Capítulo 10

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01 de março de 2010

Fábio

Na sexta-feira passada, depois das aulas, gravamos a música que Jean e Thayse compuseram para a banda. Foi um momento mágico, como se todos os problemas do mundo simplesmente não existissem dentro daquele estúdio. Desafiando o Céu ficou incrível, embora, no fundo, eu ache que o resultado final tenha ficado um pouco brega, lembrando a abertura de séries adolescentes da Disney!

Enquanto cantávamos e tocávamos, havia uma energia no ar que transformava cada nota em algo maior do que nós mesmos. No entanto, não posso deixar de sentir que ainda não estamos completamente conectados como amigos. É um pouco estranho, na real. Parece que na escola somos apenas conhecidos por obrigação, presos em nossas próprias bolhas sociais. Somos talentosos, sem dúvida, mas a falta de química entre nós fora do estúdio torna tudo mais difícil. É como se a música fosse a única coisa que nos une.

Bom, exceto por Thayse e Jean, que estão mais próximos do que nunca. Nem parece que há poucas semanas eles mal podiam se olhar sem trocar farpas! Quem sabe, com o tempo, eles nos ajudem a encontrar essa conexão que falta. Ou talvez precisemos de algo mais, uma faísca que transforme nossas interações diárias e nos faça sentir como uma verdadeira família musical, tanto dentro quanto fora do estúdio. Por enquanto, continuamos a navegar nessa estranha dualidade.

Pego minha mochila nas costas da cadeira para guardar meu caderno. Ao abrir o zíper, percebo um envelope dentro dela. Franzo as sobrancelhas e puxo-o para fora, sentindo uma mistura de curiosidade e apreensão. Dentro, há um papel dobrado, exatamente igual à última carta que apareceu misteriosamente no meu caderno. Olho ao redor, conferindo se há alguém me observando. O silêncio da sala parece mais pesado de repente. Com um suspiro, desdobro a folha e abaixo a cabeça, o coração acelerado pela expectativa.

Oi, Fábio, sou eu de novo! Só queria dizer que sua voz é a mais linda de todas. Ouvi seus ensaios no clube de teatro e fiquei completamente encantado com a sua interpretação. Pena que seu papel na peça é pequeno, seria maravilhoso se todos pudessem ouvir mais de você. Mesmo assim, sei que você será o melhor fado padrinho de todos, ou fada madrinha, não sei qual é o termo correto! Você tem uma presença de palco tão contagiante que, mesmo com um papel menor, vai roubar toda a cena. Admiro muito sua dedicação e talento, e tenho certeza de que todos na plateia vão sentir a mesma magia que senti ao te ouvir.

A letra é bonita, delicada e cheia de curvas suaves. As palavras dançam diante dos meus olhos, uma mistura de elogios e brincadeiras que aquecem meu peito. Esse tipo de atenção é novo para mim e é tudo o que eu precisava para animar minha segunda-feira! Enquanto releio a carta, meu pensamento vai para Gabriel.

"O que é isso?", pergunta Manuela, virada para mim, de costas para o restante da sala.

Meus olhos se arregalam com o susto e tento esconder o papel com as mãos.

"É outra carta como aquela?"

Afirmo com a cabeça, sentindo o calor subir ao meu rosto.

"Eu posso ler essa também?"

Forço um sorriso e entrego-lhe a carta, tentando disfarçar o nervosismo. Enquanto Manuela lê, observo suas expressões mudarem, procurando algum sinal de que ela esteja desconfiada de quem possa ser meu admirador secreto.

Ainda não tenho certeza se é do Gabriel. Não faz sentido ela estar novamente sem assinatura e a letra também não se parece com a dele. Talvez seja algum tipo de jogo, uma forma dele declarar seu amor por mim sem revelar sua identidade, considerando que mantemos nosso relacionamento em segredo. É ao mesmo tempo fofo e romântico, mas também carregado de incertezas. Se eu perguntar diretamente a ele e ele realmente for o autor da carta, posso acabar passando vergonha. É melhor manter isso em segredo e continuar acreditando que é ele, pelo menos por enquanto.

SCHOOL FLAMES - TURMA DE 2010Onde histórias criam vida. Descubra agora