Capítulo 7

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            Eu colocava meu filho mais novo o João Batista para dormir entre eu e o pai dele, assim atrapalhava dele me "procurar" na madrugada.

Eu as vezes até queria, queria me divertir um pouco, esquecer a vida ruim, mas quando lembrava da loira do cabelo ruim, apertava João Batista em meus braços e não deixava ele ir para caminha dele, então Pedro notava que eu não o queria como homem naquela noite e me deixava em paz.

             Mas as vezes, principalmente aos domingos que nós todos estávamos em casa, não tinha jeito, era de dia, Pedro mandava nossos dois filhos, João Batista de 3 anos e José Maria de 5 anos irem jogar bola lá fora, então Pedro fechava a porta da casa e vinha me pegar, eu deixava porque ele era meu marido e não poderia negá-lo como meu homem, não poderia empurrá-lo ou brigar, mas o fato de saber que ele tinha uma amante me deixava desconfortável.

As relações não eram mais como antes, na época que nós casamos quando eu queria tê-lo todos os dias e ia descobrindo como era a vida depois de casada, eu me sentia a cada dia mais mulher, cada dia eu ficava mais apaixonada, mais romântica.

Mas depois quando nós estávamos juntos eu me lembrava da loira do cabelo ruim e travava tudo, sentia que entre minhas pernas tinha uma porta que se fechava.

A relação era só para o Pedro, somente ele que sentia alguma coisa eu não, não conseguia mais. E nem tentava!

                   Conversei com a minha mãe sobre tudo que estava acontecendo e ela disse que era normal o homem trair a mulher. Minha mãe com aquele pensamento da década de 40 aceitava. Ela me confessou que sabia que meu pai frequentava as diversões da Rua Guaicurus e deixava ele ir, mesmo porque ela não tinha nada a fazer contra aquilo.

Os homens eram totalmente machistas e faziam o que bem entendiam da vida deles e a esposas eram submissas até demais.

Ela dizia que nós éramos mulheres direitas, do lar e era normal que a gente se comportasse como mulheres de família até na cama.

Que os homens procuravam as mulheres do meretrício porque elas faziam tudo que eles queriam, tudo que eles não poderiam fazer com a gente, nós eles respeitavam, éramos as mães dos filhos deles.

              A verdade era que eu amava o Pedro demais, amava tanto, tanto que estava sofrendo com aquilo tudo, suportando aquela pobreza, suportando aquela traição e fingindo que não havia nada de errado acontecendo, só para tê-lo do meu lado, suportando as mentiras dele quando ele dizia que estava trabalhando no carro noite e dia seguido ou então que ia levar passageiro para outra cidade, quando eu sabia que na verdade ele ia lá para o barraco no morro se divertir com aquela mulher estranha.

E ainda por cima barraco que ele comprou e pagou com dinheiro que era para ser em benefício de nossa família.

Aquela mulher saiu do meretrício e foi ser só dele. Mas será?

Duvido que ela tivesse somente ele como homem, aposto que o trouxa saia outro entrava, quando ele estava lá em casa, outro não deixava a cama deles se esfriar.

Acho que o Pedro era o bobalhão que a sustentava, tirou ela da rua e era somente isso para ela.

Que revolta que me dava, as vezes eu ficava fora de mim.

                          Eu sentia saudade de quando nós tínhamos acabado de se casar e dormíamos abraçadinhos toda noite, juntinhos. Eu não trabalhava, então nós por vezes dividíamos o prato de comida ou íamos pra casa dos meus pais para jantar e comer bem.

                    Eu não tinha mais as roupas bonitas que meu pai me dava, minha mãe quando me dava um dinheiro eu não podia mais comprar mais perfumes, nem arrumar meu cabelo porque dava o dinheiro para o Pedro pagar luz ou água eu queria ajudá-lo e aquilo para mim era bom, eu fazia com gosto, ele era meu marido, eu o amava muito e queria o bem dele.

Mas agora...

Agora, ele que me aguarde! Pensei.

                               Olhei em meu esconderijo a quantia de dinheiro que tinha, achava que ainda não era suficiente para fazer o que eu estava planejando, então continuei aguentando o Pedro e suas mentiras, continuei firme e forte trabalhando nas casas dos ricos aguentando o cansaço e o serviço pesado todos os dias, aguentando as humilhações.

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