Capítulo 39 - Reaprendendo a viver!

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Tento abrir os olhos mas estão pesados, a claridade também não ajudava.

Escuto barulhos e percebo algo no meu nariz, tento levar a mão para tirar mas meu corpo todo dói. Gemo de dor.

— Filha não se mexe. Aldo chame o médico, Morgana acordou.

Estou sentada na cama ainda tentando assimilar o que me diziam. Tudo está turvo e meu corpo dói em todos os lugares possíveis.

— Consegue me ouvir ?

O médico parado a minha frente segurando uma prancheta falava comigo.

— Sim!

— Qual ultima coisa que se lembra ?

Boa pergunta doutor. Tento forçar a mente mas minha cabeça dói, faço cara de dor.

— Tudo bem, não se esforce demais.

Minha mãe estava ao meu lado segurando minha mão.

— Isso é normal, não se preocupe.

Vou explicar o que lhe aconteceu, você sofreu um acidente de carro, estava você e seu amigo Augusto quando o carro capotou.

Imagens vêm à minha mente e consigo me lembrar. O aparelho ao meu lado apita.

— Gus! Como ele está ?

— Calma querida, não se exalte.

— Augusto teve uma fratura na coluna cervical. — Meu coração acelera ainda mais. — Ele não poderá andar novamente.

Sinto uma dor terrível dessa vez no meu coração. Lágrimas escorrem sem que eu as controle.

— Ele fcará bem Moranguinha, só precisará reaprender a viver.

Meu pai também estava na sala, ele estava com os olhos inchados.

— Preciso vê- lo.

Tento levantar mas meu corpo está pesado e fico tonta, minha cabeça dói muito.

Meus pais me ajeitam na cama novamente.

— Fica quietinha filha!

— Você precisa de repouso Morgana. Seu estado requer cuidado. Você bateu a cabeça contra o pára brisa, tivemos que fazer uma cirurgia para parar uma hemorragia. Você ficou 7 dias em coma.

— Querida, você recebeu um milagre. Graças a Deus a ambulância que você chamou os encontrou no caminho. Se não fosse a rapidez do atendimento teríamos perdido você.

Tento assimilar tudo mas está difícil, eu havia ficado 7 dias em coma, quase havia morrido e porque não me lembro de chamar ambulância nenhuma.

— Eu não chamei uma ambulância.

— Chamou sim Moranguinha, há várias ligações feitas no seu celular.

— Eu não lembro, não poderia ter sido outra pessoa ?

— Gus estava completamente alucinado, ele não conseguiria ligar. E só tinham vocês dois no carro.

Algo não faz sentido, tento lembrar de todo jeito mas nada me vem à mente. Aparentemente estávamos só eu e ele lá.

— Esquecimento e confusão são coisas normais. Agora descanse um pouco e logo poderá ver Gus.

Dois dias se passaram e já conseguia caminhar com ajuda. Meus pais não saíram do meu lado. Tive que reaprender várias coisas. A como comer e até como tomar banho.

Além da hemorragia eu também estou com o braço esquerdo quebrado e algumas costelas fraturadas. Minha mãe me mostrou uma parte do meu cabelo que foi raspado. Decidi que assim que voltar para casa vou cortar bem curtinho. Vida nova, cabelo novo.

Minha cabeça ainda estava confusa, a sensação que eu havia esquecido de algo importante que estava lá.

Hoje finalmente eu poderia ver Gus. Minha mãe me pôs em uma cadeira de rodas e foi me empurrando até o quarto dele. Ao chegar na porta vejo que ele está acompanhado. Seu pai e sua mãe estavam à sua frente.

— Talvez devêssemos voltar depois.

— Não mãe, eu preciso saber o que vai acontecer. Se eles fizerem mal a ele de novo eu mesma acabo com eles.

Gus estava deitado na cama um lençol branco cobria suas pernas. Ele não olhava para os pais, seus olhos estavam voltados para a janela perto de sua cama.

— Augusto, como está se sentindo ?

Sua mãe o perguntou, sua voz parecia preocupada, já seu pai olhava fixo para o chão.

Ela não tem resposta.

— Augusto...

— O que fazem aqui ? Vieram me humilhar mais uma vez, agora eu não presto porque não posso andar!! É isso que vieram me dizer ?

Lágrimas rolaram no rosto de Gus.

— Augusto... Meu filho.

Lágrimas agora brotavam de sua mãe. Ela se ajoelha do lado da cama. Gus a olha incrédulo.

— O que está fazendo ?

— Me perdoe. Eu fui uma péssima mãe para você. Eu nunca estive ao seu lado. Sempre te culpei por motivos injustos. Meu casamento sempre foi infeliz, eu achava que uma filha mulher nos traria vitória, mas quando você nasceu e tudo aconteceu por algum motivo pareceu ser culpa sua. Mas não é, nunca foi. O fato de eu ser infeliz vem de muito tempo. Quando vi sua avó lhe tratando com amor me senti traída, achei que minha mãe estava contra mim mas era eu que estava contra todos. Fui submissa e maldosa, me perdoe meu filho.

Gus parecia tentar entender o que estava acontecendo.

—Augusto! —Dessa vez quem disse foi seu pai. — Eu tive uma infância difícil, comecei a trabalhar muito cedo, meus pais só me viam como mais um empregado da fazenda. Eu nunca recebi um abraço do meu falecido pai. Virei uma pessoa cruel e mesquinha. Só que eu não percebia isso, achava que por eu estar na igreja eu estava agradando a Deus. Mas do que adiantava estar dentro de uma igreja e fora dela tratar mal meu filho. Eu percebi isso quase que tarde demais. Quando vi o estado que o carro ficou pensei ter te perdido.

— O que aconteceu com você no passado não é culpa minha. Se você era infeliz como filho podia ter feito diferente com os seus.

Gus cuspiu as palavras, lágrimas ainda escorriam.

— Eu sei, eu sou totalmente culpado. Por isso, se você se sentir melhor pode dar um soco na minha cara.

O pai de Gus se aproxima dele esticando o rosto para frente.

— Bate Augusto, bate nesse seu velho ordinário.

A mãe ainda ajoelhada no chão chorava constantemente. Gus olhava o pai incrédulo.

— Eu não sou como você pai, muito menos como o vovô. Eu tenho orgulho de quem eu sou e faço questão de encerrar esse ciclo horrendo que vocês criaram.

Gus se estica puxando o braço do pai e assim o levando a um abraço.

Seu pai estava paralisado, não sabia o que fazer.

— De agora em diante, que nossa família só leve amor para o futuro..

O pai finalmente cede. O abraçando, ele chora alto junto ao seu filho.

— Me perdoe filho. Me perdoe.

A mãe agora em pé olhava tudo atentamente.

— Venha mãe, de agora em diante os abraços serão obrigatórios.

Foi lindo assistir aquela cena dos três abraçados.

Lágrimas, abraços e catarro.

Catarro ?

Minha mãe assoa o nariz alto, chamando a atenção da família para nós.

— Morg!

Gus me olha preocupado.

Ok, agora é minha vez.

Um presente do céuOnde histórias criam vida. Descubra agora