14 de junho de 2010
Fábio
Já passou do meio-dia e ainda estou deitado na cama, meu corpo afundado nos lençóis amassados. As janelas estão fechadas, e o quarto mergulhado em um escuro profundo, como se a luz do dia fosse um conceito distante e irrelevante. O silêncio é quase opressivo, quebrado apenas pelo som do meu próprio respirar e o ocasional estalo dos móveis na casa.
Meus pensamentos vagam sem rumo, tropeçando em memórias e sentimentos confusos que parecem se misturar no breu do ambiente. O conforto do colchão não é mais um refúgio, mas uma prisão de pensamentos pesados e inquietantes. Cada vez que fecho os olhos, a escuridão parece se aprofundar, intensificando a sensação de estagnação e apatia. A luz do dia lá fora é um lembrete constante de que o mundo continua a girar, enquanto eu permaneço preso nesse estado de estancamento emocional.
A presença de Paolo ainda parece assombrar o espaço ao meu redor, um eco constante na mente que não consigo afastar. A lembrança de nosso último encontro se repete como um loop interminável, trazendo à tona uma mistura de arrependimento, confusão e uma tristeza que eu não sei como lidar. Cada pensamento é uma faca afiada que corta mais fundo, fazendo com que eu me sinta mais perdido e desconectado da realidade.
De repente, o silêncio do quarto é quebrado pelo toque insistente do meu celular. O coração dá um salto quando vejo que é uma ligação de Manuela. O som do toque parece quase ensurdecedor no ambiente abafado e escuro, como se fosse uma âncora que me puxa de volta ao presente.
Com as mãos ainda um pouco trêmulas, pego o telefone e fico olhando para a tela por um instante. O brilho azulado do visor reflete nos meus olhos, e uma sensação de vazio me invade, como se o peso do mundo estivesse sobre os meus ombros. Me pergunto se devo continuar fugindo de tudo e todos, ou se devo encarar a realidade que tanto me apavora.
Finalmente, deslizo o dedo para atender. Coloco o telefone no ouvido e respiro fundo, sentindo o frio metálico do aparelho contrastar com o calor pulsante do meu corpo. "Oi."
"Oi! Nossa... oi." Ela parece surpresa do outro lado da linha. "Até que enfim você me atendeu. O que está acontecendo com você? Não foi mais às aulas, não responde minhas mensagens..."
"Oi, Manu. Eu só não estou me sentindo bem", respondo, tentando manter o tom firme, mas é difícil disfarçar o peso que sinto.
"Fábio, liga a TV e coloca no noticiário", diz ela, a urgência em sua voz é tão evidente que sinto um nó se formar em minha garganta.
"Noticiário?" A palavra sai trêmula, espelhando o tremor das minhas mãos. O pânico começa a se misturar com a confusão, e minha mente corre com possibilidades, cada uma mais aterrorizante que a anterior.
Relutante, olho para o controle remoto na mesa de cabeceira, sentindo o frio na espinha aumentar. Eu não faço ideia do que pode ser, mas o tom de Manuela deixa claro que é algo importante, algo que não posso ignorar.
Assim que ligo a TV, as palavras: Corpo de adolescente encontrado no mar - investigações em andamento, aparecem na tela. É como se o chão desaparecesse sob meus pés, e meu espírito se separasse da minha carcaça. Tudo ao meu redor parece perder o sentido, e o quarto fica em um silêncio ensurdecedor. O impacto dessas palavras é como um soco no estômago, tirando o ar dos meus pulmões. Sinto uma mistura de medo, negação, culpa, desespero e uma dor profunda se instalando, enquanto tento processar o que estou vendo.
"Boa tarde", diz a jornalista do outro lado da tela, sua voz firme, mas carregada de gravidade. "Informamos que o corpo de um adolescente foi encontrado boiando no mar nas proximidades da Praia de Governador Pedro De Ávila há poucas horas. O corpo foi avistado por pescadores locais durante a manhã, que imediatamente acionaram as autoridades."
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SCHOOL FLAMES - TURMA DE 2010
Любовные романыNa última noite do acampamento de verão, cinco alunos da Escola Municipal Alphonso Cordeiro se reúnem para uma apresentação musical. Apesar de terem estudado juntos no ano anterior, suas personalidades divergentes impediram que se tornassem próximos...