VI. Fantasma

455 35 14
                                    

Emily:

- Você tá bem? - o taxista perguntou, enquanto dirigia e me olhava preocupado pelo espelho retrovisor.

Enxuguei o nariz, que escorria junto com as lágrimas incessantes. Tremia e soluçava de perder o fôlego, preenchida por um pesar inevitável, afetada  pela queda brusca de emoções. Em um instante estava tão bem, aos braços de William, com ele tomando meu sangue e depois prestes a me beijar... e então o pânico, o medo, a terrível claustrofobia de me ver aprisionada adiante da visão de Alfred. Meu Deus, que merda o Alfred estava fazendo lá??

- Eu... eu tô bem... j-já vai passar. - tentei explicar, pegando uns lenços na bolsa e enxugando o rosto.

Ao ser deixada em casa, subi para meu apartamento com o coração em frangalhos. O que William iria pensar de mim? Eu sai correndo sem mais nem menos...

O pior, como explicaria? Não possuía seu contato. Eu não sabia seu endereço, somente sabia que era dono da Editora DarkWall e usava o pseudônimo Lars Nilsson.

Fui tomar banho mal aguentando com a minha própria existência. Uma tristeza austera, profunda e irredimível pairava minha alma, e não demorou para o velho ódio e repúdio também se fazer presente.

Sai do banho e fiz um curativo no pulso. Enquanto me enxugava, mexia no celular, pesquisando sobre a editora de William.

Encontrei o contato no website, no entanto, eu lembrei que ele havia dito que não usava e-mails, então era inútil. Pesquisei Lars Nilsson no google e achei informações muito superficiais, afinal se usava um pseudônimo, era justamente para se manter no anonimato. Ao pesquisar por "William Skarsgård", me deparei com alguns dados de sua família sueca, mas nada a seu respeito.

Talvez a solução seria esperar até terça-feira e reencontrá-lo na recepção do terapeuta.

Desistente,  me deitei exausta. Talvez por ter bebido muito, perdido sangue ou por ter chorado demais, acabei adormecendo rápido.

Acordei de manhã cedo com a luz do sol invadindo o quarto e ardendo através das pálpebras. Minha cabeça latejava.

Me levantei cambaleante e bebi um café forte. Independente da ressaca, me arrumei na força do ódio e enfrentei meus temores, decidida a fazer uma visita à Alfred. Eu precisava, de uma vez por todas, encarar esse desgraçado.

Eu precisava por um ponto final nisso.

Quando éramos casados, ele chegou a quebrar meu braço numa de nossas brigas. Foram inúmeras vezes que parei no hospital. Nosso relacionamento era caótico. Ele implantou o verdadeiro medo em mim, e no transcorrer de nosso matrimônio, eu era uma criatura letárgica e silenciosa, sob uma vida opressora, sem encontrar prazer e acolhimento em absolutamente nada.

O culpava pela morte de nosso bebê, pois após uma discussão apanhei nosso filho recém nascido, e realizei minha milésima tentativa de fuga, e dessa vez esperançosa pois tinha um motivo importante para me ver longe dele e sobreviver.

Sai com o carro e meu bebê, em alta velocidade, contudo o desgraçado foi atrás com o carro dele para me impedir. Após uma pequena perseguição, ocasionou um acidente proposital, o que resultou na morte do meu pequeno... Aquilo foi o fim.

Óbvio que não suportei, emocionalmente fraca, realizei uma decisiva tentativa de suicídio que resultou em um coma de dez dias, e infelizmente a minha volta para esse inferno de vida. Fiquei internada em clínica por dois anos, pois não estava apta a viver em sociedade nem forte o suficiente para lidar com minha saúde emocional.

Enfim, fazem seis anos que perdi meu bebê, e há seis anos Alfred continua me perseguindo... mesmo quando eu estava internada, eu o via me observando pela janela do quarto. Por que??

Obsessão de Sangue || Bill Skarsgård ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora