Capítulo 15

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15 de março de 2010

Thayse

"Mas eu sou apenas uma camponesa", diz Manuela em frente a Gabriel no palco. Sua voz é seca, sem esboçar qualquer emoção.

"Isso está péssimo", exclama a professora, levantando-se do chão e batendo uma única palma. O som ecoa pelo auditório, captando a atenção de todos os presentes. Ela caminha em direção a eles com passos firmes e decididos, seus saltos ressoando no piso de madeira. "Você é uma ótima Cinderela, sério, você atua muito bem, mas, garota, nas cenas com o príncipe você parece uma árvore!"

"Ela parece mais uma estátua do que uma pessoa viva", resmunga Fábio, sentado ao meu lado na primeira fileira.

Manuela abaixa a cabeça, envergonhada, e Gabriel dá um passo para trás, hesitando. Sofia para na frente deles, coloca as mãos nos quadris e respira fundo, tentando recuperar a calma. "Preciso que você se conecte emocionalmente com ele, que mostre vulnerabilidade e esperança. Vamos tentar de novo, mas desta vez, sinta as palavras, não apenas as recite."

Olho para Fábio, e rimos baixinho. O leve ranger das cadeiras acompanha nossos movimentos enquanto nos ajustamos. Ele cobre a boca com a mão, tentando abafar a risada, mas não consegue esconder o sorriso. Os cantos de sua boca se erguem ligeiramente, e vejo o brilho divertido em seus olhos, iluminados pela luz suave do palco. Ao nosso redor, os outros alunos murmuram entre si, alguns concordando com a professora, outros ansiosos para que o ensaio continue.

Também escondo minha risada com a mão e tento me distrair, voltando a olhar para o palco e focando nos detalhes das peças da cenografia simples que trabalhamos duro montando do zero: uma pequena cabana rústica ao fundo e alguns arbustos decorativos simulando a floresta.

Sofia se afasta um pouco, dando espaço para os dois atores. "Vamos lá, do começo da cena do sapatinho cabendo no pé da Cinderela. E Manuela, lembre-se, você não é apenas uma camponesa, você é uma jovem cheia de sonhos, à beira de uma mudança incrível na sua vida!"

A garota endireita a postura e respira fundo. "Podemos fazer uma pausa?", pergunta ela, dando um passo para trás. Sua voz soa frágil e trêmula. "Acho que eu preciso ir ao banheiro."

A sobrancelha esquerda da professora se ergue e seus lábios se apertam em uma linha fina, claramente indicando sua insatisfação com a interrupção. Ela lança um olhar penetrante para Manuela e, com um suspiro resignado, finalmente assente, concedendo a pausa.

Enquanto a estrela da peça se afasta apressadamente do palco, a professora volta sua atenção para Gabriel, seu olhar transmitindo a mensagem clara de que ele deve estar pronto para liderar quando o ensaio recomeçar. "Eu confio em você", diz ela, colocando as mãos nos ombros do garoto e olhando-o fixamente nos olhos. "Preciso que você apoie sua parceira de palco. Vamos elevar a qualidade da cena, sinto que estamos quase lá!"

Gabriel força um sorriso e acena com a cabeça, tentando esconder o nervosismo. Sofia se afasta para ajustar a cenografia, movendo a pequena cabana rústica e reposicionando os arbustos decorativos.

Levanto-me silenciosamente e saio do teatro. O corredor, agora em silêncio, contrasta com a agitação que acabara de ocorrer no palco. As luzes fracas lançam sombras estranhas nos cantos, criando uma atmosfera de mistério.

Assim que chego ao pátio principal, a luz fluorescente é um choque em comparação com a penumbra do teatro.

Avisto Manuela entrando no banheiro e decido segui-la, impulsionada por um desejo de solidariedade e preocupação.

Ao entrar, encontro a garota lavando as mãos diante do espelho. Nossos olhares se encontram no reflexo e eu forço um sorriso, tentando transmitir conforto e apoio, apesar da tensão evidente entre nós. "Você está bem?" Minha voz soa suave no ambiente, um sussurro que ressoa no silêncio do banheiro vazio.

SCHOOL FLAMES - TURMA DE 2010Onde histórias criam vida. Descubra agora