XIX. A Pior das Criaturas

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William:

Eu segurava o cadáver de Emily nos meus braços, sua pele estava mais que pálida, estava desbotada e úmida. Uma fina garoa peneirava sobre nós. Repousei-a na terra ao meu jardim, do lado da cova. Ao aliviar o peso dos braços, deitei a testa no peito sem pulso e derramei um pranto interminável. E então veio o grito... um grito enferrujado, agudo, profundo, rompendo meu crânio e me despertando do pesadelo.

Me sentei à cama com o pescoço encharcado de suor. O coração saltava como cavalos numa corrida. Me coloquei de pé aos tropeços e olhei ao redor buscando por ela... não estava lá. De olhos bem abertos e devastado por uma terrível intuição, subi a calça e fechei o zíper. Me retirei do cômodo o mais rápido que pude e desci as escadas para o andar inferior.

Reconheci o grito que me despertou bruscamente, veio da voz infantil de Marília... era óbvio que elas haviam se encontrado. Como fui idiota de pegar no sono e permitir que Emily saísse do quarto, andasse pela residência. Meus passos eram movidos pelo horror, que alcançava o ápice enquanto eu identificava barulho de briga e grunhidos de ódio. Vinham da cozinha.

Ao virar derrapando na cozinha, me defrontei com Emily desacordada ao pavimento. Marília estava em cima dela, os braços esticados e as mãos bem firmes esmagando o pescoço. Me transformei em uma estátua imóvel e muda por alguns segundos me recordando do pesadelo.

No instante seguinte, ao me recuperar do estado catatônico do medo, corri em direção às duas.

- NÃO!! - berrei alcançando Marília.

Agarrei por trás e arranquei de cima de Emily. O corpo veio como uma pluma, a ergui furioso com duas mãos pela cintura, dando impulso com uma força descomunal que não sei de onde surgiu. Joguei-a para o outro lado da cozinha. Marília voou e topou com o chão, escorregando até as costas encontrarem com a parede.

Prontamente me agachei ao lado de Emily. Eu tremia tanto de nervoso que minha mão vacilava ao tocar o rosto arredondado. Dei-me conta que ela sangrava e meu pânico dilatou, se fosse possível. Uma faca com a lâmina ensanguentada jazia ao lado do corpo inerte.

- O QUE... O QUE VOCÊ FEZ??? - berrei para Marília, erguendo meus olhos turvos por lágrimas.

Marília estava abraçada nas próprias pernas, contra a parede. Tremia também, chorava como uma criança amedrontada, escondendo o rosto atrás do joelho.

- MARÍLIA MATOU EMILY!! - respondeu com toda a sua fúria, a voz perdendo entonação. Apesar de extremamente enraivecida, estava perturbada.

Engoli um aglomerado indescritível de lágrimas, rancor e pavor, me levantei e a passos duros, alcancei Marília. Ela me olhou com medo. Peguei-a pelos cabelos, fazendo se levantar. Ao sentir o couro cabeludo arder ao ser puxada pra cima, agarrou meu punho e protestou, se debatendo. Eu não afrouxei o aperto. Arrastei para fora da cozinha.

Marília começou a espernear, gritar e fazer impulso para baixo. Seus fios loiros se partiam nos meus dedos. Joguei-a com violência contra o chão do corredor e ela soluçou hostilizada, apavorada com um pranto enlouquecido que me fez querer matá-la. Nunca quis machucar Marília. Porém, àquelas circunstâncias, eu poderia destruí-la facilmente, meu ódio era incontrolável e todo meu juízo foi tragado pro inferno.

- Não!! - clamou, jogada ao chão, rastejando para longe, em um desespero surreal. - Não!! Por favor, senhor Skarsgård, perdoe a Marília!!

Obsessão de Sangue || Bill Skarsgård ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora