Capítulo 11

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05 de março de 2010

Fábio

"Você viu o garoto novo que se transferiu para nosso colégio?", pergunto, sussurrando para Thayse ao meu lado.

Ela olha para mim e semicerra os olhos, com um sorrisinho brincando nos cantos da boca. "Você não perde tempo mesmo, né!"

Sopro uma risadinha. "Ele é muito gato."

De fato é mesmo, alto e magro, mas o corpo parece sarado, com aquele tipo de físico que faz as cabeças virarem quando ele passa. Seus cabelos loiros estavam bagunçados, destacando seus olhos azuis claros que pareciam esconder um mistério. Aparentava ter nossa idade, eu chutaria dezesseis ou dezessete anos.

"Não reparei muito", resmunga Thayse, revirando os olhos.

"Sua mentirosa! É um aluno novo no Alphonso Cordeiro e gostoso pra caralho, até uma pessoa com a visão prejudicada repararia nele."

"Será que ele está no terceiro?"

"Não", respondo. "Ele está no primeiro, mas infelizmente na outra turma. Fernando, o nome dele."

Ela ergue as sobrancelhas e franze os lábios em uma careta engraçada. "E como você já sabe disso tudo? Não faz nem vinte minutos que a sirene tocou!"

Engulo em seco e olho rapidamente para Gabriel, sentado ao lado da professora de teatro.

"Ah, sei lá... sou um ótimo detetive", respondo em tom irônico. Então sorrio para ela e dou de ombros.

Thayse inclina-se um pouco para frente. "Ele é tipo um daqueles personagens de filme, sabe? O novo na cidade, com um ar de mistério pairando ao redor."

"Totalmente", concordo, relembrando o momento em que o vi no corredor. "Ele tem aquele jeito descolado, como se estivesse sempre um passo à frente de todos."

"Mas ele tem cara de problemas. É melhor aproveitarmos que ele não está na nossa turma e ficarmos longe dele."

Sorrio enquanto ela volta sua atenção para a professora.

"Tudo bem, agora que já lemos juntos todo o roteiro de hoje, vamos tentar pôr em prática então", exclama Sofia sobre o palco de madeira. "Vamos começar da cena em que o relógio acorda Cinderela e seus companheirinhos."

Ainda não acredito que Jean desistiu de ser o príncipe para interpretar um dos ratos. Eu sei que disse a ele que Gabriel combina muito mais com o papel de protagonista, mas quando sugeri que ele tentasse o papel do Jaq, eu estava brincando. A expressão dele quando leu seu nome na folha da escalação de elenco foi indescritível, uma mistura de alívio e empolgação, como se ele estivesse ansioso para provar que pode brilhar em qualquer papel, por mais inusitado que seja. Será que ele está tentando me mostrar algo? Aposto que, de alguma forma, ele está tentando me desafiar.

A professora ajusta os óculos redondos sobre o nariz e fita a folha em sua mão. "Adorei o que vocês fizeram", diz ela para Manuela, animada. "As músicas brasileiras que vocês adicionaram ao musical vão dar um toque único à nossa apresentação. É uma ideia ousada, misturar a clássica história da Cinderela com nossa cultura, mas sinto que vai funcionar muito bem!"

"Fábio me ajudou." Manuela procura por mim na primeira fileira de cadeiras. "Vamos começar com Charlie Brown Jr., depois um trechinho da música do Titãs, então Skank, mais uma do Charlie Brown Jr. e finalizar a cena com Chimarruts."

Cada nome que ela menciona traz consigo uma infinidade de memórias e sentimentos que nós dois já compartilhamos juntos. São bandas com energia contagiante e letras que ecoam os anseios da juventude, irreverência, críticas sociais, melodias ensolaradas que parecem capturar a essência do nosso país tropical com suas vibes relaxantes que nos transportam para praias douradas e pores do sol inesquecíveis.

SCHOOL FLAMES - TURMA DE 2010Onde histórias criam vida. Descubra agora