Cap.7 - Você quer me enlouquecer?

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O lado bom de ser uma bruxa é poder usar nossa conexão com a natureza para criar combinações poderosas de chás. Assim, logo que Miranda e Morpheus saíram para jantar, tratei de ir até nossa horta vertical, na parede da cozinha, e colher folhas de Camomila, Valeriana, Lavanda, Passiflora, Melissa, Kava-Kava e Ginseng americano.

No primeiro gole, notei que tinha exagerado um pouco na mistura, mas pelo menos tinha garantido que dormiria como uma pedra, longe dos pensamentos intrusivos sobre o que eles estariam conversando ou fazendo.

Quando o sonho começou, senti meu corpo leve como uma pluma. Observei o chão e ele era vermelho carmim, muito brilhante e encerado. Olhei para cima e notei que aquele era o salão de baile do castelo de Morpheus. A sensação era como estar lá realmente, e eu podia sentir o frio do piso, o cheiro de madeira dos arabescos nas paredes e o verniz das pinturas renascentistas de lindas mulheres.

Fui caminhando em direção a ala central, finalmente alcançando o corredor por onde Morpheus e eu passamos na noite anterior. No meu sonho, estava tudo exatamente igual, por isso logo encontrei o jardim oriental em uma das passagens de arcos do corredor.

Resolvi, finalmente, ir até ele. O lugar estava ensolarado. Um vento suave passou pelo meu cabelo, ondulando as mechas e movimentando as folhas das árvores ao redor do lago cristalino, que continha carpas alaranjadas.

Sentei na beira do lago e toquei o espelho d'água com as pontas dos dedos, remexendo a água como quem mistura uma xícara de café. Logo as carpas vieram em minha direção, nadando para lá e para cá, passando embaixo da minha mão. Naquele momento, eu podia até mesmo tocar as suas escamas.

Ali era muito calmo e silencioso. O sol queimava minha pele de um jeito delicioso e o ventinho constante fazia parecer que o meu corpo estava sendo acariciado pelos Deuses.

Deixei um longo suspiro sair dos meus lábios, descansando a mente de tudo e todos.

Não sei quanto tempo permaneci ali, mas a tarde chegou e o sol começou a se pôr no horizonte, trazendo sombras distorcidas para as palmeiras e fazendo com que as carpas se aprofundassem nas águas.

Me levantei e voltei para o corredor, pensando que nunca tinha tido um sonho tão longo. Caminhei por algum tempo, mas antes de chegar à sala do trono, vi uma intensa luz brilhando através da porta de um dos quartos, numa passagem lateral. Curiosa, fui até ela.

Ali eu não tinha estado quando fui ao castelo, e comecei a achar que finalmente minha mente estava criando fantasias oníricas.

Quando cheguei em frente a luz, vi um quarto grande e cheio de detalhes interessantes. O chão era de madeira, coberto na parte central por um tapete felpudo. Perto de duas paredes com vitrais góticos, repletos de vidro transparentes que evidenciavam a floresta, existia uma cama gigantesca com lençóis de um cinza azulado quase poético.

Em cada lado da cama, existia uma mesinha de cabeceira com abajures combinando e ao redor e tudo isso, delicadas plantas decorativas sem flores. Mas o que mais chamou a minha atenção estava na parede ao lado da porta: um enorme espelho por onde saía uma luz alaranjada.

Era estranho, porque apesar de chamativa, a luz não iluminava o quarto. Fui caminhando até ele, absorta por seus detalhes em metal, cheio de entalhes e com algumas flores na parte superior.

Assim que me aproximei, minhas mãos ficaram dormentes, e quando as levantei, vi que estavam acesas, brilhantes como a luz que saía de dentro do espelho, impedindo que eu visse meu próprio reflexo.

— Choe? — Me virei para trás, com as mãos ainda estendidas, quando vi Morpheus. Ele parecia surpreso. — Como você chegou aqui?

— Relaxa, isso é só um sonho — voltei a observar o espelho, e estendi uma das mãos até que ela atravessasse o vidro. — Olha só, Magestade, que legal! — Senti ele se aproximar de mim e segurar os meus ombros, fazendo com que eu tirasse a mão do objeto.

Just Like a Dream (Sandman)Onde histórias criam vida. Descubra agora