Capítulo 6 - Tão amargo!

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Quando escuto a porta do banheiro sendo aberta corro para a sala. Ben sai de lá nitidamente desconfortável. A blusa de time do meu pai que minha mãe havia lhe dado mostrava um pouco de sua barriga e a calça mostrava suas canelas. Haviam ficado curtas nele.

A cena é engraçada e dou um sorriso escondido. Ele ficou inacreditavelmente fofo assim.

— Ótimo, ficou quase perfeito. —minha mãe diz, percebendo o mesmo que eu.

— Haha tá parecendo que vai pescar siri.

Meu pai ri alto.

— Siri ?

O rapaz pergunta confuso.

— A culpa não é dele e sim sua que é um tampinha.
Solto um comentário irônico implicando com meu pai. Ele logo tira o sorriso da cara.

— Eu já te falei Moranguinha, eu estou na média do Brasil. Esse cara que é gigante. Parece um avatar.

Ele tenta se defender mas nitidamente seu orgulho está ferido.

— Chega de papo, venha tomar café!

O rapaz se senta à mesa quase que forçado pela minha mãe.
Corro para perto mas fico escondida atrás da parede ouvindo.

— Senhora eu agradeço sua generosidade mas não estou com fome.

Ao terminar de falar a barriga do rapaz ronca alto.
Ele a olha incrédulo, assustado pelo som que sairá dele mesmo.

— Não é o que parece. Coma um pouco. Afinal, logo terá que ir embora. Você gosta de café ?

O rapaz fica em silêncio — Nescau ?

— Eu não sei senhora.

— Não sabe se gosta de café ? Você nunca experimentou ?

Ele negou com a cabeça novamente

— Você toma leite ?

— Água! - Ele responde

— Água com pão ? você come pão né ?

Ele negou novamente com a cabeça

— Só fruta!

Minha mãe se espanta e eu também.

— Você só toma água e come fruta ? O tempo todo ? - Dessa vez ele afirma com a cabeça — De onde você vem ?

— É longe... Mas não tanto! Também é perto.

Meu Deus, ele é realmente maluco!!

— Ok, então eu vou te servir um pouco de café e você me diz se você gosta.

O rapaz se ajeita na cadeira e parece até animado. Acho que ele realmente está com fome.

Minha mãe bota em uma xícara o café e o serve. O rapaz pega imediatamente e dá um belo golpe.

Mas em seguida cospe um pouco do café e se engasga com o resto. Ele começa a tossir.

— O que houve ?

Minha mãe pergunta limpando com o pano os respingos de café na mesa.

— É amargo... E estava quente. Eu nunca havia provado tais coisas.

Isso é terrível!

— Morgana vem cá!

Saio de trás da parede, ajeito meu cabelo atrás da orelha e vou até eles.

— Faça um pouco de Nescau para o rapaz, ele aparentemente tem o paladar infantil igual ao seu.

Ela sai da cozinha levando a toalha de mesa suja de respingos para lavar deixando nós dois sozinhos.

Um presente do céuOnde histórias criam vida. Descubra agora