Cap. 22 Você ainda a deseja?

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Chloe

As irmãs do meu noivo realmente sabiam dar uma festa. Naquele dia, o castelo estava tão sombrio quanto sensual, com suas pilastras arredondadas cobrtas por arranjos de rosas vermelhas e brancas, além das estátuas gregas feitas de gelo e dos tecidos negros que formavam laços gigantestos no corrimão das escadas.

Logo que cheguei, com meu vestido preto rendado, percebi que os convidados não eram humanos, mas sim deuses antigos, sereias, anjos, e claro, o exorcista mais famoso dos Estados Unidos, John Constantine.

— Toda vez que eu te vejo, entendo porque fui abandonado em um sarau de bruxas. — Elegante em seu terno azul escuro alinhado, John parecia muito autoconfiante. Estendi a mão para comprimentá-lo.

— Oi John. Como você está? — Depois de recuperar a memória, eu me lembrava de como queria saber mais sobre ele e sua amizade com Sonho.

— Ele me disse que você se lembra de tudo!

— Sim. Eu me lembro de te procurar e de te encontrar naquela bachromm. — Um frio gelou a minha espinha ao lembrar de tudo aquilo.

— Bom, eu estou bem! — O exorcista levantou seu copo de conhaque e bebeu. — Graças a sua coragem!

— Tenho certeza que você faria o mesmo por mim!

— É... talvez!

— Não faria?! — O homem de cabelos pretos parecia enigmático, como se carregasse uma certa culpa.

— Eu fiz muito pouco pelos bruxos nos últimos tempos. Tinha uma visão muito negativa dos elementais como um todo.

— E eu mudei isso? — Tentei parecer amistosa.

— Sim, você me deu muito o que pensar feiticeira! — Ele terminou a bebida, colocando-a sobre a mesa, próxima a nós.

— Ele vai se casar comigo! — Contei despretensiosamente, mas sentindo meu coração acelerado.

— Casar? — John parecia incrédulo.

— Sonho me pediu para ser sua esposa.

— Chloe, você sabe o que isso significa, não sabe? — Essas palavras saíram da boca de John com tamanha cautela que despertaram uma tensão dentro de mim. Decidi pegar uma das taças com um dos garçons e tomar um gole de vinho, antes de responder.

— Significa que vamos morar juntos e construir uma família. — Era o que eu mais queria.

— Significa — ele começou, analítico — que alguém vai ter que abrir mão. Você por exemplo, tem o seu bar e sua comunidade de feiticeiros, mas Morpheus não é bem aceito entre eles. Por outro lado, um perpétuo tem muitas obrigações em seu reino e vive em outra dimensão do mundo humano. Ele não pode ficar o tempo todo no seu mundo ou o reino dele, tudo o que ele é, irá ruir.

A cada observação, o ar parecia mais pesado ao meu redor. O vestido de mangas, antes confortável, parecia mais quente e sufocante. Até aquele momento, eu tinha deixado de lado as complicações que envolviam nosso relacionamento, perante a alegria de ser novamente dele. Mas John estava certo.

Ele provavelmente percebeu o meu desespero, porque seu rosto se contraiu numa expressão dolorida, quase que refletindo a minha.

— Não posso pedir que ele abandone nada.

— Sim, você não pode! — John disse complacente, tirando a taça de vinho da minha mão e colocando-a sobre a mesa. — Sonho é mais que um ser divino, ele é a forma física de um aspecto elementar da humanidade. Um eco do perpétuo vazio, a reunião de tudo o que foi e ainda será, de todas as múltiplas realidades e de todo o potencial criativo, mutável, adaptável e tenaz do ser humano.

Just Like a Dream (Sandman)Onde histórias criam vida. Descubra agora