3 de fevereiro de 2010
Fábio
Você olha para Manu e ela parece uma garota fofa e meiga, uma flor linda e impecável no meio de um jardim podre, mas eu a conheço como ninguém. Ela é desesperada por atenção, capaz de qualquer coisa para estar no centro dos spots de luz. E mesmo que ela morra negando, sei que ela é exatamente assim. Eu sei mais sobre ela do que ela sobre si mesma.
Quando sua mãe morreu de cirrose fui eu quem ficou ao lado dela e lhe mostrei como manter a porra do queixo erguido e fingir ser forte na frente dos outros. Ensinei-a a usar o corpo para atrair tudo o que precisa. Mostrei a ela como criar um cenário fictício em sua mente e agir de acordo com suas expectativas. A real é que eu criei um monstro e agora ela está devorando o garoto por quem ela sabe que sempre fui apaixonado. Mas, assim como ela, também sei engolir meu orgulho e fingir que não me importo.
E lá estão eles! Jean sentado na minha carteira, com os braços casualmente ao redor da cintura dela, que está de pé na sua frente. Seus sorrisos são tão brilhantes e naturais que me fazem revirar os olhos, uma parte de mim querendo apenas me virar e voltar para casa. Talvez eu devesse fazer exatamente isso, me afastar dessa cena patética que só intensifica meu desconforto.
"Fábio", exclama Paolo, sentado na fileira ao lado deles, chamando a atenção do casalzinho e impedindo minha saída de fininho. "Posso pegar emprestado seu caderno de português depois? Preciso terminar de copiar a matéria."
Forço um sorriso para ele e aceno afirmativamente. "Claro, sem problemas." Garoto chato, fala sério, ele poderia ter pedido a qualquer um. Por acaso sou o único na sala que anota tudo? Caminho em direção à minha mesa, mantendo um sorriso amarelo no rosto, enquanto tento ignorar o desconforto crescente em estar ali.
Paolo até que é gostoso! Alto, forte, rosto quadrado, mandíbula marcada, cabelos e olhos castanhos claros, nariz perfeito e lábios carnudos, suas bochechas são rosadas que se destacam contra sua pele pálida e sem manchas. Ele não fala abertamente sobre sua sexualidade, mas não faz questão de esconder o quão é obcecado por mim. Se ele não fosse tão bobão, talvez tivesse uma chance comigo, mas não suporto seu jeito criançola. Sempre sorrindo como se a vida fosse maravilhosa, fazendo piadas o tempo todo como se ele fosse comediante. Chato, chato e chato!
"Oi", murmura Manu, afastando as mãos do pescoço de Jean. "Desculpe por não ter vindo para escola com você, ele passou na minha casa mais cedo e viemos juntos."
"Ah, tudo bem, amiga! Agora você tem um namorado, não somos mais só você e eu." Minha voz carrega uma mistura de sarcasmo e desdém.
Jean quase engasga e solta a cintura dela, claramente surpreso.
"O que foi, vocês ainda não oficializaram?", provoco, levantando uma sobrancelha.
Seus olhos quase saltam da cara, e ele olha para mim com uma expressão ainda mais perplexa.
"Pelo jeito não." Gesticulo para ele sair de cima da minha mesa. "Mas isso não é da minha conta!"
Jean desce em um pulo e rapidamente puxa uma cadeira da carteira vaga atrás de mim. "Eu estava pensando...", resmunga ele, sentando-se ao meu lado.
Em todos esses anos, acho que esta é a primeira vez que estamos tão próximos, a centímetros de distância. O calor de sua presença é tangível, e o aroma sutil de sua colônia mistura-se com o ar entre nós. No entanto, por mais surpreendente que seja, não sinto aquela excitação que costumava surgir em situações assim. Não há borboletas no estômago, nem aquela leve euforia. É como se o brilho desse momento, que um dia imaginei ser mágico, tivesse se apagado antes mesmo de começar.
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SCHOOL FLAMES - TURMA DE 2010
RomanceNa última noite do acampamento de verão, cinco alunos da Escola Municipal Alphonso Cordeiro se reúnem para uma apresentação musical. Apesar de terem estudado juntos no ano anterior, suas personalidades divergentes impediram que se tornassem próximos...