Capítulo 32 - Alguém que cuida de você! (BEN)

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Porque meus dedos estão estranhos ? Eles sempre foram tão grandes assim ?

Me disperso dos pensamentos ao escutar um ronco não muito alto. Morgana havia dormido ali no chão mesmo.

Fico um tempo olhando ela dormindo, pensando se devia acordar lá, podia até mesmo ver uma babinha escorrendo no canto de sua boca.

Linda boca que ela tem por sinal.

— Ela é incrível até roncando né ?

Gus havia desligado a música e também estava sentado olhando a jovem que dormia no chão.

— Ela já contou como nós conhecemos ?

— Sim, você defendeu ela.

— Isso, mas tem muita coisa que você não sabe. Venho de uma família muito religiosa, sou o sétimo filho e todos meus irmãos mais velhos são homens. Meus pais queriam uma menina, mas minha mãe acabou engravidando de mim e no parto ela teve uma hemorragia, seu útero e ovários foram retirados logo ela não poderia engravidar mais. Ela e meu pai sempre me culparam, por isso e por ser "diferente". Enquanto meus irmão jogavam bola na rua eu só queria brincar de casinha com minhas primas. Por causa disso minha mãe nos afastou dos familiares, ela tinha vergonha que me vissem. Minha avó morava conosco, ela era a única que me tratava bem. Todos me humilhavam, meus irmãos, meus pais, vizinhos. Todos me chamavam de afeminado, de aberração. Minha mãe levou um pastor lá em casa uma vez para me orar, segundo ele o inimigo queria me levar para o caminho errado. Minha avó pois ele para correr. E disse na cara de todo mundo que não havia nada de errado comigo, os errados eram eles que viam maldade em uma pobre criança.

— Ela parece ser uma boa pessoa.

Augusto sorri triste e uma lágrima escorre de seus olhos.

— É, ela era muito legal. Faleceu quando eu tinha 12 anos. Quando eu estava entrando na pré - adolescência, estava tudo muito confuso. Ela ficou muito doente mas antes de partir disse para eu nunca acreditar nas coisas ruins que me diziam, que ela sabia do meu coração bom e que tinha muito orgulho de mim. Ela partiu nos meus braços. E tudo ficou ainda pior.

Mais lágrimas escorriam dos olhos do rapaz, pego um guardanapo que havia vindo junto a pizza e dou a ele.

— Obrigado. Eu sobrevivi até os 12 com a ajuda de minha avó, eu não sabia como fazer agora que não tinha mas ela. Estava planejando como tirar minha vida, até que um dia na escola eu vi uma multidão gritando, fui ver o que era e me deparei com uma garotinha fofinha encolhida na parede chorando enquanto outra garota mais velha chamava ela de coisas horríveis. Não pensei duas vezes e a defendi. Aquilo me rendeu 5 dias de suspensão, mas valeu a pena. A menina fofinha começou a me acompanhar a cada canto e perguntou se podia ser minha amiga. Eu tenho certeza que foi minha avó que botou Morgana na minha vida, ela é minha irmãzinha. Que sempre me acolhe quando preciso. Que bebe comigo mesmo odiando beber. Ela diz que a salvei aquele dia mas é ela que me salva todos os dias.

Augusto ri e não consigo evitar fazer o mesmo.

— Quando eu não estiver perto você tem que cuidar dela Ben. Ela é muito sensível, já enfrentou muita merda na vida.

— Não sei se posso cuidar dela Gus.

— Você já faz isso amigão. Fazia tempo que não via Morgana sorrir tanto, seu rosto está sempre corado e os olhos brilhando. Você é um cara sortudo mas tem que me prometer que não vai magoar ela. Promete ?

Olho para ela novamente, dormindo tranquilamente com um ronco muito fofo. Eu não sabia como, mas eu sentia que devia protegê-la.

A única coisa que eu sabia de fato é que era ela que me fazia estar vivo. E é assim que eu quero continuar, com ela e por ela.

— Prometo!

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