SCHOOL FLAMES - TURMA DE 2010

Capítulo 8

22 de fevereiro de 2010

Fábio

Meu sonho sempre foi poder fazer programas de casais, como ir a uma sorveteria, sujar o nariz do meu namorado com calda de chocolate enquanto rimos de alguma piada besta, jantar à luz de velas em um restaurante chique — mesmo que em Governador Pedro De Ávila não haja estabelecimentos desse tipo — ou ir ao cinema e dividir um balde de pipoca enquanto assistimos a um filme de romance clichê. Mas nunca tive esperanças de isso acontecer comigo, pois como seria possível se a sociedade ainda não está pronta para ver duas pessoas do mesmo sexo fazendo coisas normais que casais héteros fazem todo santo dia? Isso não me parece justo...

No entanto, neste sábado, eu finalmente tive meu primeiro encontro! Como nossa cidade não é muito grande, as salas de cinema são limitadas e não havia muitas opções de filmes em cartaz. Gabriel, sendo o cavalheiro que é, me deixou decidir qual assistiríamos. High School Musical: O Desafio foi rapidamente riscado da minha lista mental, até gosto da versão americana, é óbvio que Sharpay Evans é minha personagem favorita, mas o trailer da versão brasileira não me chamou atenção. Além disso, não sou grande apreciador de obras cinematográficas brasileiras. Premonição 4 me empolgou, mas, conhecendo o nerdola que odeia filmes de terror, optei por Percy Jackson e o Ladrão de Raios.

E assim como sempre sonhei, assistimos ao filme enquanto dividíamos o balde de pipoca. Rimos muito e conversamos bastante. Ele é um ótimo ouvinte e, por incrível que pareça, é exatamente como sempre idealizei meu namorado perfeito. Estou apaixonado e, mesmo que nosso romance seja um segredo, posso dizer que estou feliz por finalmente ter alguém para chamar de meu. Quem é Jean? Nem me lembro mais... Agora estou em outra, e como o idiota disse naquela noite no jogo do compasso, era bem previsível que a patricinha e o capitão do time de futebol ficariam juntos!

Uma versão de Romeu e Julieta sem a garota seria incrível, poderiam ser dois protagonistas gays que sofrem porque suas famílias não aceitam o romance entre pessoas do mesmo sexo. Seria lindo, moderno e muito mais interessante. Mas é claro que isso não vai acontecer. Aposto que quem vai interpretar a sonsa da Julieta será a ainda mais sonsa da Manuela. Gabriel e eu não vamos pegar os papéis principais, mas será ainda melhor ficar fora dos holofotes e poder agarrá-lo nos cantos da sala de teatro enquanto todos os outros se empenham em fazer... sei lá o quê!

Enquanto me aproximo do enorme portão de ferro, noto um carro de polícia estacionado em frente à escola. A segunda-feira promete ser movimentada! Finalmente, algo interessante para eu desvendar. Meu coração acelera com a possibilidade de um mistério. Será que estão vendendo drogas na escola? Não seria surpresa, o namorado da prima da Manuela sempre teve uma aparência suspeita, embora mais para quem consome do que para quem vende. Ou talvez seja algo mais escandaloso, como um caso secreto entre professores. Pior ainda, poderia ser algum professor tarado com uma aluna pervertida? Bom, pelo que sei, a vadia da Manuela nunca demonstrou interesse em nenhum deles, mas isso não significa nada... É bem o tipo de coisa que ela faria.

Avisto Paolo cruzando o limiar e acelero o passo para alcançá-lo. "Ei, por que tem uma viatura parada no colégio?", pergunto, tocando seu ombro.

Ele se vira, e seus olhos castanhos claros estão arregalados, como se tivesse sido pego de surpresa. "Não sei", responde com uma voz hesitante.

"Como assim você não sabe?", insisto, sentindo um nó de ansiedade se formar no estômago.

"Sei lá", resmunga ele, franzindo as sobrancelhas e dando de ombros.

"Ah, fala sério! De que adianta ser filho de uma das professoras se você nunca sabe de nada?", provoco, tentando arrancar alguma informação.

Paolo