São 2:38 da madrugada quando acordo com meu celular tocando, era um número que não conheço. Penso em não atender mas uma certa preocupação pousa em mim.
— Alô!
— Morgana ?
— Sim, quem é ?
— Desculpe ligar nessa hora mas o Augusto está com você ?
Reconheci a voz como a da mãe de Gus. Fico em alerta.
— Não, porque ?
— Augusto está desde ontem sem aparecer em casa. Não temos notícias dele.
Sento na cama e sinto meu coração na tremer.
— O que aconteceu ? O que vocês fizeram com ele ?
Ela fica em silêncio por um instante.
— Se souber notícias me avise por favor.
E assim ela desliga.
Sem pensar duas vezes ligo para Gus.— Sua chamada será encaminhada para a caixa postal...
Droga, vejo o aplicativo de mensagens, as que mandei hoje de manhã ainda não haviam chegado. Sua última visualização já fazia bem mais de 24 horas. Tento ligar novamente, mas o mesmo acontece.
Levanto e vou até a porta de Ben, bati incansavelmente. Logo a porta se abre e o rapaz está com cara de sono.
— Gus está desaparecido.
O semblante de Ben muda, agora ele estava preocupado.
— Então vamos procurá- lo!
Meu pai e minha mãe nos levaram até o bairro de Gus de carro e lá nos dividimos. Eles por um lado e eu e Ben por outro. Ainda estava escuro então levamos lanternas, tentei diversas vezes ligar mas continua dando na caixa postal.
— Droga de celular, não serve pra nada!
Ameaço jogar o aparelho no chão, mas Ben me segura, ele me abraça forte e eu acabo chorando.
— E se ele fez besteira Ben ? Ela já pensou isso outra vez. Se acontecer algo com ele...
— Calma, achocolatado, ele tá bem. Logo vamos encontrá- lo. Tenha fé.
Meu celular toca. Era ele.
— Gus, o que aconteceu ? Onde você está ?
Espero um segundo e obtenho a resposta.
— Onde nós encontramos pela primeira vez!
Ele desliga, estava com a voz embarcada, acho que estava bêbado. Penso por um instante e sei onde o encontrar.
Ben vai comigo até a escola onde estudamos na adolescência, por sorte ela não fcava tão longe dali. O portão estava aberto e logo entrei procurando em cada canto.
Após alguns minutos o encontro sentado no chão com as costas encostadas na parede, as pernas estavam esticadas e sua cabeça estava caída, uma seringa vazia estava ao seu lado.
Meu coração antes agitado pela corrida agora estava desesperado, meu corpo era pura adrenalina. Corro para meu amigo imaginando o pior.
— Gus, você está bem ? Fala comigo. Gus!
Sacudi ele com força e seus olhos abriram.
Ben para ao meu lado.— Ben, pega aqui meu celular, liga para a ambulância, o número é 192.
Ele pega meu celular e faz o que pedi.
— Você me achou! É bom te ver!
Gus estava muito diferente, algo não estava certo.
— Gus, o que você fez ? Você se drogou ?
Ele botou o dedo indicador na boca me pedindo silêncio.
— Não conta para minha mãe.
— Achocolatado, não atendem.
— Como assim ? Continue tentando Ben.
— Sabe, essa é uma linda forma de partir, com meus amigos juntos.
— Você não vai partir Gus, não diga bobeira. O que aconteceu ?
— A mesma merda de sempre. Tá vendo essa mancha aqui ? — Com a pouca luz quase não havia percebido mas ele tinha uma mancha roxa no olho. — Meu pai deu uma de machão, segundo ele já é hora de eu virar homem, ele queria me apresentar a uma garota da igreja. Eu neguei dizendo que eu não gostava dessa fruta.
Ele dá uma risada alta, meu coração estava minúsculo. Nunca havia o visto assim.
— Gus...
— Eu mereço, eu sei mas o que mais me doeu foi minha mãe. Ela fcou ao lado dele, mesmo quando ele me expulsou de casa e disse que nunca mais queria ver minha cara de bixa novamente. A mulher que me botou no mundo não deixou sequer uma lágrima rolar. Aquela submissa de merda!
— Ainda não atenderam. — Ben andava de um lado para o outro nervos.
— Talvez seja um sinal de Deus. Eu não mereço salvação.
— Gus, cala a porra da sua boca! Seus pais são uns merdas mas isso não é novidade. Faz anos que coisas assim acontecem e eu sempre estou aqui. Agora nós temos o Ben também, nós somos um time , sua família. Lembra ?
— Morg, você falou um palavrão. Estou tão orgulhoso de você.
— Consegui. — Ben diz alto. — Já estão vindo.
— Ops, já é hora de partir.
Gus se levanta bambeando. E sai andando.
— Onde você vai ? Gus, onde está indo ?
— Você não vai me salvar hoje Morg, eu decreto oficialmente o meu fim.
Gus começa a correr loucamente, até uns segundos mal parava em pé. Ben e eu corremos atrás dele. Eu obviamente não consegui alcançá- lo mas Ben conseguiu.
Segurou ele pelo braço, mas Gus virou e lhe deu um soco no rosto. Ben caiu, me abaixei perto dele.
— Está bem ?
Ele acena com a cabeça mas sangue escorre de seus lábios.
— Carro! Ele está indo para o carro.
— Ele não pode dirigir nesse estado.
Ajudei Ben a se levantar e continuamos correndo. Meu coração parecia querer explodir, percebendo isso Ben segura minha mão e me puxa, me levando consigo.
Gus chega até o carro mas se embola com as chaves nos dando tempo para se aproximar mais. Ele entra no carro. Bato com força na janela mas ele não para , corro para o outro lado antes que ele saia de vez com o carro e consigo entrar. Ben estava do lado de fora, mas ao me ver entrando correu e entrou pela porta de trás.
— Morgana saia do carro, essa viagem é só minha.
Augusto está muito nervoso, era assustador vê-lo assim.
— Gus, para. Você vai bater o carro do seu pai.
— E acha que me importo com isso, eu quero mais que aquele velho se foda.
—Gus, as coisas não podem ser resolvidas assim. Vamos conversar. Tudo tem jeito. — Ben também tenta convence - lo.
— Ben, você é um pedaço de mal caminho, mas essa sua ingenuidade às vezes me tira do sério.
Ele acelera ainda mais o carro.
— Gus se você fizer isso irá nos machucar também.
— Eu disse para você sair, eu disse. Porra.
Lágrimas escorrem dos olhos dele. Minha cabeça lateja forte, Ben estava com os olhos arregalados pensando no que fazer. Gus abaixa a cabeça para secar os olhos na blusa.
— Gus, não!
Tento tomar o volante de sua mão, mas a última coisa que me lembro foi de escutar um barulho alto, como uma trovoada.
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Um presente do céu
FantasyMorgana é uma jovem tranquila, sua vida se baseia em ficar em casa com seu cachorro Scooby e fazer macarrão com carne moída. Tudo estava tranquilo, ela cumpria suas tarefas de casa e evitava ao máximo contato com estranhos. Uma verdadeira vida pacat...