Cap. 21 - Um do outro

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Morpheus

Era a primeira vez que via meu quarto tão bagunçado. Horas haviam se passado, enquanto eu explorava o corpo e a alma da feiticeira de todas as formas humanamente possíveis. Em certo momento, quando ela suspirou de exaustão e quando seus olhos insistiam em se fechar, eu percebi que não conseguiria continuar a torturá-la da forma que fiz a noite toda.

Sim, torturá-la, essa era a palavra correta.

Mesmo que ela gritasse, mesmo que ela chorasse e mesmo que arranhasse todo o meu corpo, a procura de algum alento ou piedade, eu não a tive. Principalmente, depois que ela disse que queria.

Chloe, sempre tão dona de si e impetuosa, me permitiu ter todo o controle sobre ela no meu momento mais sombrio. Eu sabia, no momento em que ela chamou o meu nome sabendo quem eu era, que não poderia ser um perfeito cavalheiro acariciando a pele dela com cuidado, como se ela fosse de vidro.

Não!

Eu queria sentir a textura de cada parte dela. Queria afundar meus dedos em sua carne, sentir o cheiro do cabelo dela, o gosto dela, de todos os jeitos que eu imaginei, por um ano. E eu sabia exatamente como aquilo seria, no momento em que ela implorou.

Se ela não implorasse, eu teria a deixado machucada daquele jeito? Ela estaria naquele exato momento, deitada sobre a minha cama, completamente apagada?

O cabelo de Chloe estava embaraçado, seu rosto estava manchado pela maquiagem borrada, seus lábios tinham manchas avermelhadas, provavelmente do meu sangue, e em todos os lugares perceptíveis, haviam hematomas.

Sentado na cadeira, de frente para ela, comecei a me perguntar como ela olharia para mim. Será que ela sentiria uma dor excruciante e se arrependeria? Ela se lembraria que consentiu, que implorou por mais e mais?

Horas e horas se passaram, enquanto eu a observava desacordada, respirando profundamente, envolta por uma noite sem sonhos.

Chloe

A luz do sol que entrou pelo vitral me despertou. Abri os olhos devagar, permanecendo parada na mesma posição. Eu estava de barriga para baixo, sentindo os deliciosos lençois de seda de Morpheus sob a minha pele.

Como numa reprise, a imagem dele me mantendo presa naquele vitral magnífico surgiu, mas aquela tinha sido apenas a primeira vez que ele me levou para aquele lado do quarto. Fechei os olhos, tentando me concentrar na sensação ainda latente dos dedos dele sobre a minha pele, me impedindo de gritar, segurando o meu pescoço, tocando a minha excitação e explorando a minha boca.

Suspirei, completamente extasiada.

Eu sabia quem EU era, o que ELE era.

Meu Deus, eu o amava tanto!

Eu amava tudo o que a gente viveu. Sem perceber, meus olhos formaram um espelho de lágrimas, o que me fez finalmente decidir me mexer.

Com dificuldade, sentei na beirada da cama.

— Chloe, eu ... — Ele apareceu na porta, completamente vestido. Envergonhada, puxei o lençol e me cobri.

— Bom dia! — Falei contente. Apesar de estar dolorida e ver manchas avermelhadas no meu braço, eu me sentia incrível.

— Bom dia! — Ele respondeu, ainda parado próximo a porta. Novamente o silêncio tomou conta do quarto.

Os olhos dele ainda estavam escuros e sua expressão era resignada. Ao nosso redor, as roupas da noite anterior estavam espalhadas pelo chão, havia alguns papeis e livros caídos que anteriormente estavam sob a escrivaninha, canetas, pinceis, enfim, tudo o que esteve antes sobre os móveis e que foi lançado ao chão para me receber.

Just Like a Dream (Sandman)Onde histórias criam vida. Descubra agora