Capítulo 36

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Nas ruas, os edifícios erguem-se como guardiões silenciosos, testemunhas mudas das histórias entrelaçadas que se desenrolam abaixo deles.
Um coração em específico batia rápido depois de ter sido salvo pela primeira vez desde o dia que começou a bater. 

Entre as sombras dançantes, uma figura solitária avança, sua silhueta se curvando sob o peso invisível do mundo ao seu redor. Cada passo é uma dança frágil entre a luz e a escuridão, uma jornada incerta através do labirinto da vida.

Ela é como uma folha ao vento, impulsionada pelos caprichos de uma tempestade implacável. Sua alma, marcada pelas cicatrizes invisíveis do tempo, carrega o fardo de um passado quebrado, uma história que se desdobra em capítulos não escritos.

América Chavez, nunca teve um lar de verdade desde seus primeiros dias de vida. 
Sua história conturbada cheia de altos e baixos como a montanha-russa que ninguém teria coragem de ir. 

Nascida a 17 anos atrás de forma natural e duplamente dolorosa, a mãe que lhe carregou por nove meses nem teve a chance de conhecê-la. Morta em acidente de carro, a mãe orgulhosa já sabia que America lutaria pela vida desde antes de sair do útero. 

E desde esse dia, a menina começou a sua estadia no orfanato, na tentativa de encontrar uma família. Os seus primeiros anos foram os melhores de sua vida, pelo menos ela acha. 
Foi o único momento em que ela teve uma família de verdade. 

Duas mulheres adotaram ela. Mas com apenas uma decisão feita pela sobrevivência, entrando de maneira ilegal em território Americano, América foi separada delas. 

Mais uma vez, ela voltou ao orfanato. Pulando de casa em casa, voltando para o mesmo lugar de sempre, ela percebeu que aquilo não era pra ela então fugiu com 14 anos para correr atrás do que queria. 

Sua liberdade.

Mas mesmo em meio à escuridão que a envolve, há um brilho tênue de esperança, uma centelha de vida que se recusa a ser apagada. É como uma flor teimosa que brota em meio ao concreto árido, uma promessa silenciosa de renascimento e renovação.

Enquanto o barulho da cidade perturbava sua cabeça, América corre pelas ruas como uma sombra fugidia, seus pés batendo o ritmo frenético de seu coração. Cada passo é um eco da sua angústia, uma fuga desesperada de um destino que ela teme enfrentar.

Ela corre como uma corça assustada, seus olhos selvagens refletindo a dor e a tristeza que se agitam dentro dela. O vento sussurra segredos em seus ouvidos, murmurando o eco dos sonhos quebrados e das promessas não cumpridas, quando ela começou a achar que finalmente havia sido salva do pesadelo que era sua própria vida.

A cidade, com suas luzes cintilantes e seus moradores , testemunha sua corrida solitária, uma dança desesperada entre a liberdade e a prisão. Cada esquina é um lembrete doloroso de todas as vezes que ela acreditou ter encontrado salvação, apenas para ser arrastada de volta para a escuridão.

Dessa vez com Kate, não foi diferente. Ver aquela mulher literalmente lutar para salvá-la, lhe deu uma segurança diferente de todas as outras. Ela achou mesmo que finalmente estaria salva, mas a morena terminou no chão com sua cabeça sangrando. E Miguel não estava mais segurando sua mão. 

Ela se sente como uma pétala arrancada pelo vento, lançada à deriva em um mar de incertezas e desilusões. Seu coração, uma ferida aberta, sangra a dor de todas as esperanças perdidas e todos os sonhos desfeitos.

Se escondendo no meio a escuridão da parte esquecida de Nova York, América tenta acalmar sua respiração, engolindo toda sua vontade de chorar. 
Infelizmente não era a primeira vez que uma ponta de esperança havia sido colocada em suas mãos e retirada de forma abrupta. 

Neverland-ᴋᴀᴛᴇ ʙɪsʜᴏᴘ x ʏᴇʟᴇɴᴀ ʙᴇʟᴏᴠᴀ -𝓐𝓯𝓻𝓸𝓭𝓲𝓽𝓮Onde histórias criam vida. Descubra agora