24 de abril de 2010
Thayse
Quinze anos da minha vida fugindo de qualquer tipo de estereótipo masculino. Tantos anos de sofrimento me fizeram desenvolver uma aversão profunda a qualquer traço que pudesse me ligar à masculinidade. Cada vez que me olho no espelho, é uma batalha contra a minha própria imagem. Sou tão complexada que não consigo sair de casa sem maquiagem, nem mesmo para comprar um simples pãozinho na padaria. É como se a base, o rímel e o gloss labial fossem uma armadura que me protege do julgamento alheio e das inseguranças que me corroem por dentro.
Desde que me entendo por gente, sinto atração por homens. Sempre me imaginei em encontros românticos, caminhando de mãos dadas em parques iluminados pelo pôr do sol, trocando olhares cúmplices e sorrisos tímidos em cafés aconchegantes. Esses cenários perfeitos me preenchiam de uma felicidade pura e genuína, como se cada detalhe fosse tirado de um filme de romance clichê. Na minha mente, eu visualizava conversas profundas sobre nossos sonhos e medos, risadas compartilhadas e aquele conforto silencioso que surge quando duas pessoas se entendem sem precisar de palavras.
Confesso que a companhia de Mayra vem despertando sentimentos diferentes em mim ultimamente. É algo novo e inesperado, uma onda de emoções que me pega de surpresa sempre que estamos juntas. Nos momentos mais simples, como quando ela ri das minhas piadas ou quando nossas mãos se tocam acidentalmente, sinto um calor e uma eletricidade que nunca havia sentido antes. Ela tem uma maneira de me fazer sentir vista e compreendida, algo que nunca experimentei com ninguém mais.
E beijá-la hoje mais cedo foi estranhamente bom. No momento em que nossos lábios se tocaram, o mundo pareceu parar por um instante. Foi um beijo suave, tímido, mas carregado de significado. A textura dos seus lábios, o calor da sua pele, tudo parecia se encaixar de uma maneira que nunca imaginei. A sensação era ao mesmo tempo nova e familiar, como se esse fosse o lugar onde eu sempre deveria estar. Meu coração disparou, e uma mistura de nervosismo e euforia tomou conta de mim. Foi um momento de pura conexão, sem palavras, apenas a certeza de que algo profundo e transformador estava acontecendo.
Agora, refletindo sobre o beijo, percebo o quanto ele me afetou. É como se uma porta tivesse sido aberta, revelando novas possibilidades e sentimentos que nunca considerei antes. Estou confusa, mas também curiosa e ansiosa para ver aonde isso vai nos levar. Apesar do medo do desconhecido, há uma parte de mim que está empolgada para explorar esses novos sentimentos ao lado de Mayra.
Estamos em uma festa na minha casa, mas desde que o beijo aconteceu, tenho evitado ela o máximo possível. A confusão que sinto é avassaladora. Me misturo aos convidados, tentando me ocupar com conversas superficiais e risadas forçadas, mas a presença dela parece impregnar o ar. Cada vez que nossos olhares se cruzam, um turbilhão de emoções toma conta de mim, e eu rapidamente desvio o olhar, procurando uma rota de fuga.
Eu a vejo em vários cantos da casa, conversando com outras pessoas, mas meu coração acelera sempre que sinto que ela está se aproximando. Eu sei que eventualmente teremos que falar sobre o que aconteceu, mas agora, tudo o que quero é evitar mais confusão. A festa, que deveria ser um momento de alegria e celebração, se transformou em um campo minado emocional, onde cada passo que dou parece me aproximar de uma explosão.
"E aí, miss", exclama alguém, tocando meu ombro por trás.
Quase dou um pulo. "Jeanzinho", exclamo, encontrando seus olhos.
"Curtindo a festa?", pergunta ele.
"Sim, o Fábio tinha razão, o desfile acabou comigo. Meu corpo todo está dolorido por causa dos saltos. Foi uma ótima ideia não ir para o Rota da Música e ficar por aqui mesmo."
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SCHOOL FLAMES - TURMA DE 2010
RomantikNa última noite do acampamento de verão, cinco alunos da Escola Municipal Alphonso Cordeiro se reúnem para uma apresentação musical. Apesar de terem estudado juntos no ano anterior, suas personalidades divergentes impediram que se tornassem próximos...