VII. Boa noite, minha criança

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William:

Quando estava com Emily no Club Gotham, ela me ofereceu o pulso cortado para provar seu sangue. Assim que o tomei, fui atingido por uma espécie de avalanche de sensações novas e incríveis.

O gosto férreo que preencheu meu paladar era indefinidamente superior ao que eu imaginava, extraordinariamente excitante e quente, nunca tive a chance de provar algo desse nível.

A cada gota que eu sorvia e a cada gole que eu dava parecia que encontrava nela tudo o que eu mais procurei em toda a vida, mesmo sem ter consciência e noção disso. E o resto se transformou em matéria distorcida porque só o sangue de Emily fazia sentido e me trazia sentido. Nossa, como era bom... Como me enlouqueceu! Eu precisava beijá-la. Precisava tomá-la, inteira. Não só o sangue, mas por completo para mim.

Porém, algo a assustou. Como se visse uma assombração, ficou pálida, sem ar. Algo que viu na penumbra, perto de nós, a fez correr. Tentei alcançar e perdi de vista na multidão. Confuso, chamei pelo seu nome e procurei pela boate, mas era certeza que havia partido.

Me perguntava o que teria acontecido. Eu estava em um ápice, e de repente meu ápice foi interrompido... A queda me desnorteou, foi um despertar horrível. Sozinho e sem mais o que fazer naquele lugar, decidi ir embora. Cogitei ir até sua casa, afinal eu sabia o endereço. Mas não queria ser invasivo. Talvez fosse melhor esperar.

No caminho para minha casa dentro do Uber, fechava os olhos e me deixava levar pelo prazer de ter vestígios do sangue de Emily em minha boca... de repente, me pareceu que nada teria o mesmo sabor. Qualquer outro sangue que eu provasse, seria por completo insípido perante a potência do sabor dela. E eu precisava de mais... precisava urgente, porque Emily despertou um instinto até então desconhecido.

Eu reconhecia que em mim existia um ser bestial adormecido. E ela o fez acordar.

Ao chegar, caminhei pela trilha cheia de ramos, espinhos e raízes altas do jardim selvagem de entrada da minha casa, com os pensamentos longe.

Entrei, retirei o sobretudo e coloquei no bengaleiro. Nessa hora senti um cheiro incômodo prevalecendo no interior da mansão, que logo identifiquei ser algo queimando. Ergui o nariz e me coloquei em alerta. Ouvi o relógio na parede, marcava três da madrugada. O cheiro vinha do escritório.

Corri e invadi o escritório me deparando com Marília sentada adiante da lareira acesa, colocando fogo na pasta de Emily! Todos os arquivos e fotos que o detetive me entregara, sendo queimado!

- Não! - pulei sobre ela e a tirei de perto das chamas, tentei salvar alguns papéis pisando com a sola do sapato. Era inútil, as labaredas quentes engoliam as fotografias. - O que você fez??

Marília ficou emburrada sentada no carpete, perto do amontoado de lenhas. Cruzou os braços igual criança, criando um bico enorme com os lábios. Observei desanimado as informações com o endereço e número do celular de Emily, viraram cinzas. Como eu teria contato com ela novamente?

- Marília não gosta da Emily! - vociferou se explicando. - Senhor Skarsgård é da Marília! Não da Emily!!

Revirei os olhos, tentando manter a paciência intacta. Adentrei os dedos nos meus fios de cabelo e me sentei ao carpete à sua frente.

- Se machucou? Não se queimou?

- Marília não se machucou mas vai machucar Emily se ela chegar perto do senhor!

- Pára com isso. - pedi, a analisando. Procurei a acalmar para que não entrasse em crise de choro (essas crises eram insuportáveis de lidar) me aproximei e passei um braço ao redor de seu corpo esguio, trazendo para junto. - Você me deu um susto.

Obsessão de Sangue || Bill Skarsgård ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora