18 de junho de 2010
Jean
Assim que desço da moto e atravesso o limiar do enorme portão de ferro, o colégio está envolto em uma aura triste e pesada. O pátio principal, que costumava ser vibrante e cheio de vida, agora se apresenta sombrio e desolado, refletindo o vazio deixado pela perda de Paolo. Enquanto caminho pelo corredor, meu olhar se fixa no mural com as fotos dele. As imagens, que antes capturavam momentos de alegria e conquistas, agora me causam um calafrio na espinha. Cada foto é um lembrete doloroso da sua ausência, de que ele não está mais aqui para preencher os espaços vazios com suas piadas, sorrisos e energia contagiante.
O mural parece um monumento de luto, uma crônica visual de alguém que partiu muito cedo. As cores das fotos, agora quase irônicas em seu brilho, contrastam com o clima sombrio que permeia o lugar, criando uma sensação de dissonância dolorosa.
Só de lembrar o que eu vi assim que cheguei à casa de Fábio naquele dia, meu estômago dá três voltas dentro de mim e sinto vontade de vomitar de novo. As memórias permanecem vívidas na minha mente, como uma mancha indeletável.
Quando Thayse e eu abrimos a porta do quarto, a cena que encontramos parecia uma mistura insuportável de horror e surrealismo. No chão, uma pequena máquina de costura esculpida em pedra estava estrategicamente posicionada, como um grotesco ornamento. Ao seu lado, uma poça de sangue que, se fosse coletada, poderia facilmente encher um balde, espalhava-se pelo chão, dando um contraste macabro com a frieza do ambiente.
Fábio estava sentado no chão, seu corpo encolhido e encostado na parede, com a expressão de alguém completamente em choque e catatônico. Seu olhar vazio, sem foco, parecia fixar-se em um ponto invisível no espaço. Na sua frente, o corpo de Paolo jazia imóvel, uma visão tão cruel quanto absurda. Eu não consegui conter o desgosto e o horror, vomitei ali mesmo, incapaz de acreditar na cena que se desenrolava diante de mim.
Thayse, apesar da situação desesperadora, fazia um esforço visível para manter a compostura. Seus olhos, carregados de uma preocupação que transbordava, tentavam permanecer firmes enquanto ela perguntava a Fábio, com um tom que misturava tensão e controle, se havia mais alguém na casa. Ele, com a voz rouca e esgotada, mal conseguia articular as palavras, sua respiração irregular quase abafava o som. Com um esforço visível para se expressar, ele conseguiu dizer que, além dele, havia mais alguém na casa: sua mãe. No entanto, ela havia tomado remédios para dormir e estava completamente apagada em seu quarto.
Diante da gravidade da situação, Thayse tomou uma decisão rápida e firme. Ela me mandou levar Fábio para minha casa, para que ele pudesse ficar em um lugar seguro e tivesse um álibi. Desde então, o que aconteceu naquele quarto após nossa saída e como o corpo de Paolo foi encontrado boiando no mar quase uma semana depois permanecem um mistério nunca desvendado. Ela nunca mais tocou no assunto e, sinceramente, tenho medo de perguntar o que ela fez.
Tem sido cada vez mais complicado lidar com essa incerteza. As noites são as piores, quando o silêncio é interrompido apenas pelo som dos meus próprios pensamentos. A quietude da madrugada é quase uma tortura, permitindo que minhas ansiedades e dúvidas ganhem vida e se expandam. Assim que minha cabeça toca o travesseiro, minha mente entra em um turbilhão de pensamentos, como se uma avalanche de preocupações e dúvidas me atacasse de uma vez. É como se meu cérebro não tivesse um botão de desligar, e eu fico preso em um ciclo interminável de questões não resolvidas e cenários hipotéticos.
Hoje talvez seja meu último dia em Governador Pedro De Ávila. Está tudo planejado para que eu vá embora amanhã, e essa ideia está começando a se tornar real para mim. Sinto um aperto no peito, uma sensação sufocante que me deixa inquieto. É uma mistura de medo do desconhecido e uma tristeza amarga por tudo o que posso perder. Estou prestes a deixar para trás tudo o que conheço — minha casa, meus amigos, minha banda. A cidade que foi meu mundo está prestes a se tornar apenas uma memória, e essa transição é mais dolorosa do que eu esperava.
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SCHOOL FLAMES - TURMA DE 2010
RomanceNa última noite do acampamento de verão, cinco alunos da Escola Municipal Alphonso Cordeiro se reúnem para uma apresentação musical. Apesar de terem estudado juntos no ano anterior, suas personalidades divergentes impediram que se tornassem próximos...