Capítulo 24

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26 de abril de 2010

Paolo

Eu estou sentado na primeira fila do auditório, observando atentamente o ensaio da peça de teatro. O palco de madeira range levemente sob os pés dos atores, e a luz suave das lâmpadas incandescentes lança sombras dançantes sobre o cenário. Manuela está no centro do palco, segurando uma escova de cabelos. A confiança em sua voz é clara, mesmo que eu perceba um leve tremor de nervosismo. "Mas todas as garotas solteiras deverão comparecer ao baile, madrasta, todos nós fomos convidadas."

Thayse, sentada de costas para ela, se endireita na cadeira, seu corpo respondendo automaticamente ao comando da cena. Ela vira lentamente a cabeça, os olhos brilhando com um sarcasmo gelado. "Vocês ouviram isso?", pergunta ela, olhando para Clarisse e Juliana, que vão interpretar suas filhas na peça. "A Cinderela ainda insiste com essa ideia tola de querer ir ao baile!"

As irmãs malvadas, posicionadas ao lado da mãe, trocam olhares cúmplices antes de soltar risadas exageradas, que ecoam pelo auditório vazio. Gabriel, escondido atrás das cortinas, começa a tocar o piano.

Thayse se levanta devagar. Ela avança em direção a Manuela, a autoridade em sua postura inquestionável. "Minha casa, minhas regras. Cada canto eu comando. Escove meu cabelo, Cinderela. Não há tempo pra descanso", ela canta, sua voz ressoando com uma crueldade melodiosa. Suas palavras se misturam com a música, criando uma atmosfera tensa que faz meu coração bater mais rápido. "Ouça bem o que eu digo, pois aqui eu sou rainha. Obedeça minhas ordens, faça tudo que eu mandar."

A tensão da cena cresce, cada momento parecendo mais carregado de emoção do que o anterior. Elas estão ótimas em seus papéis, suas atuações tão convincentes que eu quase me esqueço de que estou assistindo a um ensaio. Gabriel intensifica a melodia no piano, as notas ganhando força e urgência.

"Criança pobre e tola, acredita na magia, conversa com seus ratos, vive no mundo da fantasia", Thayse canta o refrão, sua voz é mais alta, mais poderosa e sua postura se endireitando ainda mais, a expressão em seu rosto uma mistura de autoridade e malícia.

As luzes do palco parecem irradiar mais intensamente enquanto a música cresce, criando uma atmosfera eletrizante. Fábio, ao lado do palco, levanta a cabeça do roteiro, seus olhos brilhando com entusiasmo. Eu posso ver que ele está tão emocionado quanto eu, cada fibra do seu ser capturada pela intensidade do momento.

Clarisse e Juliana, ainda em seus papéis, se aproximam de Thayse, suas risadas agora silenciadas, mas seus olhares ainda cheios de desprezo por Cinderela.

"Eu não sou uma bruxa má, carrego o mundo em meus ombros. Você deveria ver meu lado, pois sempre estive sozinha", Thayse continua o refrão com toda a força de sua voz, a melodia ressoando pelo auditório e arrepiando minha pele.

Quando a última nota do piano se desvanece no ar, há um breve momento de silêncio absoluto. A tensão acumulada parece pairar sobre nós, imortalizada naquele instante. E então, quase em uníssono, os aplausos irrompem. Eu me junto aos outros, batendo palmas com entusiasmo.

Minha mãe, que estava sentada ao meu lado, levanta-se e se dirige ao palco, ainda aplaudindo. "Meu Deus, o que foi isso?", pergunta ela, aproximando-se das meninas. "Thayse, isso foi incrível. Essa música que você compôs... a cena, as atuações... eu juro, estou toda arrepiada!"

Thayse sorri, ainda um pouco ofegante pelo esforço da performance. "Obrigada, professora", diz ela, a humildade em sua voz clara, mas seus olhos brilhando de satisfação. Manuela sorri ao lado dela, visivelmente feliz com o reconhecimento.

Nesse momento, meus olhos encontram os de Fábio. Ficamos nos olhando por alguns segundos, o mundo ao nosso redor parecendo desaparecer. A cena no palco se torna um borrão distante, enquanto o peso da nossa troca de olhares faz o tempo parecer parar. Eu sei que não deveria tê-lo deixado sozinho na festa, principalmente quando ele estava podre de bêbado. Há tanta coisa que eu quero dizer a ele, mas suas palavras me machucaram profundamente.

SCHOOL FLAMES - TURMA DE 2010Onde histórias criam vida. Descubra agora