13 de fevereiro de 2010
Thayse
Nem se eu fosse a pessoa mais burra do mundo cairia no papinho do Gabriel. Fala sério! Ele realmente achou que conseguiria me enganar com essa histórinha de precisar ajuda minha, daquele cretino do Jean e os trapalhões com sua composição? É quase engraçado. Em primeiro lugar, ele não é exatamente um mestre na arte da mentira. Eu o conheço tão bem que sei exatamente quando ele não está sendo sincero: os olhos desviam, as sobrancelhas se franzem, e a voz fica mais suave e hesitante. E, em segundo lugar, ele é um talentoso compositor por si só. Não precisa de ninguém para escrever uma música que seja perfeita. Sei que o Jean está por trás de tudo isso!
"Você quer dar uma olhada?", pergunta Gabriel, estendendo a partitura para mim. Ele está visivelmente nervoso, as mãos inquietas e o corpo tenso no sofá.
Pego o papel, desdobro-o e dou uma olhada. Respiro fundo, tentando manter a calma. "Ainda estou aqui", leio o título em voz alta. Até que para uma mentira, ele está realmente se esforçando!
Em poucos minutos, aqueles lesados vão bater na minha porta para tentar mais uma vez me convencer a entrar nessa palhaçada de banda de garagem. Estou apenas me fazendo de sonsa, esperando ver o quanto eles vão se esforçar para me implorar para ser a vocalista. Mas não vai adiantar. Minha decisão está tomada, e nada vai mudar isso.
Gabriel solta um suspiro pesado e desvia o olhar para o tapete creme sob nossos pés. Reviro os olhos e volto a fitar a partitura. "Hoje eu sonhei com um campo amarelo e duas borboletas num voo singelo", leio a primeira estrofe. "Parece uma música romântica!"
Ele sorri de um jeito envergonhado e coça a nuca, ainda olhando para o chão. "Você sorrindo entre os girassóis e eu com meu violão compondo uma canção", ele cantarola baixinho, enquanto eu sigo a letra na folha, escrita com uma caligrafia perfeita e nítida demais para alguém que normalmente está no time de futebol.
"Não sei, talvez você possa me ouvir. Eu estou gritando amor volte para mim", tento acompanhar o refrão, imitando seu tom. "Através do vidro tente me ouvir..."
"Mesmo com meus medos ainda estou aqui", ele completa sozinho.
A música é realmente linda, e eu sinto uma agitação se formando no meu peito. Não é uma canção qualquer. Eu sei exatamente a quem ele dedicou. Por isso, ele está tão nervoso. "Você escreveu para..."
Sou interrompida pela campainha. O som agudo e insistente me tira do turbilhão de pensamentos. Então, será que eu estava errada? Será que Gabriel realmente precisa da nossa ajuda e não era só uma tentativa de nos unir? Isso me deixa nervosa, porque eu estava preparada para esculachar Jean na frente de todos e depois mandá-los vazar daqui.
Respiro fundo e me levanto do sofá. "Então vamos fazer isso!"
"Thay..." Gabriel também se levanta e coloca a mão em meu ombro.
Viro-me para ele e encontro seus olhos.
"Desculpe, isso foi ideia do Jean..."
"O quê?"
"Eu não posso fazer isso", murmura ele, olhando para a partitura na minha mão.
Deixo escapar um suspiro e ignoro a onda de frustração que estou sentindo, pelo menos por um momento. "Claro... é muito pessoal, você não deveria ter mostrado para mim." Entrego-lhe o papel.
"Não! Estou feliz por ter mostrado a você. Mas para as outras pessoas..." Ele bufa e depois sorri sem jeito. "Ainda não estou pronto para mostrar minha música ao mundo!"
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SCHOOL FLAMES - TURMA DE 2010
RomanceNa última noite do acampamento de verão, cinco alunos da Escola Municipal Alphonso Cordeiro se reúnem para uma apresentação musical. Apesar de terem estudado juntos no ano anterior, suas personalidades divergentes impediram que se tornassem próximos...