Antes da noite chegar, pedi a Sonho que me levasse para ver minha madrinha. Ela não poderia saber de forma alguma o que eu estava prestes a fazer, por isso tentei parecer normal enquanto tomávamos chá no quintal dos fundos da casa.
Foi um fim de tarde agradável, mas antes de irmos embora com a barriga cheia de chá e biscoitos, Ana me apertou contra o peito e recomendou que tivesse juízo, muito juízo. Ela parecia, mesmo que inconscientemente, saber que eu estava prestes a cometer uma burrice.
Voltamos para o Sonhar e Sonho foi ver o que a irmã havia conseguido com o Necromante. Com um macacão preto brilhante, ela havia trocado de roupas e feito um penteado no cabelo curto loiro. Estava bonita, como sempre, e muito animada.
— Ele está na seção 53. — falou colocando uma dose de conhaque no copo e se sentando na poltrona do ateliê.
Aquela poltrona!
— Que é? — Sonho questionou sem a mínima paciência. Perto da porta, eu estava um pouco distante dos dois.
— Pelo que me lembro, é um supermercado infinito! — ela deduziu, indiferente.
— Sonho, ele tinha como se alimentar lá então! — afirmei feliz e me aproximei dele.
— Espero que sim! — ele me abraçou, ignorando a irmã.
— Por favor, vão para um quarto! — Ela reclamou, se levantando e colocando mais bebida no copo. Na noite anterior, eu nem tinha reparado na mini adega que ficava nos fundos do cômodo.
— Nunca fomos pra um, não vai ser agora que vamos começar! — ele respondeu em um tom sarcástico, o que me fez corar na hora. Dei um tapinha no peito dele, repreendendo.
— Olha só, vocês acabaram de ficar interessantes! — Desejo voltou a se sentar na poltrona da noite anterior, e tive que apertar os lábios para não rir da ironia daquilo.
— Onde está o necromante? — Perguntei me virando de costas e sentindo Sonho me abraçar por trás.
— Digamos que ele não está mais aqui! — a irmã perversa sorriu, como se ela estivesse me fazendo um favor de poupar os detalhes sórdidos. Balancei a cabeça para mostrar que entendi.
Em seguida, os irmãos começaram a organizar o plano. Sonho me deu um beijo casto nos lábios e puxou uma poltrona do outro lado do ateliê, para se sentar de frente para a irmã. Neguei quando me ofereceram um assento e parti para procurar salém.
Rapidamente o encontrei na sala do trono, sentado no lugar do rei, todo pimposo.
— Você quer que nos expulsem daqui, salem?! — Perguntei, achando graça e comecei a subir os degraus, mas ao me ver ele se levantou e começou a vir em minha direção, fazendo com que nos encontrássemos na metade do caminho.
Assim que ele pulou em meu colo o abracei apertado, sentindo um cheirinho de biscoito amanteigado.
— Matthew está te deixando mal acostumado, filho! — falei limpando os farelos dos bigodinhos dele e vendo sua expressão esboçar um risinho felino.
— Quer brincar um pouco?! — Eu não sabia se precisariam de mim para o plano agora ou mais tarde, só sabia que o tal plano ainda estava sendo arquitetado, e como uma péssima estrategista, deixei a organização com seres mais antigos que eu.
— Vamos brincar de pique esconde! Eu te procuro! — afirmei, colocando ele no chão. — Mas filho, se a mamãe não aparecer dentro de 40 minutos, você para de se esconder e encontra a Lucienne, viu! — Ele fez que sim com a cabeça, e assim que me posicionei virada de costas para começar a contagem regressiva no 10, ele saiu apressado.
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Just Like a Dream (Sandman)
Chick-LitChloe compreende que todo tipo de magia impõe um custo. Ela tinha consciência disso antes mesmo de Morpheus, o perpétuo, adentrar seu bar naquela madrugada, demandando feitos inexplicáveis até mesmo para sua mais leal amiga. O que nenhum dos dois po...