Após uns segundos constrangedores, Ben pega o pote novamente.
— Achocolatado, obrigado pela gororoba estava deliciosa.
Gus solta uma risadinha.
— O nome é macarrão com carne moída e por nada. Fico feliz que tenha gostado.
Sem perceber abro um sorriso orgulhoso dos meus dotes culinários serem finalmente reconhecidos.
— Aldo não irá se incomodar por ter me dado as roupas dele ?
— Não, depois que ganhou uns quilos essas roupas não servem mais .
Fique tranquilo.
— Obrigada, acho que devo ir embora agora, mas serei grato por toda eternidade.
Faz uma curva de agradecimento e começa a andar.
— Espera, para onde você vai ?
— Eu não sei. Talvez procurar ajuda médica.
— Então tu é maluco mesmo ?
Gus fica alerta.
— Não!
Ben responde confuso.
— Então por que ?
— Senhora Ivana me disse hoje de manhã. Então eu fui mesmo sem saber exatamente para onde ir.
Mas uma vez Gus e eu nós olhamos.
— Amigão senta aqui!
Augusto engrossa a voz o máximo que pode e guia Ben a se sentar em uma das poltronas.
— Da onde você veio ?
Gus defensor está na área. Vou apenas assistir.
— A explicação pode ser complicada.
— Não tem problema, se esforce para explicar que eu me esforço para entender.
Ben me olha pensativo, agarrado a sua vasilha de bolo parecia decidir quais palavras usar.
— Eu vim de um lugar distante.
— Então você se lembrou ?
Interfiro curiosa.
— Sim.
— E como se chama esse lugar ?
— Depende do que você acredita.
— E como chega lá ?
— Na verdade é uma longa jornada, uns vão mais cedo outros mais tarde. Depende do que está escrito.
— Ok... E você tem família? Pais ?
— Sim, nosso pai celestial.
— Ele tá falando de Deus ? — Gus me pergunta e faço que não sei.
Isso está cada vez mais confuso.
— Lá é completamente diferente daqui, não tem escuridão, não tem dor, não tem pecado.
Seus olhos pareciam brilhantes falando sobre o lugar, mas de repente ele ficou triste.
— Eu tinha meus deveres e amigos, mas quando possui certos conhecimentos fiquei confuso. Certas coisas pareciam irreais demais para mim. Comecei a questionar, eu não conseguia acreditar, não conseguia entender.
Ben se volta para mim e fixa o olhar no meu — Não pensem que sou ruim. Eu apenas não consigo entender como algo pode ser tão poderoso. Eu só achava injusto. Por que não eu ?
Ben, estava pensativo e parecia melancólico. Ele realmente não parecia ruim.
— O que é tão poderoso assim ?
Pergunto um tanto quanto curiosa mas não recebo resposta. Apenas um olhar que mais parecia querer me dizer algo só que não fui capaz de entender.
— Bom, eu juro que me esforcei pra te entender mas não consegui.
Então declaro que é melhor você ir embora mesmo.
Ben levanta sem contestar.
— Não espera. — Tampo o caminho para ele não passar e acabamos ficando muito perto um do outro. Tão perto que consegui sentir seu cheiro. Dei um passo para trás meio atordoada. — Eu sei bem como a vida é complicada, as vezes ficamos confusos e até mesmo perdidos.
Você não me parece alguém ruim, pelo contrário parece alguém que precisa de cuidado e de ajuda para encontrar seu caminho.
— Morg, eu não acho uma boa ideia.
— Gus, você sabe como a vida foi difícil para mim. Você me salvou quando eu mais precisava. A 15 anos atrás quando umas garotas me agrediram, você arrancou o aplique de uma delas e jogou longe. Depois disso virou meu protetor, você me acolheu e me acolhe todos os dias
desde então. Eu não vou deixar alguém que precisa de ajuda sozinho.
Eu vou ajudá- lo.
Gus me olha por uns segundos, eu sei que ele entende o que quero dizer.
— E seus pais ? Eles vão deixá- lo aqui ?
— Isso vai ser difícil mas eu tento, eu tenho que tentar.
— Morg, me diz que você quer só ajuda — lo mesmo.
Olho para Ben, os olhos puxados de cor agora castanhos, o cabelo preto liso jogado por cima da testa, a pintinha perto da boca. Eu sabia que o Gus se referia, era perigoso demais. Mas eu não me importava, não hoje.
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Um presente do céu
FantasyMorgana é uma jovem tranquila, sua vida se baseia em ficar em casa com seu cachorro Scooby e fazer macarrão com carne moída. Tudo estava tranquilo, ela cumpria suas tarefas de casa e evitava ao máximo contato com estranhos. Uma verdadeira vida pacat...