Cap. 3 - Autoridade

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Terceiro dia desde que conheci o rei dos sonhos. Três dias que ele havia desaparecido completamente da minha vida, como prometido.

Eu não estava dormindo direito, pois tinha pesadelos horríveis com monstros do entremeio rasgando a minha pele. Mas havia pesadelos piores, nos quais a igreja detectava magia proibida no meu bar e tinha que prestar contas com uma das instituições mais antigas da humanidade... e mais cruel também.

— Bom dia criança! — Sem perceber, meus pés me levaram para a casa de minha madrinha.

Era uma linda casinha colonial, com tijolinhos e um quintal repleto de plantas, bem senhorinha, apesar da aparência dela.

— Nossa, você está estonteante hoje. — Assim que elogiei ela abriu um lindo sorriso.

— Isso tudo é casca! Por dentro estou tão gasta quanto os meus 400 anos.

— As vezes eu me esqueço que sempre teve essa aparência.

— E pretendo manter. — Ela indicou o caminho para o jardim dos fundos.

Enquanto caminhávamos, observei as ervas medicinais. Juntas, elas emitiam cheiros deliciosos, hora agradando o paladar e hora o cérebro, fazendo- desacelerar.

Assim que nos aproximamos de um dos bancos, percebi que a roseira vermelha estava florida. Isso me fez sorrir.

— Seu pai já roubou muitas rosas aqui — Ana começou — ele dava essas rosas pra sua mãe em todos os aniversários de casamento. Ah, e nas demais datas também. — Rimos.

— Papai era um romântico incurável.

— Você precisa de um homem que te dê flores! Esses são os melhores. — Ana sentou numa cadeira logo à minha frente. O sol estava fresco e eu me sentia melhor com aquelas plantinhas acariciando meu cabelo.

— Nunca ganhei rosas, nem nenhuma outra planta. Só ervas, para fazer drinks para homens que precisam de poções. — Suspirei.

A conversa estava normal. Falando sobre homens e tudo mais, mas logo Ana se calou. Ela inclinou o corpo para frente e me cheirou.

— Morpheus. — Assim que disse o nome dele, sua expressão divertida se foi.

— É por isso que eu vim. — comecei, vacilante.

— Precisa de proteção?

— Preciso, madrinha. — Aquilo foi muito vergonhoso. Desde que ela me criou, na minha adolescência, sempre aprendi a me virar sozinha e não me meter em encrencas. Fiquei esperando um sermão daqueles.

Ana suspirou.

Suas feições ganharam leves linhas de expressão, e sua mão foi parar no queixo, pensativa.

— O cheiro dele tá impregnado em você Chloe. Acho que só não senti antes por causa das plantas aqui.

— Madrinha, eu...

— Olha, eu sei bem como ele é! Me escuta, não confie nele.

— O que a senhora sabe sobre ele? — Agora quem se ajeitou no banco foi eu. Tirei a bolsa do colo e cruzei os braços.

— Bom, isso já faz uns 200 anos e eu nem conhecia seus pais ainda. — ela se levantou e começou a caminhar pelo jardim. — Ele me procurou para ajudá-lo a encontrar um de seus pesadelos, que fugiu da dimensão dos sonhos. Eu não era burra, então o ajudei. Achei que seria melhor ficar ao lado dele do que contra ele. — Essa história tava até parecendo a minha. — Conseguimos encontrá-lo aqui no mundo desperto. Ele estava morando numa casa normalmente, tinha arrumado um emprego num supermercado, você acredita?

Just Like a Dream (Sandman)Onde histórias criam vida. Descubra agora