Capítulo 20

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5 de abril de 2010

Jean

Gabriel sorri, sentado ao meu lado no chão sobre o palco de madeira do teatro, seus olhos brilhando com uma mistura de curiosidade e admiração. O ambiente é íntimo e aconchegante, a luz suave das lâmpadas realçando a poeira que dança no ar. Parece que ele realmente gosta da minha música, prestando atenção a cada nota e palavra.

Puxo todo o ar que consigo para dentro dos meus pulmões enquanto dedilho as notas no violão, tentando acalmar o turbilhão de emoções dentro de mim. "Às vezes eu volto pra aquela letra, são tantas coisas que rimam com seu nome", canto o verso três, minha voz trêmula, carregada de sentimentos. "Mas é difícil encontrar as palavras certas. Eu poderia usar o 'céu'."

A melodia flui suavemente, enchendo o teatro vazio, e sinto Gabriel se aproximar um pouco mais, como se quisesse absorver cada nuance da música. As palavras saem com um pouco mais de facilidade agora, como se a presença dele me desse coragem. "Eu não sabia que o amor era assim. Algo sufocando em meu peito, tá tão difícil, dói não te ter pra mim. Oh, meu Deus."

É um pouco estranho mostrar para ele essa composição que escrevi pensando nele, no que sinto por ele. Cada nota que toco parece uma revelação, e cada palavra que canto é um pedaço do meu coração exposto. A sensação de vulnerabilidade é esmagadora, como se eu estivesse à beira de um precipício, prestes a dar um passo incerto.

Meu coração bate mais rápido, e não consigo evitar a onda de ansiedade que me invade. A incerteza de como Gabriel vai reagir me deixa apreensivo. Será que ele vai entender? Ou será que tudo isso vai acabar em um silêncio constrangedor?

Cada vez que olho para ele, vejo tudo que me atrai e tudo que me assusta. O jeito que ele sorri, a forma como seus olhos verdes brilham, tudo parece amplificado agora. Tento me concentrar no refrão. "Talvez você ainda não saiba, queria muito te dizer, que em cada passo meu você está. Tantas vezes eu ensaiei, mas sempre travo na hora H. Noites sem dormir, tentando terminar, aquela música... a sua música."

Enquanto canto, sinto um peso se dissipar, como se finalmente estivesse me libertando de um segredo guardado por tanto tempo. Cada palavra é uma confissão, cada nota uma tentativa de alcançar seu coração. E a dúvida sobre como ele vai reagir me paralisa, mas também me impulsiona a continuar, a deixar que a música diga o que as palavras falharam em expressar.

A tensão entre nós é evidente, e a sala parece encolher ao nosso redor. Meus dedos tremem levemente sobre as cordas do violão, mas continuo a tocar, deixando a música falar por mim. Sinto meu coração pulsar de maneira quase dolorosa, a expectativa e a ansiedade se misturando em um turbilhão dentro de mim.

Os olhos de Gabriel encontram os meus por um breve instante, e é como se o tempo parasse. Há uma busca silenciosa na expressão dele, uma pergunta não verbalizada que ecoa entre nós. Meu peito aperta ainda mais com a intensidade do momento, e uma onda de emoções me invade - amor, medo, esperança, e uma vulnerabilidade que nunca experimentei antes.

Termino a música com um acorde suave, minha voz quase um sussurro. O silêncio que se segue é pesado, carregado de significados não ditos. "O que você achou?"

As sobrancelhas dele se erguem e sua expressão é de surpresa e... algo mais. Ele fica em silêncio por um momento, como se estivesse processando tudo que acabou de ouvir. "Foi... incrível", ele finalmente diz, sua voz suave e cheia de sinceridade. "Essa música... é sobre alguém especial, não é?" Seus olhos brilham com uma curiosidade intensa, e meu coração parece parar por um instante.

"Sim", respondo, a palavra saindo como um sussurro. "É sobre alguém muito especial."

Ele sorri, um sorriso tímido, mas cheio de significado. "Espero que essa pessoa saiba o quanto é sortuda."

SCHOOL FLAMES - TURMA DE 2010Onde histórias criam vida. Descubra agora