Morpheus
Até aquele momento, eu nunca tinha andado de uma lado para o outro, completamente transtornado. Isso porque, quando se tratava da Chloe, tudo o que eu sabia sobre mim se desfazia completamente: tudo era novo e cheio de intensidade.
Eu estava reunindo o resto da sanidade que restava em minha mente, para não ignorar a ordem de Ana e ficar fora do quarto de hóspedes. De cara com a porta, podia apenas escutar os gritos de dor vindos do outro lado; e ver as luzes que saíam pelas frestas, ganhando o corredor.
No quarto ao lado, Jhon também era cuidado por Elena. Pensei algumas vezes em ir até lá, mas mudei de ideia assim que Miranda saiu do quarto de Chloe e passou por mim, me ignorando completamente, para ajudar o exorcista.
Eu também tinha poder! Também poderia fazer alguma coisa, mas ao que parece, a magia dos perpétuos não era o que eles precisavam ou queriam naquele momento. Pelo contrário, eles me queriam bem longe dali.
— Ele está melhor! — Me virei de repente e encontrei o rosto suado de Elena.
— Você parece cansada! — Eu não fazia ideia de quantas horas estive ali, rodando para lá e pra cá, aesmo.
— Sim, estou! — Ela veio até mim e passou os braços ao redor do meu corpo — Muito obrigada — fez uma pausa — Sei o quanto isso custou!
Não respondi. Eu ainda não sabia o que havia custado; não enquanto Chloe estivesse desacordada, entre a vida e a morte.
Um grito doloroso escapou do quarto da feiticeira, fazendo com que Elena se afastasse de mim e colocasse a mão na boca.
— Chega, vou entrar lá! — Empurrei a porta, que bateu na parede de pedra com um estrondo. Com as mãos estendidas sobre o corpo seminu de Chloe, Ana e uma outra feiticeira que eu não conhecia me olharam furiosas.
— Saia! — A madrinha dela gritou.
— Não, eu não vou sair! — Gritei de volta, a voz embargada, denunciando a minha fragilidade recém adquirida.
— Sandman — a outra feiticeira, de cabelos longos e brancos, falou docemente — É melhor esperar lá fora! — O nó em minha garganta era imenso. Eu queria fazer alguma coisa.
— Posso tentar curá-la! — Falei, mais baixo do que planejei.
— Você já fez o suficiente! — Ana ainda estava gritando — Não tá vendo? A magia tem um preço, perpétuo!
Sim, ela tinha! Mas eu não poderia pagar aquele tipo de preço. Fosse quem fosse, uma alma humana era valiosa demais para ser perdida assim. Como eu poderia olhar para John, sabendo que para salvá-lo eu tive que perder a mulher que amo?
— Sonho? — Escutamos Chloe pronunciar. Me aproximei e o rosto dela estava contorcido pela dor, seus olhos fechados e a boca numa fina linha rígida.
— Tô aqui! — Peguei na mão dela, apertando-a com delicadeza. — Me perdoa, eu... — fiquei envergonhado. Tinha deixado algumas lágrimas escaparem na frente daquelas mulheres que me odiavam.
— Ela está respondendo! — a senhora de cabelo branco comemorou, aumentando ainda mais a intensidade da luz de suas mãos.
— Ela vai viver, não vai? — Ana também colocou mais energia em sua magia de cura.
A velha balançou a cabeça que sim, emocionada.
Olhei para a feiticeira e vi a ferida próxima a sua testa se fechando. As mãos, que estavam geladas, começaram a se aquecer e a feição de dor diminuiu. Foi como se a mão que apertava o meu peito afrouxasse, mas apenas um pouco.
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Just Like a Dream (Sandman)
ChickLitChloe compreende que todo tipo de magia impõe um custo. Ela tinha consciência disso antes mesmo de Morpheus, o perpétuo, adentrar seu bar naquela madrugada, demandando feitos inexplicáveis até mesmo para sua mais leal amiga. O que nenhum dos dois po...