazer uma comida bem gostosa para eles como forma de agradecimento pelo vestido.
Branca disse para eu me apressar e tomar um banho, colocar o vestido e ir jantar com eles. Eu disse que colocaria o vestido em uma ocasião especial, em alguma festa talvez, mas ela insistiu e disse que era para eu colocá-lo porque aquele era um dia especial, eu não entendi.
Mais tarde coloquei o vestido, tirei os bobs do cabelo que estavam como uma seda por causa da chapinha de Elaine e fui até a casa de Branca jantar com eles.
Quando entro na sala estava lá o Mariano, ele me olhou de cima até em baixo com olhos de tarado e eu senti vontade de correr, senti minhas pernas tremerem.
Entendi a razão de tudo que Branca fez, Peste!
Mariano era um homem bonito, apesar da idade, ele tinha uns quarenta, ou quarenta e poucos anos, não passava disso, chamava a atenção, tinha o porte atlético por causa dos exercícios que fazia no quartel, tinha os olhos azuis que ficavam realçados quando ele tirava os óculos de grau.
Era viúvo, tinha um filho que morava com a sogra, entrou para a Marinha quando ainda era um rapazinho, isso tudo ele havia me dito na festa de Raimundo.
Eu toda sem jeito ali em pé na sala, só me restava assentar e esperar Branca servir o jantar, enquanto Mariano me cortejava a sós, já que Raimundo foi lá pra fora e mexia no motor do carro dele, eu senti que ele arrumou uma desculpa para me deixar sozinha com Mariano.
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As 4 paredes
RomanceUma história de amor entre 4 pessoas que acontece quando não havia os recursos tecnológicos que tem hoje: internet,celular,redes sociais... A história fala sobre o amor e suas alegrias,amarguras,escolhas.Como os sentimentos podem nos prender, mas ta...