Capítulo 36

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14 de junho de 2010

Fábio

Já passou do meio-dia e ainda estou deitado na cama, meu corpo afundado nos lençóis amassados. As janelas estão fechadas, e o quarto mergulhado em um escuro profundo, como se a luz do dia fosse um conceito distante e irrelevante. O silêncio é quase opressivo, quebrado apenas pelo som do meu próprio respirar e o ocasional estalo dos móveis na casa.

Meus pensamentos vagam sem rumo, tropeçando em memórias e sentimentos confusos que parecem se misturar no breu do ambiente. O conforto do colchão não é mais um refúgio, mas uma prisão de pensamentos pesados e inquietantes. Cada vez que fecho os olhos, a escuridão parece se aprofundar, intensificando a sensação de estagnação e apatia. A luz do dia lá fora é um lembrete constante de que o mundo continua a girar, enquanto eu permaneço preso nesse estado de estancamento emocional.

A presença de Paolo ainda parece assombrar o espaço ao meu redor, um eco constante na mente que não consigo afastar. A lembrança de nosso último encontro se repete como um loop interminável, trazendo à tona uma mistura de arrependimento, confusão e uma tristeza que eu não sei como lidar. Cada pensamento é uma faca afiada que corta mais fundo, fazendo com que eu me sinta mais perdido e desconectado da realidade.

De repente, o silêncio do quarto é quebrado pelo toque insistente do meu celular. O coração dá um salto quando vejo que é uma ligação de Manuela. O som do toque parece quase ensurdecedor no ambiente abafado e escuro, como se fosse uma âncora que me puxa de volta ao presente.

Com as mãos ainda um pouco trêmulas, pego o telefone e fico olhando para a tela por um instante. O brilho azulado do visor reflete nos meus olhos, e uma sensação de vazio me invade, como se o peso do mundo estivesse sobre os meus ombros. Me pergunto se devo continuar fugindo de tudo e todos, ou se devo encarar a realidade que tanto me apavora.

Finalmente, deslizo o dedo para atender. Coloco o telefone no ouvido e respiro fundo, sentindo o frio metálico do aparelho contrastar com o calor pulsante do meu corpo. "Oi."

"Oi! Nossa... oi." Ela parece surpresa do outro lado da linha. "Até que enfim você me atendeu. O que está acontecendo com você? Não foi mais às aulas, não responde minhas mensagens..."

"Oi, Manu. Eu só não estou me sentindo bem", respondo, tentando manter o tom firme, mas é difícil disfarçar o peso que sinto.

"Fábio, liga a TV e coloca no noticiário", diz ela, a urgência em sua voz é tão evidente que sinto um nó se formar em minha garganta.

"Noticiário?" A palavra sai trêmula, espelhando o tremor das minhas mãos. O pânico começa a se misturar com a confusão, e minha mente corre com possibilidades, cada uma mais aterrorizante que a anterior.

Relutante, olho para o controle remoto na mesa de cabeceira, sentindo o frio na espinha aumentar. Eu não faço ideia do que pode ser, mas o tom de Manuela deixa claro que é algo importante, algo que não posso ignorar.

Assim que ligo a TV, as palavras: Corpo de adolescente encontrado no mar - investigações em andamento, aparecem na tela. É como se o chão desaparecesse sob meus pés, e meu espírito se separasse da minha carcaça. Tudo ao meu redor parece perder o sentido, e o quarto fica em um silêncio ensurdecedor. O impacto dessas palavras é como um soco no estômago, tirando o ar dos meus pulmões. Sinto uma mistura de medo, negação, culpa, desespero e uma dor profunda se instalando, enquanto tento processar o que estou vendo.

"Boa tarde", diz a jornalista do outro lado da tela, sua voz firme, mas carregada de gravidade. "Informamos que o corpo de um adolescente foi encontrado boiando no mar nas proximidades da Praia de Governador Pedro De Ávila há poucas horas. O corpo foi avistado por pescadores locais durante a manhã, que imediatamente acionaram as autoridades."

SCHOOL FLAMES - TURMA DE 2010Onde histórias criam vida. Descubra agora