Cap. 15 - Um convite inesperado

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"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso ás vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como "estou contente outra vez".

Caio Fernando Abreu

1 ano depois...

Chloe

Minha memória nunca voltou. Tudo o que eu soube a respeito de Morpheus saiu da boca dos outros, e isso era pouco coisa. No mais, ele nunca me procurou; nenhuma única vez.

Todo esse processo passou por mim em etapas, começando com a curiosidade, passando pela ansiedade de uma possível aproximação, escalando para a paranóia, tornando-se amargura e finalizando com a indiferença.

No fim, ele não procurou nem a mim e nem ao Salem. Isso era tão frustrante quanto admirável, pois mostrava que, de alguma maneira, ele era gentil, honrado e protetor, deixando que o mal suscitado pela sua presença em minha vida desaparecesse junto com a sua memória.

Eu estava feliz? Não sabia! Haveria sempre a sombra dele e de algo que eu vivi intensamente, que me fez quebrar todas as minhas regras sobre homens.

— Mocinha? — Desculpe! — A bebida já havia se derramado, quando levantei apressada a jarra e dei um sorrisinho amarelo para o cliente.

— Não se preocupe, está muito agitado hoje! — Com cerca de 50 anos, o homem era atraente e ostentava uma pele bem cuidada e cabelos grisalhos.

— Sim, estou tão feliz! Está tudo como planejado! — Respondi animada, saindo dos pensamentos a respeito do perpétuo e me retirando para ir em direção ao bar.

A casa estava cheia.

Amantes de boa música e petiscos dançavam, namoravam, degustavam e se entorpeciam, em meio às mesas e cadeiras.

— Tem uma folha no seu cabelo! — Assim que cheguei ao balcão, meu ex, Gregory, se inclinou para tirar uma folhinha de hortelã. Demos uma risadinha. Ele era um bom rapaz, sempre preocupado comigo. Quando o bar reabriu, decidi dar uma vaga de trabalho para ele, e foi uma boa ajuda, agora que Miranda passava algumas noites na casa de Helena.

Respirei fundo ao lembrar de John. Ele sim havia me procurado e fui tão grosseira e mal educada quanto pude, a fim de afastar a sombra do exorcista da minha vida e do meu bar.

— Se lembrou de alguma coisa? — Vez ou outra, Gregory fazia a mesma pergunta. Ele parecia preocupado.

— Não me lembrei de nada e acho que não vou!

— É melhor assim! Vai por mim, tem coisa que é melhor deixar pra lá! — Será que ele estava falando no nosso término, fomentado pelas olhadas que ele dava para a bunda da minha melhor amiga? Apenas concordei com a cabeça, partindo novamente para atender uma mesa.

A noite passou tão rápido que mal pude acreditar quando o último bêbado sorridente deixou o bar. Cansada, suada e orgulhosa, reuni todos os copos, retirei o dinheiro do caixa e apaguei as luzes, chegando em casa às 5 horas da manhã.

Meu gatinho veio correndo em minha direção e passou seu longo rabo pelas minhas pernas. Corri para pegá-lo no colo e enchê-lo de beijinhos.

— Senti sua falta, meu amor! — Ele balançou a cabeça confirmando, como se dissesse que também sentiu a minha.

Just Like a Dream (Sandman)Onde histórias criam vida. Descubra agora