Cap. 4 - Inquisição

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O clima na pequena sala da catedral de Willsburry podia ser cortado com uma faca, de tão tenso. Mulheres e a igreja católica não tinham uma boa história, já que o passado estava repleto do sangue feminino, banhando o tapete do hall de entrada de basílicas como aquelas.

Ao que parece, nada estava diferente!

Enquanto Isaac, o magistrado, lia a acusação contra mim, - que falava exatamente o que eu já imaginava-, eu olhava para o lado à procura de alguma reação por parte de Morpheus. Mas ele estava compenetrado, avaliando cada palavra do homem à nossa frente.

Isso me deixou irritada. Afinal de contas, era culpa dele essa situação. Se o rei não tivesse aparecido aquela noite no meu bar, nada daquilo estaria acontecendo.

— O que a senhorita tem a dizer em sua defesa? — Isaac aumentou o tom de voz para chamar a minha atenção.

— Eu... — comecei, sem saber ainda o que falar. Em outra situação, eu apenas diria que fui obrigada, mas com o perpétuo ao meu lado, eu estava apavorada.

— Quem proferiu a acusação? — Morpheus me interrompeu. Surpreso, o magistrado juntou as sobrancelhas.

— Isso é irrelevante! Nossos equipamentos encontraram evidências no bar da feiticeira.

— Para ser um julgamento justo, Chloe tem direito de saber quem a acusa! — O rei insistiu. Logo, burburinhos surgiram atrás de nós.

O magistrado pediu silêncio e voltou a se concentrar em nós. Ao que parece, era a primeira vez que uma bruxa exigia ser colocada frente a frente com o denunciante, ou a primeira em que eles consideravam a possibilidade de atender a esse pedido.

— Você exige uma testemunha, senhorita? — Morpheus chamou a minha atenção, sua expressão dizia "Me obedeça" e eu obedeci.

— Sim, eu exijo uma testemunha!

— Levem-nos até às masmorras. — Isaac, muito contrariado, ordenou a dois dos padres. Eles se aproximaram com algemas. Eram algemas de Merlin, enfeitiçadas contra o uso da magia. Para mim, funcionaram bem, eu só não sabia se elas tinham efeitos sobre vossa magestade.

— Enquanto convocamos a testemunha, vocês esperam na cela. — O magistrado informou.

Após cruzar alguns salões e entrar num elevador, fomos alocados numa das celas frias e rústicas da basílica. Era engraçado que os cristãos que frequentavam aquele lugar jamais saberiam que aquele tipo de prisão existia.

— Eles vão me torturar! — Falei mais pra mim mesmo do que para o rei.

— Não, isso não vai acontecer! — Morpheus garantiu, me deixando no fundo da cela e indo observar os guardas.

Aquele lugar parecia saído de um livro de história, direto do passado sombrio da igreja.

— Essa coisa funciona com o senhor? — Apontei pra algema na mão dele. Ela deixava os pulsos vermelhos, contrastando com a pele pálida dos longos dedos da criatura.

— Sim, ela funciona! — Ele assumiu. — A igreja tem muito poder, porque ele vem da fé dos humanos. Se você pensa que humanos não tem magia, você se engana! Eles só não sabem canalizá-la como as feiticeiras.

— Então eles podem te prender... — pensei sobre isso por um momento — achei que o magistrado tinha medo de você.

— Ah, ele tem! E isso o torna menos estúpuido do que eu esperava.

— Então nós temos um plano? — Cruzei os dedos na esperança de que ele iria me tirar dali.

— No passado, quando os perpétuos interferiram no mundo desperto, as coisas não saíram como o esperado. Faz alguns séculos que aprendi a deixar os humanos tomarem suas próprias decisões. — Ele caminhou até mim, sentando no banco de pedra ao meu lado.

Just Like a Dream (Sandman)Onde histórias criam vida. Descubra agora